




02 Não está em seus sonhos 2
Assim que entrei, o silêncio tomou conta do ambiente. Todas as quatro cabeças se viraram para mim. O ar ficou pesado com a tensão, e eu podia sentir o peso dos olhares deles. Grover foi o primeiro a falar, sua voz carregada de desprezo.
“O que diabos ela está fazendo aqui, Tomas?” ele cuspiu, seu rosto se contorcendo em um esgar. Grover sempre me odiou, e o sentimento era mútuo. Ele era um daqueles de alta classe que olhavam para todos abaixo deles com desdém, e não fazia esforço nenhum para esconder seu desprezo.
Ignorei Grover e foquei em Tomas.
Fiquei de frente para Tomas, meu coração acelerado e meu peito apertado de raiva e tristeza. Ele estava sentado no sofá, sem camisa, seu cabelo loiro despenteado como se tivesse acabado de sair da cama. Ele me olhou com uma mistura de confusão e cautela, sua expressão era de alguém que não queria lidar com a situação que se desenrolava diante deles.
“Emma,” ele disse suavemente, sua voz quase gentil. Permaneci em silêncio, meu corpo congelado enquanto tentava me manter firme.
“Podemos falar em particular?” finalmente consegui perguntar, minha voz firme apesar da tempestade dentro de mim. Minha força surpreendeu até a mim mesma. Eu não estava ali para desmoronar. Eu estava ali para enfrentá-lo e obter as respostas que merecia. No entanto, lá no fundo, uma parte de mim esperava que ele se levantasse do sofá, viesse até mim, me abraçasse e implorasse por perdão. Em vez disso, sua hesitação e a indiferença em seus olhos me quebraram ainda mais. Ainda assim, fiquei ali, esperando.
Ele suspirou e se levantou, caminhando em minha direção com passos lentos e deliberados. “Sobre o que você quer falar?” ele perguntou, sua voz desprovida do calor ao qual eu havia me agarrado. Ele nem se deu ao trabalho de dispensar seus amigos, me deixando de pé no meio da sala com os olhares curiosos deles perfurando minhas costas.
Engoli em seco, recusando-me a deixar a humilhação me consumir. “Por que você não me contou isso de manhã?” perguntei, minha voz falhando ligeiramente apesar dos meus esforços. Seu rosto mudou, preocupação cintilando em seus olhos, mas não era suficiente. Não era por mim. Era pena, não arrependimento.
“Eu sei que acabou entre nós,” continuei, segurando as lágrimas. “Mas eu merecia ouvir isso de você. Por que você não me contou? Por que me deixar descobrir assim?”
Tomas colocou as mãos em meus ombros, seu toque tão leve quanto a verdade que ele tentava evitar. Seus olhos azuis buscaram os meus, mas eu me recusei a desviar o olhar. Ele suspirou. “Eu não sabia como te contar, Emma. Não tinha certeza de como você reagiria.”
Dei um passo para trás, libertando-me do seu toque. A raiva fervia sob minha pele. “Você não sabia como eu reagiria? Você não sabia como eu me sentiria? Depois de quatro anos, Tomas? Você me devia a verdade. Você me devia o respeito de me contar cara a cara.”
Ele exalou profundamente, passando a mão pelo cabelo. “Vamos ser honestos, Emma. Casar com você teria me arruinado. Todo mundo sabe das dívidas de jogo do seu pai e dos problemas que ele tem com a máfia. Celio é uma cidade pequena, e o Alfa já está lutando para manter a máfia fora. Se eu me casasse com você, isso daria uma brecha para eles em nossa alcateia. Eu não posso correr esse risco. Tenho um dever com minha família, com a alcateia. E você... você vem com muita bagagem.”
Suas palavras me atingiram como uma faca. Sem pensar, eu o esbofeteei. O som ecoou pela sala, e seus amigos ofegaram, seu choque era palpável. Minha mão tremia, não de medo, mas pela pura força da minha raiva.
“Você sabia disso desde o início, e ainda assim me manteve por perto por quatro anos,” eu disse, minha voz tremendo de raiva. “Você me deixou acreditar que havia um futuro para nós. Você me deixou suportar humilhações e cochichos, tudo por isso? Eu poderia ter estado com qualquer um, mas escolhi você.”
Ele balançou a cabeça, seus olhos escurecendo. “Não, Emma. Eu escolhi você. Não se esqueça do seu lugar. Sem mim, você é apenas uma maldita Ômega. Vou deixar passar o tapa, mas nunca mais tente isso novamente. Sim, eu estive com você por quatro anos, e não, não me arrependo. Você cumpriu seu propósito. É para isso que as Ômegas servem.”
Eu senti meu coração se despedaçar com suas palavras, mas me recusei a deixar que ele visse minha dor. “Você está certo, Tomas,” eu disse, me aproximando dele. “Foi ambicioso demais da minha parte pensar que alguém como você poderia ser um ser humano decente. Você pode ser filho do beta, mas não passa de um covarde. Um covarde que se esconde atrás da família e do status porque tem medo de enfrentar a vida de frente.”
O choque passou pelo rosto dele, mas eu não parei. “Você pode pensar que eu estou abaixo de você, mas um dia eu vou superar suas expectativas. Vou construir uma vida para mim, uma vida cheia de felicidade e propósito, sem você. E se nossos caminhos se cruzarem, vou fingir que nunca nos conhecemos. Quanto aos últimos quatro anos? Deixe-me ser clara—eu te ferrei tanto quanto você me ferrou. Você é meu resto, Tomas. Nada mais.”
Seus olhos se encheram de raiva, e antes que eu pudesse me mover, ele agarrou meu pulso com força. A dor percorreu meu corpo, mas eu me recusei a recuar. Minhas garras começaram a emergir instintivamente, mas ele apertou mais, forçando-as a recuar. As lágrimas ardiam em meus olhos, mas eu mantive seu olhar, desafiadora.
“Não se esqueça do seu lugar, Ômega,” ele sibilou, sua voz baixa e ameaçadora. “Você nunca vai fazer melhor do que eu. Eu sempre serei o melhor que você já teve. Você não é nada especial, Emma, e nunca será. Se você me desrespeitar novamente, vou garantir que você seja punida. Não me ligue, não me mande mensagens, e não chegue perto de mim novamente.”
Ele soltou meu pulso, e eu pude ver a marca vermelha deixada. Engoli minha dor e forcei um sorriso, encontrando seu olhar com o meu.
“Obrigado por me mostrar exatamente quem você é, Tomas. Você pode pensar que é melhor do que eu, mas a verdade é que eu escapei de uma bala. Aproveite sua vida com Veronica. Nos vemos no casamento—afinal, ela não deixou espaço para um RSVP,” eu disse, minha voz fria e cortante.
Eu me virei e saí, ignorando suas palavras finais. Os guardas não me impediram enquanto eu saía, seus rostos ainda marcados pela pena. Eu não olhei para trás, nem uma vez. Eu não precisava. Meu coração estava partido, mas eu não estava destruída. Eu choraria depois, mas por enquanto, manteria minha cabeça erguida e seguiria em frente.
Eu iria me curar. E um dia, eu iria me levantar.