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Capítulo 9 Anjo da Guarda

POV de Amelia:

Meu coração despencou. De todos os pesadelos que eu imaginei quando segui esse caminho – o casamento falso com Luke, o trabalho noturno secreto, a corrida desesperada para terminar meu diploma – de alguma forma eu havia esquecido da variável mais volátil na minha equação: George Wilson e seu vício em cocaína.

"Estarei lá em quinze minutos," eu disse, já pegando meu casaco. "Tente evitar que a segurança chame a polícia. Ele está em liberdade condicional."

A corrida até o Ivy Club foi um borrão de luzes neon e pensamentos acelerados.

Dentro do clube, a voz do meu pai – aquela terrível voz alimentada pela cocaína que eu lembrava da infância – cortou a atmosfera refinada como uma garrafa quebrada através da seda.

George Wilson estava na recepção, seu rosto outrora bonito devastado por anos de uso de drogas. Seu terno, que parecia caro, estava amassado e manchado, provavelmente comprado com dinheiro emprestado ou pior. Seus olhos estavam selvagens, pupilas dilatadas, mãos tremendo enquanto gesticulava para os seguranças.

"Onde está minha filha?" ele gritou, derrubando um vaso. "Onde está minha garotinha que agora acha que é boa demais para o velho pai?"

Os seguranças em seus ternos pretos estavam prontos para agir. Eles estavam acostumados a lidar com os bêbados de Wall Street, não com homens de meia-idade em meio a uma raiva alimentada por cocaína. A clientela regular – gestores de fundos de hedge e banqueiros de investimento – assistia com fascinação mal disfarçada.

"Papai," eu disse, mantendo a voz firme enquanto me aproximava. "Você está drogado. Vamos lá fora conversar sobre isso."

Ele se virou, seus movimentos bruscos e antinaturais. "Amelia! Minha linda garota!" Seu humor mudou instantaneamente, como sempre acontecia quando ele estava usando. "Venha dar um abraço no seu papai. Eu senti tanto a sua falta!"

"Papai, por favor," eu disse, tentando guiá-lo para a saída. "Não aqui. Vamos—"

"Ir?" Seu rosto se contorceu. "Ir para onde? Voltar para onde você tem se escondido? Vivendo sua nova vida sem o velho pai?" Sua voz aumentou novamente, com um tom de desespero. "Você nem atende mais minhas ligações! Mudou seu número, se mudou sem me avisar - eu sou seu pai! Seu próprio pai!"

"Eu tenho estado ocupada," eu disse suavemente. "Lucas tem estado doente, e eu—"

"Lucas?" ele cuspiu. "Você quer dizer aquele filho bastardo que arruinou tudo?"

Eu estava farta. "Você não tem direito de chamar meu filho assim. Na verdade, nós dois sabemos quem é o verdadeiro bastardo aqui."

O som da mão dele batendo no meu rosto ecoou pelo saguão. A dor física não era nada comparada à humilhação que queimava em mim enquanto cabeças se viravam e sussurros se espalhavam pela multidão.

"Eu preciso de dinheiro," ele sibilou, agarrando meu braço com dedos trêmulos. "Cinquenta mil. Algumas pessoas... pessoas muito perigosas... vão me matar, Amelia. Seu papai vai morrer se você não ajudar."

Claro. Sempre se resumia a dinheiro. O vício em cocaína do meu pai estava sugando nossa família há tanto tempo quanto eu me lembrava. E agora ele estava tentando me puxar de volta.

Enquanto eu tentava me livrar do aperto do meu pai, ouvi passos. Sapatos de couro caros no chão. Um perfume familiar.

"Eu sugiro que você tire suas mãos da minha esposa." A voz de Luke era firme e autoritária. O aperto do meu pai afrouxou enquanto ele se virava, olhos vermelhos arregalados ao ver a presença de Luke.

"Seu... o quê?" A voz do meu pai falhou, sua mente afetada pelas drogas lutando para entender. Seu olhar oscilou entre nós. "Esposa?"

"Sim, Sr. Wilson." Luke deu um passo à frente. "Sou Luke Carter, marido da Amelia. Embora não seja bem assim que eu imaginei nosso primeiro encontro."

O choque no rosto do meu pai se transformou quando seus instintos de sobrevivência entraram em ação. Seus olhos se moveram rapidamente, analisando a óbvia riqueza de Luke – o terno Tom Ford, o relógio Patek Philippe que provavelmente custava mais do que ele havia ganhado na vida. Eu reconheci o brilho predatório em seus olhos, o mesmo que precedia seus piores esquemas.

"Bem..." Meu pai tentou sorrir, passando os dedos trêmulos pelo cabelo. "Isso é... isso é uma notícia maravilhosa! Minha garotinha, casada com..." Ele puxou seu paletó amassado. "Por que você não contou para seu velho pai, princesa? Devíamos estar comemorando! E talvez pudéssemos discutir alguns negócios de família—"

"Sr. Wilson," Luke interrompeu, com um tom firme, mas controlado. "O único assunto que precisamos discutir é seu comportamento atual. Não vou tolerar ninguém assediando minha esposa, seja família ou não."

A fachada do meu pai desmoronou. "Agora espere um minuto—"

Luke pegou seu telefone. "Segurança, por favor, acompanhem o Sr. Wilson para fora. E Jack?" Ele olhou para o chefe de segurança. "Certifique-se de que ele entenda que este estabelecimento agora está fora dos limites."

"Você não pode fazer isso comigo!" Meu pai avançou. "Amelia, diga a ele! Conte sobre as pessoas que estão atrás de mim—"

"Papai, pare." Minha voz tremia. "Só vá embora. Por favor."

"Cinquenta mil, é tudo que eu preciso!" Seus olhos estavam selvagens agora, alternando entre Luke e eu. "Você está vivendo no luxo agora, casada com um Carter. O que são cinquenta mil para pessoas como vocês? Você quer que seu pai morra?"

"O que eu quero," a voz de Luke cortou a divagação do meu pai, "é que você vá embora. Agora." Ele se virou para James. "Se o Sr. Wilson voltar, chame a polícia imediatamente. Vou garantir pessoalmente que as acusações sejam mantidas."

Dois guardas de segurança se aproximaram, suas mãos firmes enquanto seguravam os braços do meu pai. Ele não resistiu, mas seu rosto se contorceu em algo feio.

"Você mudou," ele cuspiu para mim. "Vivendo no seu mundo de luxo, fingindo que é melhor do que de onde veio. Mas eu sei quem você realmente é, Amelia. Seu marido rico sabe? Ele sabe tudo sobre você?"

Senti a cor desaparecer do meu rosto. A expressão de Luke não mudou, mas vi sua mandíbula se apertar levemente.

"Tirem-no daqui," Luke ordenou, e os guardas começaram a mover meu pai em direção à saída.

"Eu voltarei!" Meu pai gritou por cima do ombro. "Você não pode esconder-se da família, princesa! Você não pode—"

As portas se fecharam atrás deles, cortando sua voz. O saguão caiu em silêncio, exceto pelo murmúrio suave de sussurros da multidão que assistia.

Luke se virou para os espectadores, sua expressão perfeitamente controlada. "Por favor, retomem sua noite. O show acabou."

As pessoas começaram a dispersar, embora eu pudesse sentir seus olhares persistentes. Minha bochecha ainda ardia onde meu pai havia me batido, e lutei contra o impulso de tocá-la.

"Vamos para casa," Luke disse calmamente. Não era uma sugestão.

Eu assenti, sem confiar na minha voz.

Enquanto eu o seguia até seu carro, sua silhueta imponente cortava as sombras da noite à minha frente, e pela primeira vez em anos, eu ousava imaginar que o destino finalmente havia me enviado um anjo da guarda vestido com um terno sob medida.

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