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Instintos

𝓐𝓼𝓽𝓻𝓲𝓭 𝓟𝓞𝓥

Eu entrei na escola naquela manhã, totalmente comprometida a ignorar Jason. Nem era tão difícil – eu tinha muitas outras coisas para me irritar.

Por que minha vida não podia ser normal?

Primeiro, eu não tinha ideia de quem eram meus pais verdadeiros. Mortos ou vivos? Não faço ideia. Depois teve toda aquela paixão embaraçosa por Jason antigamente, que, felizmente, desapareceu. E justo quando eu pensava que a vida não podia ficar mais estranha, boom – ele tem um irmão mais velho e gato.

E agora? Lobisomens. Matilhas. O que vem depois? Aliens?

Suspirei, balançando a cabeça enquanto caminhava pelo corredor. Mas, quando virei a esquina, algo veio voando em minha direção a toda velocidade.

Sem pensar, minha mão se levantou e eu o peguei no ar. Uma lata de refrigerante – ainda fechada.

Pisquei. Que diabos?

Então ouvi o escárnio irritante.

"Sério?" murmurei, olhando para cima e encontrando Bianca parada ali com seu séquito habitual.

Ela revirou os olhos. "Oh, olha só, a órfã tem reflexos. Acho que crescer sem uma família de verdade te deu instintos animais."

Seus pequenos minions riram como hienas treinadas, e eu senti meu corpo inteiro ficar rígido.

Órfã.

Eu não dava a mínima para o que Bianca pensava de mim, mas aquela palavra – sempre tocava um nervo.

Respirei fundo, tentando controlar a raiva que subia no meu peito. Apertei a lata de refrigerante na mão, forçando-me a ficar calma. Mas, no momento em que meus dedos se apertaram, o metal se esmagou com um estalo agudo e sibilante. Líquido jorrou entre meus dedos, derramando no chão.

O riso de Bianca cessou.

Eu nem estava mais olhando para ela. Meu olhar estava fixo no chão, na bagunça escorrendo da minha mão, no jeito que meu pulso batia rápido demais, forte demais.

Eu estava perdendo o controle.

Então, tão rápido quanto a raiva veio, ela desapareceu.

Porque alguém se colocou na minha frente.

Um peito largo. Um cheiro limpo e fresco que não pertencia a esse corredor sujo.

Killian.

Levantei a cabeça em choque. Ele estava ali, alto e calmo, mas havia algo afiado em seus olhos verdes quando olhou para Bianca. Algo perigoso.

E, assim, minha raiva se foi.

𝓚𝓲𝓵𝓵𝓲𝓪𝓷 𝓟𝓞𝓥

Eu não tinha intenção de passar pelo corredor. Estava a caminho de outro lugar, cuidando da minha vida – até que meus sentidos captaram algo estranho.

Um batimento cardíaco agudo e errático.

O batimento cardíaco de Astrid.

Então ouvi sua voz, cheia de irritação, seguida por outra – doce e venenosa. Bianca.

Virei a cabeça a tempo de ver o momento em que Astrid esmagou a lata de refrigerante em sua mão. Ela colapsou como se fosse feita de papel, espalhando seu conteúdo por todos os lados.

Ela não estava apenas com raiva.

Ela estava à beira de perder o controle.

Eu nem pensei duas vezes. Meus pés se moveram antes que minha mente acompanhasse, e em segundos, eu estava lá, me colocando na frente dela.

O corredor caiu em um silêncio atordoado.

Sussurros começaram.

"Quem é ele?"

"Ele é gato. Está defendendo ela?"

"Espera, ele parece o Jason –"

Ignorei todos eles, meu olhar fixo em Bianca, que ainda estava ali com os braços cruzados, os lábios curvados naquele sorrisinho presunçoso.

Dei um passo lento em direção a ela, observando enquanto a confiança em seus olhos vacilava um pouco.

"Escute bem," eu disse, minha voz calma, mas afiada o suficiente para cortar o ar. "Eu não sou como meu irmão. Eu não brinco de ser bonzinho. E ninguém –" meus olhos brilharam perigosamente, "toca no que é meu."

As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse sequer pensar nelas, mas não as retirei.

Astrid estava me olhando agora, de olhos arregalados, mas eu ainda não me importava.

Voltei para ela, gentilmente tirando a lata esmagada de seus dedos, então me virei e joguei aos pés de Bianca. "Limpe sua bagunça," murmurei antes de levar Astrid embora.

Ela não resistiu. Apenas seguiu.

Levei-a para uma sala de aula vazia – a sala de música. Estava quieta, pacífica, com traços leves de melodias passadas pairando no ar.

No momento em que a porta se fechou atrás de nós, ela soltou um suspiro trêmulo.

Então, sua cabeça caiu, seus ombros tremeram, e antes que eu percebesse, ela estava chorando.

"Eu a odeio," ela sussurrou, a voz carregada de emoção. "Eu odeio que ela possa dizer o que quiser e eu só tenho que aceitar."

Eu fiquei ali, observando os punhos dela se fecharem ao lado do corpo, a respiração vindo em rajadas irregulares. "Eu queria despedaçá-la," ela admitiu, a voz quebrando. "Juro, Killian, eu queria—"

Eu a puxei antes que ela pudesse terminar.

Sua cabeça descansou contra meu peito, o corpo inteiro tremendo. Eu não tinha certeza se ela sequer percebia que estava agarrando minha camisa, segurando como se fosse a única coisa que a impedia de desmoronar.

Eu acariciei suas costas, devagar e constante. "Você não precisa explicar," murmurei. "Eu entendo."

E eu entendia.

Mais do que ela sabia.

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Eu estava voltando do treino, minha mochila de ginástica jogada sobre o ombro, quando passei pela sala de música.

Eu nem estava prestando atenção a princípio—só caminhando, pronto para pegar minhas coisas e ir para a aula. Mas então, pelo canto do olho, vi algo que me fez parar.

Killian.

Abraçando Astrid.

Minha mão apertou a alça da mochila. Que diabos eu estava vendo? Astrid, a mesma garota que sempre tinha algo a dizer, que revirava os olhos para tudo, estava ali... simplesmente deixando ele abraçá-la?

Eu estava prestes a entrar, exigir saber o que estava acontecendo, quando o barulho no corredor me puxou de volta.

Virei a cabeça e vi Bianca parada ali, os saltos ensopados de refrigerante, uma lata esmagada aos seus pés.

Ela me viu e imediatamente bufou. "Ah, olha quem finalmente aparece."

Eu franzi a testa. "O que aconteceu?"

Bianca bufou, jogando o cabelo sobre o ombro. "Sua amiguinha teve um ataque. Tudo o que eu fiz foi conversar um pouco com ela, e ela esmagou essa lata como uma lunática." Ela apontou para os sapatos. "Eu juro, ela é insana."

Eu cerrei o maxilar. Astrid tinha esmagado aquela lata?

"E outra coisa," Bianca disparou, cruzando os braços. "Por que diabos você não me contou que tinha um irmão?"

Ah não, de novo não.

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Eu me afastei de Killian, limpando o rosto enquanto expirava. "Desculpa por esse comportamento... infantil."

Killian riu, balançando a cabeça. "Tá tudo bem. Estou aqui para você."

Eu olhei para ele, realmente olhei para ele. Ele era diferente de Jason. Onde Jason era todo hesitação e estranheza, Killian era firme, inabalável. Eu apreciava isso.

"Obrigada," eu disse, sentando ao lado dele.

Ele se recostou, braços estendidos sobre o banco. "Eu vi o que você fez com aquela lata," ele disse casualmente. "Se eu não tivesse interferido, você teria despedaçado Bianca, não teria?"

Eu ri. "Talvez."

Ele sorriu. "Você já pensou que há uma razão para você poder fazer isso?"

Eu franzi a testa. "O que você quer dizer?"

Killian levantou uma sobrancelha. "Seus reflexos, sua força. A maneira como você pegou aquela lata no ar sem nem pensar? Isso não é normal."

Eu o dispensei. "Eu só tenho bons instintos."

Ele murmurou. "Talvez."

Eu o olhei, a curiosidade crescendo. "Certo, Sr. Alfa. Como é?"

Killian sorriu. "Como é o quê?"

"Ser um lobisomem ou seja lá o que for," eu disse, cruzando os braços.

Ele riu. "Sentidos aguçados. Reflexos intensificados. Força além dos limites humanos. A lua cheia torna tudo mais intenso—parece fogo nas veias, energia impossível de conter. E claro, a transformação."

Eu o encarei. "Então, você se transforma em um cachorro gigante?"

Killian me olhou com uma expressão desapontada. "Um lobo," ele corrigiu.

Eu ri. "Certo. Um lobo."

Ele inclinou a cabeça. "Você não acredita em mim."

"Nem um pouco," eu admiti com um sorriso.

A expressão de Killian mudou. Aquele divertimento arrogante desapareceu, substituído por algo mais. Ele me olhou com uma calma inquietante, o tipo de olhar que me deu um arrepio na espinha. Um pequeno, sabendo sorriso brincou em seus lábios.

"Você vai voltar para mim," ele disse.

Eu revirei os olhos. "Claro, grandão. O que você disser."

Ainda assim, algo na maneira como ele disse isso fez meu estômago revirar.

Eu me levantei, esticando os braços. "Você é legal, no entanto," eu disse, tocando seu ombro. "Jason realmente me prejudicou ao não me contar sobre você."

Killian apenas sorriu.

"Obrigada novamente," eu acrescentei antes de sair pela porta.

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