




Capítulo 1: O retorno
Isla nunca planejou ver Greenridge novamente. Ela havia jurado que nunca mais voltaria naquela noite em que colocou sua vida em duas malas surradas e embarcou em um ônibus com destino a qualquer lugar que não fosse ali. Dez anos atrás, ela viu a cidade desaparecer através de uma janela rachada, suas luzes de rua piscando como velhos fantasmas na névoa. Naquela época, ela prometeu a si mesma que nunca seria a garota que voltaria atrás.
Mas aqui estava ela. Parada no portão da casa da avó, com as mesmas dobradiças enferrujadas, o mesmo rangido de protesto quando o empurrou para abrir. O ar da noite pressionava quente contra sua pele, pegajoso com a promessa de chuva. Um vento suave agitava a hera que se agarrava às colunas da varanda da velha casa, puxando a barra do seu casaco como se dissesse bem-vinda de volta — ou talvez nem se incomode.
As botas de Isla rangiam sobre o caminho de cascalho. Ela parou quando chegou aos degraus da varanda, seus olhos percorrendo o tapete de boas-vindas desbotado e a tinta lascada no corrimão. Ela havia passado os verões aqui quando criança, seguindo a avó Ruth com uma cesta cheia de lírios que elas colhiam do jardim. A risada de Ruth preenchia este quintal. Agora parecia que o jardim prendia a respiração, esperando que alguém se lembrasse do que costumava ser.
Ela subiu os degraus lentamente, sua mala batendo atrás dela. A chave — ainda escondida no velho vaso de flores azul — deslizou facilmente na fechadura. Dentro, a casa exalava uma corrente de ar viciado, sachês de lavanda e o leve traço do sabonete de rosas que Ruth sempre mantinha no banheiro do andar de cima.
Ela acendeu a luz do corredor. Nada aconteceu. Ela murmurou um palavrão e encontrou uma lâmpada empoeirada na sala de estar, coaxando seu brilho quente à vida. A sala parecia a mesma: cadeiras descombinadas, um cobertor de crochê drapeado sobre o braço do sofá, pilhas de revistas antigas na mesa de centro. O tempo havia pausado aqui no momento em que Ruth se afastou silenciosamente, deixando Isla como a herdeira relutante de uma casa que ela nunca quis herdar.
Ela colocou sua mala ao lado do sofá e se moveu mais para dentro. Grãos de poeira dançavam na luz da lâmpada. O silêncio era espesso, a quietude viva com as memórias que ela havia uma vez escondido em caixas e guardado no fundo de sua mente. Na prateleira acima da lareira, as velhas fotos da família ainda estavam inclinadas em filas tortas — Ruth e o avô Thomas em suas roupas de casamento, sua mãe quando jovem em um balanço, Isla aos dez anos, sorrindo, um lírio atrás da orelha.
A respiração de Isla ficou presa quando ela viu — não a foto, mas o que estava embaixo dela. Um único lírio, branco brilhante, em um pote de vidro meio cheio de água clara. A flor estava incrivelmente fresca, suas pétalas lisas e sem manchas. Parecia que alguém a havia colocado lá apenas alguns minutos atrás.
Ela estendeu a mão para pegar, as pontas dos dedos roçando o vidro frio. Quem deixaria um lírio para ela? Seu peito apertou em torno de uma memória que ela não pretendia encontrar esta noite: as mãos de Jonas enterradas no solo do jardim, sua voz suave contra seu ouvido — Lírios são teimosos, Isla. Como você.
Ela se virou abruptamente da prateleira, empurrando aquele pensamento para a escuridão. Ela se moveu para a cozinha, acendendo outra lâmpada. A velha chaleira estava no fogão, a mesma chaleira que gritava todas as manhãs de todos os verões que ela passou aqui. Ela encheu a chaleira até a metade, observando a água girar. Ela não queria chá, mas precisava do ritual — algo familiar para manter suas mãos ocupadas e sua mente quieta.
Quando a chaleira começou a chiar, Isla foi até a porta dos fundos. Ela afastou a cortina desbotada e espiou para fora. O jardim estava pior do que ela esperava — uma bagunça selvagem e emaranhada de ervas daninhas e silvas sufocando o que restava dos lírios. A treliça inclinava-se sob o peso da hera, sua estrutura de madeira rachada em alguns pontos. Mas mesmo através da ruína, ela podia vê-los — flores teimosas surgindo através do descuido, brancas e desafiadoras.
Ela fez seu chá, levando-o de volta para a sala onde se encolheu no canto do sofá. O velho cobertor cheirava levemente a naftalina e lavanda. Ela o puxou ao redor dos ombros, olhando para o lírio na prateleira. O vapor da sua caneca embaçou seus óculos, então ela os colocou de lado sem tocar.
Uma tábua do chão rangeu em algum lugar no corredor. Ela disse a si mesma que era a casa se acomodando, a madeira encolhendo na umidade da noite. Mas ela se pegou olhando para a prateleira novamente, perguntando se o lírio sempre estivera lá, ou se alguém — Jonas? — o havia colocado para ela encontrar.
Ela pensou nele, embora não quisesse. Pensou na maneira como ele disse seu nome da última vez que conversaram, sua voz rouca de uma briga que não era realmente sobre ele. Pensou em como ele a viu partir sem correr atrás dela, porque ele sabia, mesmo então, que Isla Cross não ficava em lugar nenhum por ninguém.
Um toque suave a tirou de seus pensamentos — o chiado da chaleira havia parado. Ela se levantou para preparar outra xícara que não beberia, o relógio na parede marcando as horas alto demais acima de sua cabeça.
Ela viu seu reflexo na janela escura sobre a pia: olhos cansados, cabelo úmido enrolando nas têmporas, a sombra mais tênue da garota que costumava ser. Por um momento, ela pensou ver um movimento atrás de si — uma forma cruzando o corredor, silenciosa como um sopro. Ela se virou, a caneca escorregando de seus dedos e quebrando no chão.
Nada ali. Apenas sombras. Apenas a sala vazia.
Ela riu de si mesma, o som fino e pouco convincente. Ela se ajoelhou para pegar os pedaços quebrados, o chá se espalhando em um halo marrom pelo velho linóleo. Quando se levantou novamente, forçou-se a ignorar o jeito que seu coração batia forte em seus ouvidos.
Ela desligou a lâmpada na cozinha, depois a da sala. A escuridão engoliu os cantos da casa. Apenas a luz do corredor acima da prateleira permaneceu acesa — piscando uma vez, duas — antes de apagar com um leve estalo.
Isla olhou para o lírio na escuridão repentina. Parecia brilhar na ausência de luz. Ela deu um passo mais perto, atraída apesar de si mesma.
Uma tábua do chão rangeu novamente. Ela congelou. Lá fora, o vento fazia a cadeira de balanço da varanda bater contra o corrimão. O portão — o portão que ela havia fechado atrás de si — rangeu ao abrir.
Ela ficou na janela, espiando pela fresta da cortina. A luz da lua pintava o jardim da frente de prata. No degrau inferior da varanda estava outro lírio, este amarrado com uma fina fita vermelha que tremulava na brisa.
Ela pressionou a palma contra o vidro frio, o coração batendo forte. Uma forma se moveu além da cerca — uma figura sombreada demais para ser nomeada, parada exatamente onde a luz da varanda não alcançava.
Quando os olhos de Isla encontraram a escuridão, a figura se virou — e o portão se abriu novamente.