




Capítulo 3
FLASHBACK – Andria, Idade 16
Ah, sim.
A Noite.
Aquela memória que me assombra como uma amostra de perfume amaldiçoada em um elevador—inescapável e agressivamente constrangedora.
Eu tinha dezesseis anos, recém-saída da fase do aparelho, alta com gelato e hormônios, e tragicamente convencida de que Luca Bianchi—vinte e dois anos, perigoso, absurdamente atraente—estava totalmente apaixonado por mim.
Tudo começou com um dos famosos jantares de domingo do Papai. Aqueles onde mafiosos riam como tios, o vinho fluía como água de rio, e Mamãe usava saltos mais altos que sua paciência. Estávamos sentados no grande salão de jantar da propriedade dos Gregori, sob o ridículo lustre de vidro em forma de fênix (porque sutileza não é exatamente nossa praia).
Eu estava usando um vestido azul-marinho de ombro a ombro que Mamãe escolheu porque me fazia parecer “elegantemente mais velha.” Até coloquei perfume atrás das orelhas como sugerido por um vídeo do YouTube, porque sim, eu tinha planos. Planos terríveis, trágicos e adolescentes.
E lá estava ele.
Luca Bianchi.
Em toda sua glória arrogante, excessivamente bonito, vestindo um terno. Camisa preta, mangas arregaçadas, colarinho ligeiramente aberto. Sentado à minha frente com aquela energia preguiçosa de príncipe da máfia—rindo de algo que Papai disse, sua mão casualmente girando o vinho como se ele tivesse inventado o Cabernet.
Eu o observei a noite toda como uma tragédia shakespeariana em movimento. Ele sorriu para Mamãe. Acenou para meu primo. Flertou levemente (rude) com a garçonete. Mas de vez em quando—só por um segundo—ele olhava para mim.
Realmente olhava para mim.
E meu coração fazia aquele estúpido movimento de cambalhota que ainda faz hoje, o traidor.
Juro que ele estava roubando olhares. Peguei ele me olhando quando ri de uma piada. E novamente quando deixei cair meu garfo e me abaixei, devagar o suficiente para qualquer homem notar.
Lembro de pensar, É isso. Ele finalmente me vê. Não como a filha do Papai. Não como a sombra irritante. Mas como uma mulher.
Idiota.
O jantar acabou. Meus pais se afastaram, os convidados se despediram, e eu, pequena lunática dramática que era, disse a Luca que precisava de ajuda para encontrar minha pulseira.
No jardim.
Sob a luz do luar.
Onde convenientemente nenhuma pulseira estava perdida.
Ele seguiu.
Claro que seguiu. Sempre seguiu. Desde que eu tinha dez anos e chorei quando ele foi para Nápoles, ele sempre seguiu.
Estávamos sob a laranjeira que Mamãe adorava. O cheiro de cítricos pairava no ar como um feitiço, e eu me virei para ele, bochechas quentes, coração acelerado, palmas suando como se estivesse em algum romance jovem adulto temático de máfia.
“Eu não perdi nada,” eu soltei.
Ele ergueu uma sobrancelha, divertido. “Não pensei que tivesse.”
Eu me aproximei. Ele não se moveu. Isso era encorajamento, certo?
“Você tem me olhado diferente esta noite,” eu disse. Minha voz falhou. Eu limpei a garganta e tentei novamente, mais atrevida desta vez. “Não negue.”
O sorriso dele vacilou. “Andria…”
E então?
Eu me ergui nas pontas dos pés e o beijei.
Bem ali. Bem no jardim iluminado pela lua. Dezesseis anos, dramática, afogada em uma confiança que eu não tinha direito de possuir.
E por um segundo?
Ele me beijou de volta.
Mal. Suave. Apenas os lábios se tocando. E então—
Ele se afastou como se eu o tivesse queimado.
“Andria, não.”
Eu congelei.
Não?
Não?!
A voz dele era baixa. Rasgada. “Você tem dezesseis anos.”
Eu cruzei os braços, mortificada mas fingindo o contrário. “E já passei por três desilusões amorosas e duas viagens pela Europa. Sou praticamente quarenta emocionalmente.”
Ele sorriu tristemente. “Você não está pronta.”
“Estou apaixonada por você,” eu soltei, porque por que não ir para o fundo do poço.
O rosto dele mudou. Não para arrogância. Mas para outra coisa.
Culpa.
Como se eu fosse uma bomba linda que ele não podia deixar explodir.
“Eu me importo demais com você para me aproveitar de você,” ele disse. “Você... você ainda está descobrindo quem você é.”
Eu queria que a terra me engolisse por completo.
Girei nos calcanhares. “Esqueça.”
“Andria—”
“Não me siga de novo,” eu gritei. “Não até eu ser alguém que você não pode dizer não.”
Spoiler: Ele me seguiu. Sempre. E eu me tornei alguém a quem ninguém dizia não.
Mas naquela noite?
Naquela noite eu corri para o meu quarto, bati a porta, arranquei o vestido e chorei em um travesseiro da Versace, gritando: “EU NUNCA MAIS VOU COMER LARANJAS!”
E até hoje?
Eu nunca comi.
Eu dos Dias de Hoje:
Aquela cena se repete na minha cabeça toda noite como uma reprise amaldiçoada.
E Luca? Aquele rosto arrogante ainda tem a audácia de agir como se não se lembrasse.
Mas eu lembro.
E um dia, eu vou beijá-lo novamente—só que desta vez, eu vou ser a que se afasta.
Só pelo drama.
No dia seguinte, foi um jogo de esconde-esconde de luxo, versão Máfia.
E não—eu não estava orgulhosa disso. Ok, talvez um pouco.
Porque Luca? Aquele homem de rosto arrogante, olhos azuis e músculos abdominais flexionados parecia uma tragédia grega estava em todo lugar. Nos corredores, na piscina, no escritório do Papai, tomando espresso na minha varanda favorita como se fosse dono do lugar. Ele até se atreveu a se encostar no meu balcão de mármore preto favorito na cozinha enquanto conversava com os funcionários como se fosse o novo chefe da casa.
Era territorial. Era energia de alfa arrogante. Era sair da minha vista antes que eu te beije por despeito.
Então eu me escondi. Obviamente.
Me tranquei no meu quarto como uma mulher adulta perfeitamente racional sendo caçada por seu crush emocionalmente traumático que virou guarda-costas. Aleguei “enxaqueca” para Mamãe, “meditação” para os guardas, e “não ouse chegar perto de mim” para a IA da casa.
Mas mesmo escondida, as memórias me perseguiam.
Os olhares. Os suspiros da adolescência. O quase beijo.
A maneira como ele uma vez tocou meu cabelo quando pensou que eu estava dormindo.
A maneira como ele não percebeu quando eu não estava.
Ugh.
Por que diabos eu tive uma queda por ele em primeiro lugar?
E mais importante, por que diabos ele ainda estava sem camisa?!
Finalmente emergi como uma vilã renascida em leggings e um top esportivo, marchando para a academia de casa para socar coisas e esquecer homens que cheiravam a tentação e pecado.
E lá estava ele.
Luca. Bianchi.
No meio de uma repetição.
Sem camisa.
Suando, peito brilhando como um maldito anúncio de colônia, flexionando a cada levantamento como se os pesos o ofendessem pessoalmente.
Eu parei no meio do passo.
Revirei os olhos tão forte que quase torci uma retina.
“Ah, ótimo,” eu disse sem emoção, pegando uma toalha. “Achei que esta academia estava fora dos limites para estátuas gregas com problemas de abandono.”
Ele se virou lentamente—rosto arrogante já no lugar, porque é claro que estava—e exibiu aquele meio sorriso irritante. “Não sabia que você estava interessada em malhar agora. Pensei que preferia cardio via compras.”
Eu deixei a toalha cair e peguei um haltere. “E eu pensei que você estaria escondido dos seus erros do passado, mas aqui estamos.”
Ele arqueou uma sobrancelha, toalha pendurada no ombro. “Que erros?”
Ah, vamos fazer isso.
Eu sorri. “Você sabe... dizer não a uma adolescente de dezesseis anos emocionalmente estável com instintos românticos perfeitos e a audácia de te beijar sob uma árvore de laranja?”