




2: Urekai
PRÍNCIPE EMERIEL
Ao sair na manhã seguinte, dois guerreiros pararam diante de Emeriel. "O rei convoca você, meu príncipe," disse um deles. "Sua presença é necessária na sala do trono."
Droga. Aquele ministro tolo não perdeu tempo em delatá-lo.
Emeriel tomou a dianteira até a corte. É só uma surra, ele ficará bem.
Mas, enquanto caminhava pelo corredor em direção à porta, estava estranhamente silencioso.
Algo estava errado.
A corte sempre era barulhenta do lado de fora. Murmúrios, sussurros, discussões eram sempre esperados.
Sua preocupação aumentou quando a porta se abriu, e todos os olhos não se viraram para olhá-lo de forma condescendente. Em vez disso, todos estavam fixados no centro da corte do rei.
Os olhos de Emeriel seguiram os deles.
Dois homens vestidos com mantos brancos, com cabelos pretos longos e lisos até a cintura, estavam ali, parecendo inofensivos.
Mas um olhar mais atento fez Emeriel notar músculos mal disfarçados sob os mantos, suas orelhas levemente pontudas e seus rostos incrivelmente e sobrenaturalmente bonitos, completamente indecifráveis.
Ele congelou.
Urekai.
Esses pareciam caros e aristocráticos.
A garganta de Emeriel secou. Ninguém reza para encontrar um Urekai cara a cara.
"O que você diz, Rei Orestus?" o Urekai com a longa cicatriz na bochecha falou. Ele parecia o mais intimidante.
"Não, isso não pode acontecer," o Rei Orestus protestou, parecendo aterrorizado e fazendo um péssimo trabalho em esconder isso.
A expressão do Urekai com cicatriz se tornou mais severa. Claramente, essa era uma criatura que não aceitava um não como resposta.
"Você está enganado se pensa que estamos lhe dando uma escolha, rei humano," ele disse, dando um passo ameaçador à frente.
Os ministros da corte ofegaram, encolhendo-se em seus assentos.
"Calma, Senhor Vladya," o outro Urekai falou, sua voz mais gentil. Implorando em vez de comandar.
O Urekai com cicatriz, Senhor Vladya, deu ao rei um olhar duro que faria qualquer homem tremer. "É o mínimo que você pode fazer, rei humano. Nos entregue a princesa e iremos embora em silêncio."
"Estamos prontos para pagar por ela," o outro Urekai acrescentou, alcançando dentro de seu manto e retirando uma grande bolsa de moedas.
O medo recuou. Os ouvidos do rei se aguçaram com interesse. "Dinheiro?"
"Não apenas dinheiro, há moedas de ouro também," disse o Urekai sem cicatriz.
Todos ofegaram, incluindo Emeriel. Moedas de ouro eram raras e altamente valiosas.
O Urekai continuou, "Tudo o que você precisa fazer é entregar a princesa, e esta bolsa é sua."
Espera...
Princesa?
Eles não podiam estar falando de...
A grande entrada se abriu novamente enquanto dois guardas conduziam Aekeira para dentro da corte.
Não, não, não, não minha irmã.
Emeriel avançou, mas os guardas que o escoltaram impediram seu movimento. Ele mordeu o lábio com força, tentando não chamar atenção, mas era incrivelmente difícil.
Certamente, isso não podia ser o que ele pensava. Tinha que ser um sonho.
Não havia como os Urekai estarem aqui para comprar sua irmã como escrava...!
Os dois guardas que conduziam Aekeira ao centro da corte, pararam a poucos metros dos Urekai.
O terror no rosto de Aekeira espelhava os sentimentos de Emeriel.
"Então, deixe-me entender direito," começou o Rei Orestus, "Tudo o que eu preciso fazer é vendê-la para vocês, e todo esse dinheiro é meu? Não há outras condições? Nada mais?"
"Sim," respondeu o Urekai sem cicatriz.
Senhor Vladya avançou, diminuindo a distância entre ele e Aekeira, que agora estava visivelmente tremendo.
Segurando o rosto de Aekeira e inclinando sua cabeça para o lado para obter uma melhor visão. Ele parecia completamente enojado. "Ela serve."
O Rei Orestus pegou seu martelo e bateu forte na mesa. "Vendida! A partir deste momento, a Princesa Aekeira pertence aos Urekais."
"O QUÊ!?" O grito escapou dos lábios de Emeriel antes que ele pudesse se conter.
Ele correu para o centro do tribunal e caiu de joelhos. "Por favor, não venda minha irmã para eles. Não para os Urekais! Por favor, Vossa Majestade."
O rei lhe deu um olhar entediado. "Não está mais nas minhas mãos, Emeriel."
Não está mais nas mãos dele...
Emeriel não podia acreditar no que estava ouvindo. "Você não pode deixar isso acontecer. Ela também é sua sobrinha! Como você pôde fazer isso!?"
Ele não se orgulhava de sua voz ter ficado aguda como a de uma garota, enquanto praticamente gritava. "Você sabe que um destino pior que a morte a espera além da grande montanha! Como você pôde concordar em vendê-la para eles?"
"Como se ele tivesse escolha," Lorde Vladya zombou, seu barítono profundo cheio de cinismo.
Emeriel se virou para encará-los, a raiva cobrindo suas feições. Mas ao olhar nos olhos intimidadores e cinzentos, ele não conseguiu se entregar à sua fúria.
Ele tinha lido em um dos livros que um Urekai tinha o poder de tirar uma vida sem contato físico. Pode ser apenas um boato, mas com a vida de sua irmã em jogo, ele não tinha intenção de testar essa teoria.
"Eu vou também. Onde Aekeira for, eu vou," Emeriel disse, levantando o queixo desafiadoramente.
Aekeira virou a cabeça em direção a Emeriel, seus olhos se arregalando de terror. "Não! O que você está fazendo, Em?"
"Eu vou com você," Emeriel afirmou firmemente.
Lorde Vladya arqueou uma sobrancelha perfeitamente moldada. "Não. Não precisamos de você; só precisamos de sua irmã."
Emeriel se levantou. "Eu não me importo. Me levem também. Se me deixarem aqui, eu sempre tentarei ir atrás dela. Eu atravessarei as grandes montanhas se for preciso!"
Lorde Vladya riu. Não havia humor no som frio. "Sem o rito de passagem, a grande montanha vai te engolir inteiro. Você nunca chegará ao outro lado."
"Eu vou arriscar," Emeriel prometeu.
"Não! Meu irmão não vai," Aekeira interveio, antes de virar olhos suplicantes para Emeriel. "Não faça isso, Em. Eu já estou condenada. Não quero que você enfrente o mesmo destino!"
"Se você vier conosco, será tomado como nosso escravo," Lorde Vladya declarou, fixando Emeriel com um olhar. "Urekai não se importa se você é homem ou mulher; você servirá de qualquer maneira que seu mestre quiser. Seja nas minas ou na adega, de costas, curvado ou de joelhos. Se você concordar em ser nosso escravo também, sua vontade livre termina hoje."
Um arrepio percorreu a espinha de Emeriel.
"Você sabe o que significa ser escravo de um Urekai, pequeno humano? Você é um garoto bonito; não faltará mestres para você servir."
O medo infiltrou-se em seu núcleo. Se tudo o que ele ouviu crescendo e leu nos livros fosse verdade, ser escravo de um Urekai era pior do que ser escravo de um humano.
E meus sonhos...
Eu deveria estar correndo na direção oposta...!
Mas ele firmou a coluna. "Onde minha irmã for, eu vou."
"Não concordamos em levar dois escravos," disse o segundo Urekai.
"Está decidido então," Lorde Vladya continuou como se ele nunca tivesse falado.
Enfiando a mão em sua túnica, o Urekai marcado puxou outra bolsa de moedas, jogando ambas no chão em direção ao rei. "Levaremos os dois."
"Vendidos!" O Rei Orestus bateu seu martelo novamente.