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7- Mas VOCÊ tenta dizer não a um demônio sem camisa com olhos tristes.

KACIA

Ozraed sai do banheiro parecendo humano novamente. Bem... Quase. Sua pele ainda está um pouco pálida demais. Seu cabelo está úmido, enrolando levemente nas pontas. Ele está vestindo apenas jeans, felizmente limpos, mas sem camisa. Tento não olhar, realmente tento, mas seu torso é distração de um jeito que parece um ataque às minhas fronteiras pessoais. Sério. Não é justo. Ele é um demônio. Não deveria ser atraente. Mesmo agora, quando ele parece meio morto e levemente irritado, sua estética toda grita 'perigoso, mas estranhamente atraente'. E então tem aquela cauda, ainda visível, balançando atrás dele como um gato que não sabe se vai te morder ou dormir no seu teclado. Deveria ser perturbador. Em vez disso, eu... Meio que gosto? É muito mais expressiva que seu rosto. Me pego olhando e sacudo a cabeça. Vamos lá, Kacia. Agora que EU SEI que ele é um demônio, os sinais estão todos lá. Suas unhas... São pretas, não apenas sujas. Seus olhos... Bem, eles são estranhos de um jeito que eu não tinha notado antes, os brancos um pouco escuros demais, como fumaça atrás de vidro. E sua pele, pálida mas com aquele leve tom cinza que poderia ser fisiologia de demônio Kakos ou apenas perda severa de sangue. Difícil dizer. Provavelmente ambos. Eu gesto em direção à poltrona oposta a mim. Ele se senta obedientemente, e sua cauda se enrola sobre o braço da cadeira, como se fosse dona do lugar. Tento não deixar meus olhos seguirem o movimento, mas é como tentar ignorar uma luz piscando em um quarto arrumado. Respiro fundo, de maneira adequada e medida, e forço minha postura a ficar reta.

"Então..." começo de forma equilibrada.

"Você é um demônio." Eu afirmo o óbvio.

"Um demônio Kakos, sim." Ele confirma sem hesitação.

"Devo me preocupar?" Pergunto, casualmente, mas com suficiente tensão para que ele me leve a sério. Ele parece quase... Insultado.

"Definitivamente não. Não quero te machucar." Ele insiste. Eu levanto uma sobrancelha.

"Por que eu deveria acreditar em você? Por que você está aqui? Você não tem sido exatamente transparente." Eu aponto.

"Eu nem te conheço. Por que eu desejaria te fazer mal?" Ele ecoa minhas palavras anteriores.

"E você foi quem me trouxe aqui. Eu peço desculpas por não ser mais honesto sobre minha origem, mas depois do que passei, fui cauteloso. Se ajuda, eu não poderia te machucar mesmo se quisesse, fizemos um acordo. Estou preso a ele." Ele diz de um jeito que acho que é para ser tranquilizador. Não é.

"Quando isso aconteceu?" Eu exijo.

"Mal conversamos. Acho que eu lembraria de fazer um acordo com um demônio." Eu argumento. Ozraed inclina a cabeça e me dá um olhar irritantemente calmo que me faz querer jogar um travesseiro nele. "Quando você estava me salvando. Eu disse que te devia. Você disse que eu poderia compensar se sobrevivêssemos. Eu concordei." Ele explica. Eu fico boquiaberta.

"Isso conta?" Eu pergunto incrédula.

"Oh, conta." Ele responde secamente. Eu pressiono os lábios juntos. Todo mundo sabe que você não faz acordos com demônios. Mesmo se você acha que está sendo casual. Mesmo se você está tentando ser encantador ou fazendo uma piada. É a intenção, não o tom, que sela o acordo. E agora eu tenho esse cara preso a mim contratualmente. Ótimo. E pior, eu me sinto culpada por isso. Ele estava mal consciente quando concordou com isso. Eu... Aproveitei dele acidentalmente? Não estou acostumada a ser a pessoa moralmente cinza na sala. Eu mexo na barra da minha blusa, alisando uma ruga que nem estava lá um segundo atrás. Então aliso de novo, só para ter certeza. Ok. Chega de espiral. Eu mudo de assunto.

“Como aqueles caras conseguiram te prender? Você é um demônio. Quer dizer, eu entendo que eram muitos, mas eu pensei que os Demônios Kakosd tinham aquele lance de olho assustador. Eles não deveriam ter saído correndo e gritando? A menos que o que eu ouvi sobre sua espécie tenha sido muito exagerado.” Não quero provocá-lo, mas... Bem, talvez eu queira. Só um pouco. Sua cauda se mexe bruscamente. Sua expressão escurece como se eu tivesse insultado pessoalmente sua honra. Tenho que conter uma risada, mordendo rapidamente o interior da bochecha para não sorrir. Ele cruza os braços sobre o peito, afundando na cadeira com um ar dramático de injustiça.

“Foi um momento ruim.” Ele resmunga.

“Eu estava... Doente. Eu tinha acabado de passar por um portal, o que me deixou desorientado. Em circunstâncias normais, eu poderia tê-los derrotado sem esforço. Eu te asseguro-”

“Tá, tá.” Eu interrompo, sorrindo.

“Entendi. Você é muito assustador e poderoso. Tenho certeza de que na próxima vez você não vai parecer que está a um espirro de desmaiar.” Eu brinco. Ele me lança um olhar fulminante. Eu aproveito isso por um segundo. E então algo muda. Sua expressão suaviza, não é exatamente um sorriso, mas algo se acalma em suas feições. Ele se inclina para frente, devagar, deliberadamente.

“Quando eu me recuperar...” Ele murmura, a voz caindo para algo baixo e quente e totalmente injusto.

“Eu ficaria feliz em demonstrar minhas habilidades para você. A qualquer hora. Eu não vou a lugar nenhum.” Ele praticamente ronrona as palavras. Meu cérebro trava. Espera. O quê?

“O que você quer dizer com 'não vai a lugar nenhum'?” Eu pergunto, desconfiada.

“Eu ainda tenho um acordo para cumprir.” Ele diz suavemente, como se isso fosse óbvio.

“Então... O que isso significa, exatamente?” Eu pergunto, já me preparando para o pior. Ele dá de ombros.

“Significa que eu te devo minha vida. Vou ficar bem ao seu lado até pagar minha dívida.” Ele diz firmemente. Eu pisquei.

“Como assim?” Eu exijo.

“Você me ouviu.” Ele diz, sorrindo.

“Até eu te pagar de volta, serei sua sombra pessoal.” Ele reitera.

“Você não pode!” Eu argumento, horrorizada.

“Acho que você vai descobrir que eu posso.” Ele responde calmamente.

“Não.” Eu cruzo os braços e me inclino para frente.

“Sim.” Ele se inclina mais perto.

“Você não pode simplesmente se mudar! Eu te ajudei! Não seja um idiota sobre isso!” Eu digo, completamente frustrada.

“Eu não tenho escolha. Fizemos um acordo. Eu não posso quebrá-lo, e sinceramente?” Ele se recosta e cruza os braços.

“Eu não quero. Você me salvou, Kacia. E eu sempre cumpro minhas promessas.” Ele diz com determinação. Eu gemo e me jogo de volta no sofá, jogando o braço sobre os olhos.

“Isso é o que eu ganho por alimentar animais de rua. Eles nunca vão embora.” Eu resmungo. Eu me sobressalto quando o sofá afunda ao meu lado. Um braço encosta no meu. Eu olho por baixo do cotovelo e o vejo sentado bem ao meu lado, ombro a ombro, como se nos conhecêssemos há anos.

“O que você está fazendo?” Eu reclamo.

“Quero te perguntar algo.” Ele responde. Eu aponto para a cadeira que ele abandonou.

“E você não podia perguntar de lá?” Eu exijo.

“Eu gosto mais desse sofá.” Ele diz com um sorriso. Então sua cauda casualmente se enrola sobre meu colo. Eu poderia me mover. DEVERIA me mover, mas não me movo. Não vou deixá-lo ganhar esse estranho joguinho de coragem.

“Tá bom... O que você queria perguntar?” Eu digo com um suspiro. Ele se estica um pouco ao meu lado, a voz agora preguiçosa.

“Bem. Agora que você sabe que sou um demônio, não há motivo para esconder que tenho um bom senso de olfato.” Ele começa e meu sangue gela só um pouco.

“Então...” Ele continua, me fixando com um olhar que é muito convencido para alguém que acabou de derrubar toda minha rotina de cuidados com a pele devido à sua falta de jeito.

“Me fale sobre os Fae.”

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