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CAPÍTULO 5

PONTO DE VISTA DE CAMILLE

A garagem do hotel onde eu estava hospedada estava silenciosa demais. Meus saltos ecoavam contra o concreto, cada clique reverberando entre carros vazios e pilares sombreados. Já era tarde, passada a meia-noite, mas algo parecia errado. Desconfortável.

Minha confrontação com Rose e minha família me deixou exausta, vazia, exceto pela fria satisfação de finalmente ver por trás da máscara dela. Eu mexia no chaveiro eletrônico, querendo apenas chegar ao meu quarto de hotel e planejar meu próximo passo.

Uma porta de carro bateu em algum lugar na escuridão.

Parei, ouvindo. Nada além do zumbido das luzes fluorescentes e o som distante do tráfego.

Meu celular vibrou na bolsa. Número de Rose. Recusei a chamada, mas não antes de notar que meu sinal havia caído para uma barra.

Perfeito.

Passos atrás de mim. Vários.

Acelerei o passo, amaldiçoando minha escolha de sapatos. O elevador do hotel estava logo na esquina, depois de uma fileira de pilares de concreto. Se eu pudesse apenas...

"Indo a algum lugar, Sra. Rodriguez?"

Um homem surgiu de trás de um pilar. Alto, de ombros largos, vestido de preto. Profissional. Mais dois apareceram atrás de mim, cortando minha retirada.

Então não era um ataque aleatório.

"Na verdade, é Srta. Lewis agora." Minha voz permaneceu firme apesar do meu coração acelerado. "E eu tenho uma reserva para o jantar, então se me der licença..."

O primeiro homem sorriu. Não foi um sorriso agradável. "Receio que seus planos mudaram."

Apertei minha bolsa com mais força, sentindo o spray de pimenta que comecei a carregar depois de assinar os papéis do divórcio. "Minha irmã mandou vocês? Ou foi o Stefan?"

"Nosso empregador prefere permanecer anônimo." Ele se aproximou. "Agora, podemos fazer isso do jeito fácil..."

Não deixei ele terminar. O spray de pimenta acertou diretamente nos olhos dele.

Ele gritou, cambaleando para trás. Corri, chutando os saltos enquanto corria em direção ao elevador. Os outros dois homens gritaram, seus passos trovejando atrás de mim.

Quase lá. Só mais alguns...

A dor explodiu no meu couro cabeludo quando alguém agarrou meu cabelo, puxando-me para trás. Minha bolsa voou, os conteúdos se espalhando pelo concreto.

"Isso não foi muito legal." A voz do primeiro homem estava rouca de dor e raiva. "Segurem ela."

Mãos fortes agarraram meus braços. Lutei, chutando, arranhando, mas eles eram fortes demais. Profissionais. Treinados.

"Nosso empregador disse que você poderia ser difícil." O primeiro homem enxugou os olhos lacrimejantes. "Disse que você precisava aprender seu lugar."

Rose. Isso tinha a marca de Rose por toda parte. Seu golpe final, certificando-se de que eu entendesse o quão impotente eu realmente era.

"Se vão me matar," cuspi, "pelo menos tenham a coragem de olhar nos meus olhos."

Ele riu. "Matar você? Não, não. Só um recado. Um lembrete do que acontece com quem não sabe a hora de desistir."

O primeiro soco me atingiu no estômago, tirando o ar dos meus pulmões. Eu me dobrei, ofegando, mas os homens que me seguravam me mantiveram de pé.

"Veja, algumas pessoas não entendem seu papel na vida." Outro golpe, este nas minhas costelas. "Algumas pessoas precisam aprender..."

Eu senti o gosto de sangue. Minha visão ficou turva, a dor se espalhando pelo meu corpo. Mas eu não choraria. Não daria esse prazer à Rose.

"Já chega."

A voz cortou a garagem como um estalo de chicote. Feminina. Autoritária.

Meus agressores ficaram tensos. Através dos olhos inchados, vi figuras escuras emergindo das sombras. Homens de terno, movendo-se com precisão militar. E atrás deles...

Uma mulher. Alta, elegante, provavelmente na casa dos cinquenta, mas com uma qualidade atemporal. Ela usava um terno preto de grife que provavelmente custava mais do que meu carro, e seu cabelo prateado estava preso em um coque perfeito.

Mas foram os olhos dela que me prenderam. Afiados, inteligentes e estranhamente... familiares.

"Senhora," um dos meus agressores começou, "nosso empregador..."

"Está prestes a ter um dia muito ruim." A voz da mulher era gélida. "Soltem-na. Agora."

As mãos que me seguravam desapareceram. Eu desabei para a frente, a dor irradiando pelas minhas costelas.

"Prendam-nos." O comando da mulher fez seus homens se moverem. Meus agressores nem tentaram fugir. Sabiam que era inútil.

Ela caminhou em minha direção, os saltos fazendo barulho no concreto. Sapatos de grife. Provavelmente custavam mais que meu aluguel mensal.

"Camille Lewis." Não era uma pergunta. Ela sabia exatamente quem eu era.

Tentei me endireitar, manter alguma dignidade apesar do lábio partido e do vestido rasgado. "Eu te conheço?"

Os olhos dela suavizaram, só um pouco. Como se estivesse vendo algo, alguém, em meu rosto.

"Não." Ela fez um gesto, e mais homens apareceram com um kit médico. "Mas conheci alguém muito parecido com você, uma vez. Alguém que também teve que aprender da maneira difícil sobre confiança e traição."

O mundo estava ficando embaçado nas bordas. Sangue pingava no meu vestido arruinado, cada respiração enviando facas pelas minhas costelas.

"Quem..." Eu cambaleei, a escuridão se aproximando. "Quem é você?"

Ela deu um passo à frente, me segurando quando meus joelhos cederam. Tão perto, eu podia sentir o perfume dela, algo caro, único. Algo que provocava uma lembrança distante.

"Alguém que está te observando há muito tempo, Camille." A voz dela parecia vir de longe. "Alguém que vai te ajudar a se tornar tudo o que tentaram impedir."

A escuridão estava vencendo agora. Mas antes que ela me tomasse completamente, ouvi suas últimas palavras:

"Afinal... você se parece muito com minha filha."

Então nada além de escuridão.

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