




Capítulo 9: Asher
A porta da frente se fecha atrás dela com uma finalidade que corta a casa como uma lâmina fina e fria.
Espero no topo da escada, braços cruzados sobre o peito, o corrimão frio contra meus dedos, ouvindo o som suave dos passos dela se afastando na calçada, o jeito como eles desaparecem rápido demais no ar da noite.
Está frio lá fora.
Mais frio do que ela está vestida para enfrentar.
Ainda posso ver — o cardigã fino puxado apertado sobre os ombros, os jeans gastos, as ridículas sapatilhas que não oferecem nada contra o frio que sobe do chão.
Por um momento, fico ali, imóvel, respirando o calor espesso da casa, os restos do jantar e das risadas pairando no ar como fumaça, tentando me convencer de que não é da minha conta.
Mas a verdade é—
É.
Desço as escadas silenciosamente, minhas botas fazendo quase nenhum som contra a madeira gasta, e encontro meus pais ainda na cozinha, pratos meio limpos espalhados pela mesa, meu pai derramando o resto do vinho em dois copos descombinados.
"Ela está indo para casa sozinha?" pergunto, mantendo a voz calma, casual.
Minha mãe olha para cima, seu sorriso ainda quente da noite. "Não se preocupe, querido. Ela mora a apenas alguns quarteirões daqui. Mal uma caminhada de dez minutos."
Olho novamente para a porta, mandíbula tensa.
"Está escuro," digo. "E frio. E ela está—"
Me interrompo, engolindo o resto.
Pequena.
Frágil.
Vestida com pedaços de tecido mais adequados para um estúdio de balé quente do que para uma noite fria.
Meu pai acena com a mão. "É um bom bairro, Ash. O mais seguro possível."
Não digo nada.
Porque eu sei melhor.
Segurança não existe.
Não de verdade.
Coisas ruins acontecem em todo lugar.
Em bairros bons.
Em ruas tranquilas.
Para garotas que acham que uma caminhada de dez minutos para casa não é tempo suficiente para algo ruim acontecer.
Eu saberia.
Cerro os dentes e empurro o pensamento para baixo.
"Vocês deixam o Tyler sair para festas assim com frequência?" pergunto em vez disso, minha voz mais dura do que eu queria.
Minha mãe franze ligeiramente a testa, mas ainda está sorrindo quando responde. "Ele tem dezenove anos, querido. É velho o suficiente para tomar suas próprias decisões."
"E ele geralmente não exagera," meu pai acrescenta, pegando o controle remoto e desligando a TV com um movimento preguiçoso do pulso. "Bom garoto. Um pouco selvagem às vezes, mas nada sério."
Aceno, não confiando em mim mesmo para dizer mais.
A ideia de ele deixar aquela garota—
Deixá-la como se ela não fosse nada—
Me incomoda, uma pedra amarga pressionando minhas costelas.
Empurro isso para baixo, onde pertence, e me inclino para beijar minha mãe na bochecha, murmurando um "Obrigado por me deixar ficar aqui."
Ela me abraça mais forte do que eu esperava, seus braços quentes ao redor dos meus ombros, sua voz suave no meu ouvido.
"Esta sempre será sua casa, querido."
Aceno novamente, engolindo o nó na garganta.
Mas a verdade é que esta não é minha casa.
Não de verdade.
Dou um passo para trás, soltando-a, e me viro para as escadas, minhas botas pesadas contra a madeira enquanto subo dois degraus de cada vez.
O quarto de hóspedes me espera no final do corredor.
Ou pelo menos, é assim que eles chamam.
Mas no segundo em que abro a porta, sei que é mais do que isso.
As paredes são pintadas do mesmo azul-marinho profundo da casa que deixei para trás três anos atrás. A cama está arrumada com o mesmo edredom escuro no qual eu costumava me jogar depois de longos turnos nos docas, na época em que a pior coisa com que eu tinha que me preocupar era pagar a gasolina e passar em cálculo.
Há algumas das minhas coisas antigas espalhadas por aí – livros que mal me lembro de ter lido, uma foto emoldurada de nós quatro em alguma viagem de praia há muito esquecida, a luva de beisebol surrada que me recusei a jogar fora.
Eles tentaram fazer com que esta casa na qual se mudaram parecesse com a que deixaram para trás há um ano.
Porque, não importa o quanto tentassem fazer com que parecesse a mesma, não é.
Eu não sou.
Sento-me na beirada da cama, o colchão afundando sob meu peso, e passo a mão pelo cabelo, olhando para o chão.
Eu não queria voltar.
Se dependesse de mim, eu ainda estaria lá fora – trabalhando, lutando, fazendo algo que fizesse sentido, algo que importasse, algo onde as regras fossem claras e a sobrevivência fosse simples.
Mas não dependia de mim.
Na verdade, nunca depende.
Meu superior tinha ordenado – uma licença obrigatória, assinada, carimbada e entregue com um olhar que dizia você não tem escolha, Hayes.
E aqui estou eu.
Sentado em uma casa que não é minha, vestindo uma pele que não se encaixa direito, tentando fingir que as paredes não estão se fechando.
Reclino-me, um braço dobrado atrás da cabeça, e olho para o teto, as sombras escuras das pás do ventilador girando em círculos lentos acima de mim.
E, contra a minha vontade, minha mente volta para ela.
Penny.
Era assim que a chamavam.
Penny com o sorriso brilhante demais e o cabelo loiro suave torcido em um coque apertado, mechas caindo soltas ao redor das orelhas.
Penny com o corpo pequeno envolto em um tecido rosa fino e meias frágeis que mostravam os contornos tênues de hematomas nos tornozelos, se você olhasse de perto.
Penny que parecia não pertencer a este mundo de jeito nenhum.
Como se tivesse sido retirada de algum livro de histórias onde coisas ruins não acontecem com boas meninas.
Eu odeio garotas como ela.
Privilegiadas.
Delicadas.
Protegidas de tudo o que é real, tudo o que é brutal, tudo o que faz o mundo girar do jeito que gira.
O tipo de garota que nunca teve que se preocupar com noites frias e mãos cruéis e a sensação de nó no estômago quando vira uma esquina e percebe que não está sozinha.
O tipo de garota que não entende que segurança é um mito.
Que não existe isso de andar para casa sozinha e ser intocável.
E ainda assim—
Ainda assim.
A imagem dela parada na porta, segurando o cardigã mais apertado em torno dos ombros estreitos, tentando sorrir apesar do constrangimento, não me abandona.
Nem a memória de Tyler.
Sorrindo. Rindo. Desprezando a responsabilidade como se não significasse nada.
Deixando-a ali sem pensar duas vezes.
Sem uma mensagem.
Sem um aviso.
Viro de lado, pressionando o punho contra o colchão, apertando até os nós dos dedos estalarem.
Não se trata dela.
Trata-se dele.
É sobre a negligência, a arrogância, a suposição de que tudo daria certo porque sempre dá.
Porque quando você nunca viu algo dar errado—
Você acha que nunca dará.
Olho para a parede, mandíbula tensa, respirando lenta e uniformemente.
Eu não deveria me importar.
Eu não me importo.
Não é problema meu se Tyler é um idiota.
Não é da minha conta se alguma princesinha mimada tem que andar para casa no escuro.
Estou aqui para dormir, para me recuperar, para cumprir essa maldita licença obrigatória sem perder a cabeça.
Não estou aqui para resgatar ninguém.
Especialmente não ela.
Especialmente não alguém como ela.
Especialmente não alguém que olha para o mundo como se fosse macio e seguro e estivesse esperando para ampará-la se ela cair.
Fecho os olhos.
Ela não é meu problema.
E vou garantir que nunca se torne um.