




Capítulo 4
POV da Lucy
Suas palavras diretas fizeram minhas orelhas queimarem de vergonha.
"Você ainda é tão sensível," ele murmurou, encostando o rosto em meu pescoço. As palavras fizeram meu coração doer – não de amor, mas com a consciência de que essa ternura não era real. Sua ternura passageira era apenas para garantir minhas doações de sangue para Ivy.
O toque agudo do telefone dele quebrou o momento. Ethan pegou imediatamente, sua expressão mudando ao ver o identificador de chamadas. Eu já sabia quem era antes mesmo de ele atender.
"Oi." Sua voz suavizou de uma maneira que nunca fazia comigo. "Estou em casa... Não, ela não está te mirando, não se preocupe... Eu sei, vou passar aí mais tarde..."
Ele falava com Ivy em um tom gentil, o que me fazia doer. Eu, trêmula, comecei a arrumar minhas roupas bagunçadas.
Ethan terminou a ligação, me observando com diversão. "Qual a pressa, Lucy? Não terminamos aqui."
Eu o ignorei, e sua mão agarrou meu pulso. Tentei me afastar, mas seu aperto era firme, possessivo. Após três anos de casamento, meu corpo ainda me traía toda vez que ele me tocava. Mas minha mente gritava a verdade - eu não era nada mais que sua boneca sexual e um banco de sangue ambulante para sua preciosa Ivy.
"Se você não quer que eu continue te despindo, desbloqueie meu número." ele disse, alcançando meus botões novamente, "Ou..."
Eu me afastei de seu toque. "Tudo bem."
Ele acariciou o queixo com satisfação. "Desça e coma."
"Não estou com fome."
"Você precisa comer." Seu tom tinha aquela borda de comando que sempre me fazia querer rebelar. "A comida da prisão deve ter sido horrível."
A menção à prisão foi como um balde de água fria. Um ano atrás das grades por um crime que eu não cometi, enquanto Ivy fazia o papel de vítima perfeita em sua cadeira de rodas. Tudo uma armação, pensei amargamente. Assim como este casamento.
A sala de jantar, como todo o resto em nosso apartamento, era um exemplo de luxo moderno. Janelas do chão ao teto ofereciam uma vista deslumbrante do Central Park, mas tudo em que eu conseguia focar era o cheiro nauseante do salmão grelhado que nossa empregada havia preparado.
"Sra. Storm, você perdeu tanto peso," nossa empregada, Margaret Brown, se preocupava, acrescentando mais um pedaço de peixe ao meu prato. "Por favor, coma mais."
O cheiro me atingiu novamente, e eu tive que pressionar a mão contra a boca para não vomitar. "Estou bem," consegui dizer. "Estou cheia."
Os olhos afiados de Ethan não perdiam nada. "A comida da prisão era sem graça. Ela não está acostumada com comida rica ainda. Faça um mingau para ela."
O telefone dele vibrou novamente. Desta vez ele nem tentou esconder a urgência ao se levantar. "Preciso ir. Ivy não está se sentindo bem."
"Claro que não está," murmurei para mim mesma, mas ele já estava indo em direção à porta, me deixando sozinha com meu estômago revirado e o cheiro avassalador de peixe.
Sra. Brown limpou meu prato com um olhar preocupado. "Devo fazer um chá de gengibre para você, Sra. Storm? Ajuda com a náusea..."
As palavras dela me atingiram como um raio. Náusea. Pensando bem, eu estava me sentindo enjoada há dias. E minha menstruação...
Meu Deus.
Mais tarde naquela noite, sentei na beirada da banheira, olhando para os três testes de gravidez alinhados no balcão de mármore. Todos positivos. Droga. Droga em dobro. A memória me atingiu como um caminhão - eu havia esquecido de tomar a pílula depois da nossa última relação.
"Meu Deus, eu... estou grávida." Minha voz tremia enquanto eu tocava meu estômago ainda plano. Um bebê. Nosso bebê. Algo dentro de mim estava crescendo, metade de mim, metade de Ethan. Meu coração parecia que iria explodir. Lágrimas de alegria escorriam pelo meu rosto enquanto eu imaginava uma versão pequena de Ethan.
Então o pânico me atingiu como uma marreta. Minhas mãos começaram a tremer. Como eu contaria a Ethan? O que ele escolheria - seu filho ainda não nascido ou sua preciosa Ivy? Eu já sabia a resposta, mas meu coração se recusava a aceitar.
Meu telefone tocou com uma notificação, torcendo a faca ainda mais fundo. Outro post no Instagram de Ivy: uma selfie dela na cama do hospital, parecendo etérea em pijamas de grife. A legenda dizia: "Tão grata por aqueles que sempre me colocam em primeiro lugar." Os comentários estavam cheios de elogios pela devoção de Ethan à sua "namorada de infância."
Desliguei o telefone, lutando contra as lágrimas. No apartamento enorme que nunca havia parecido um lar, eu nunca me senti tão sozinha.
O amanhecer despontou sobre Manhattan, pintando o céu em tons de rosa e dourado. Ethan não tinha voltado para casa a noite toda. Eu mal dormi, minha mente correndo com possibilidades e medos.
"Senhora Storm!" A voz excitada da Senhora Brown me fez pular. Ela estava segurando um dos testes de gravidez que eu havia esquecido de esconder. "Isso é uma notícia maravilhosa! Por que está mantendo segredo?"
Peguei o teste das mãos dela, minha voz apertada. "Eu já pedi o divórcio."
O rosto dela caiu. "Mas Senhora Storm, você não pode se divorciar agora. Não com um bebê!"
"O bebê não muda nada." Mas mesmo enquanto eu dizia isso, me perguntava se estava tentando convencer a ela ou a mim mesma.
"Pense na criança," ela insistiu. "Você sabe que a família Storm nunca se divorcia. É tradição."
Tradição. Outra corrente para me prender. Mas agora não era apenas sobre mim. Talvez este bebê fosse um presente de Deus, uma chance de reconquistar o coração de Ethan. Afinal, um filho seu não significaria mais para ele do que Ivy?
A torre do Storm Investment Group brilhava ao sol da manhã, um monumento ao poder e riqueza. O escritório de Ethan ocupava o último andar, oferecendo uma vista panorâmica de Manhattan que ainda me tirava o fôlego.
Ele mal levantou os olhos do laptop quando entrei. "Seja rápida. Tenho uma reunião do conselho em vinte minutos."
Respirei fundo. "Onde você estava ontem à noite?"
"Ivy teve um episódio ruim. Fiquei no hospital com ela." Ele finalmente encontrou meus olhos, desafiando-me a objetar.
Eu me estabilizei, meu coração acelerado com expectativa. "Ethan, se tivéssemos um bebê, você passaria mais tempo em casa?"
Os dedos dele pararam no teclado. Por um momento, algo piscou em seus olhos – surpresa? Interesse? Mas então sua expressão endureceu.
"A saúde de Ivy está frágil ultimamente," ele disse friamente. "Se você estiver grávida, não poderá doar sangue para ela."
E lá estava. A verdade que eu sempre soube, mas nunca quis enfrentar. Neste casamento, na vida dele, eu não era nada mais do que um banco de sangue para Ivy.
Olhei para baixo, lutando contra as lágrimas enquanto pressionava minha mão contra meu estômago onde nosso filho estava crescendo, invisível e indesejado pelo pai. O sol da manhã captou minha aliança, fazendo-a brilhar. Uma gaiola tão bonita.
"É só isso?" Ethan já estava de volta aos seus e-mails.
"Sim," eu sussurrei, virando-me para sair. "É só isso."