




Capítulo 2: Eu sou um espaço reservado
Passos ecoaram descendo as escadas. Rapidamente enxuguei meu rosto com a parte de trás da mão e me virei para a pia da cozinha, fingindo lavar a bandeja vazia.
"Você ainda está acordada?" Darrell apareceu na porta.
Seu cabelo estava perfeitamente arrumado. O perfume de musgo âmbar que eu comprei para ele no aniversário encheu a cozinha. Ele usava a camisa preta que eu dei no último Natal – aquela que ele dizia ser "muito chique para usar no dia a dia".
Negócios da alcateia exigem perfume de grife e sua melhor camisa?
"Não consegui dormir." Virei-me, forçando um sorriso. "Você está todo arrumado."
Ele ajustou a gola. "Emergência da alcateia. Preciso sair."
"Agora? Já é quase meia-noite."
"Liderança não segue horário, Sable." Seus olhos continuavam a se desviar para a porta da frente. "Você deveria descansar."
Aproximei-me, estendendo a mão para ele. "Não pode esperar? Fica comigo esta noite?"
Ele recuou ligeiramente. "Sable, não seja infantil. Isso é importante."
"Que tipo de emergência?" Inclinei a cabeça, tentando manter a voz leve. "Ou você vai encontrar alguma garota?"
A pergunta era para soar brincalhona, mas seu rosto ficou rígido.
"Qual é o seu problema?"
O veneno na voz dele me fez recuar. Ele puxou a mão para longe da minha como se meu toque o queimasse.
"Eu estava só brincando—"
"Isso não é engraçado!" Sua voz ficou gelada. "Por que você está sendo tão paranoica?"
"Darrell, eu não quis—"
"Estou indo embora." Ele se virou para a porta. "Não me espere acordada."
A porta da frente bateu com tanta força que as janelas tremeram. Eu fiquei congelada na cozinha, minha mão ainda suspensa no ar onde a dele esteve.
Ele vai buscar Camila. Eu vi as mensagens deles.
Mas vê-lo sair tão ansioso para estar com outra mulher parecia tortura. Depois de vinte minutos andando pela casa vazia, não aguentei mais. Peguei minhas chaves.
Preciso ver isso com meus próprios olhos.
Em vez de ir direto para o aeroporto, Darrell parou primeiro no bar Lua Prateada. Uma onda de alívio me inundou – ele não estava correndo para os braços dela imediatamente. Talvez ele precisasse de coragem líquida, ou talvez estivesse tendo dúvidas.
Pelas janelas, eu podia vê-lo em uma mesa de canto com Marcus, Jake e Tommy de seu círculo íntimo.
Entrei discretamente e escolhi uma cabine nos fundos, escondida atrás de uma coluna decorativa. A iluminação estava suficientemente baixa para que eles não me notassem, a menos que procurassem ativamente.
Darrell acendeu um cigarro, seu rosto tenso na chama tremeluzente.
"Então Camila está realmente voltando?" Marcus se inclinou para frente.
Meu estômago revirou.
"Sim." Darrell deu uma longa tragada. "O voo dela chega em duas horas."
"E a Sable?" Jake perguntou.
A expressão de Darrell não mudou. "O que tem ela?"
O desprezo casual em seu tom cortou mais fundo do que qualquer faca poderia.
"Cara, você está com ela há três anos," Tommy disse. "Você não pode simplesmente—"
"Ela sempre foi temporária." Darrell jogou cinzas no cinzeiro. "Nunca prometi para ela para sempre."
"Certo, porque ela é só a substituta," Marcus riu. "Você a encontrou porque ela se parece com Camila."
"A semelhança foi o que chamou minha atenção." A voz de Darrell permaneceu completamente impassível. "Eu estive procurando pedaços de Camila nela esse tempo todo."
Minha visão ficou turva. Cada palavra arrancava mais um pedaço da fantasia que eu estava vivendo.
"Então ela tem sido basicamente um tapa-buracos," disse Jake. "A pobre provavelmente acha que você está apaixonado por ela."
"Sable é útil," Darrell deu de ombros. "Ela é obediente, nunca reclama, ótima na cama. Desde que ela se mudou, não preciso me preocupar com cozinhar ou limpar."
Os homens riram, e o som fez minha pele arrepiar.
"Jesus, você transformou ela em uma empregada com benefícios," Tommy riu.
"Basicamente. Ela cuida de todas as coisas domésticas, e quando preciso desestressar..." Darrell fez um gesto grosseiro que levou a mesa a mais uma rodada de risadas.
"O que acontece quando Camila quiser que você escolha?" Marcus perguntou.
"Sable não será um problema. Ela não tem para onde ir." Darrell apagou seu cigarro. "E vamos ser sinceros – lobas são criaturas práticas. Ela não vai abandonar o estilo de vida que eu proporciono."
"Verdade. Ela provavelmente está muito apegada ao dinheiro e ao conforto para ir embora," Jake assentiu. "Essas garotas sempre estão."
"Além disso, ela é tão devota," Tommy acrescentou. "Compre algumas flores, peça desculpas por estar distante, e ela perdoa qualquer coisa. Esse tipo é fácil de controlar."
Darrell se levantou e jogou algumas notas na mesa. "Devo ir para o aeroporto em breve. Não quero me atrasar."
"Boa sorte, cara. Espero que o reencontro seja bom."
"Eu já sei o que quero."
As palavras me seguiram enquanto eu saía cambaleando do bar. O vento frio do rio chicoteava meu cabelo, carregando o cheiro de água e decomposição. Caminhei até a grade e segurei o metal até meus nós dos dedos ficarem brancos.
Cada vez que ele olhava para mim, ele via o rosto dela.
Cada "eu te amo" era destinado a outra pessoa.
Eu estive vivendo na sombra de outra mulher esse tempo todo.
Pressionei minhas mãos contra o peito, tentando aliviar o peso esmagador ali.
Eu não podia ficar. Não depois de descobrir que eu não era mais do que uma substituta conveniente.
Meu telefone parecia pesado em minhas mãos enquanto eu rolava até um número que não ligava há meses. O telefone tocou duas vezes antes de uma voz familiar atender.
"Sable?"
"Pai." Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. "Quero voltar para casa."
O silêncio se estendeu entre nós. Quando ele falou novamente, sua voz carregava anos de mágoa e esperança.
"O que aconteceu?"
"Nada aconteceu. Eu só... estou cansada de brincar de casinha." Olhei para meu reflexo na água escura. "Quero aceitar o acordo com Caelan."
"Sable—"
"Eu estava errada em lutar contra isso. Eu era jovem e estúpida e achava que sabia melhor. Eu deveria ter escutado."
"Você não precisa se explicar para mim." Sua voz ficou suave. "Você é minha filha. Nunca deixei de te amar, não importa o quanto eu estivesse zangado."
As lágrimas ameaçaram novamente, mas eu as pisquei para longe. "Vou resolver as coisas aqui e voltar para Blackwood em breve."
"Leve o tempo que precisar. A oferta ainda está de pé – sempre esteve."
"Obrigada, pai."
"Sable?" Ele hesitou. "Seja o que for que te levou a tomar essa decisão... estou feliz que você está voltando para casa."
Depois de desligar, sentei-me à beira do rio. Dez minutos depois, meu telefone vibrou com uma mensagem recebida. O nome na tela fez meu coração pular: Caelan Blackwood.
"A cerimônia está marcada para o próximo mês. Estou voando para Moonridge amanhã."