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Capítulo 3: Penny

O carro do Tyler está parado do lado de fora quando eu tranco a porta atrás de mim.

Puxo meu moletom mais apertado ao redor da cintura e corro os últimos passos pelo gramado. Ele se inclina e abre a porta do passageiro antes de eu chegar, sorrindo como se não tivéssemos nos visto há doze horas.

“Bom dia, flor do dia,” ele diz.

Eu me sento no banco e jogo minha bolsa para o banco de trás. “Você está adiantado.”

Ele dá de ombros, saindo do meio-fio. “Tive que me redimir.”

“Você está perdoado,” digo, inclinando-me para beijar sua bochecha.

A mão dele desliza pelo console e repousa na minha coxa, casual e quente. “Ainda me sinto mal. Aquele sanduíche estava horrível, né?”

“Foi terrível,” eu rio. “Mas foi um gesto fofo.”

Ele olha para mim rapidamente, como se quisesse ter certeza de que eu não estou mais secretamente chateada. Não estou. Nem um pouco. Não quando ele está assim—sorrindo, com os olhos suaves, e tentando. Sempre tentando, mesmo quando erra.

O campus fica a apenas dez minutos do nosso bairro, mas o trânsito perto da entrada é sempre um desastre. Tyler não parece se importar. Ele tamborila os dedos no volante e canta baixinho junto com a playlist indie-pop que colocou.

Minha mochila parece mais pesada do que de costume nos ombros enquanto caminhamos em direção ao prédio principal. Tenho duas aulas hoje—nada muito importante, mas o suficiente para manter meu GPA estável. O balé ocupa a maior parte do meu horário, e as provas para a Gala significam ainda mais ensaios do que o normal. Mesmo assim, não quero relaxar. Eu gosto da escola. Gosto de fazer as coisas bem. Mesmo quando estou cansada.

Estamos no meio do corredor quando ouço a primeira risada—aguda, frágil, ensaiada.

Então a voz da Rebecca corta o ar.

“Meu Deus, olha quem está aqui, a rainha do gelo.”

Eu diminuo o passo. Tyler não, não de imediato. Mas então ele a ouve também.

Rebecca se inclina contra uma fileira de armários, toda de gloss e arrogância, flanqueada por seu grupo habitual—e uma nova adição. Zoe. A pequena e quieta Zoe, agora acenando com a cabeça e fingindo que sempre pertenceu ali.

Rebecca inclina a cabeça quando me vê. “Penelope. Uau. Você parece... cansada.”

Eu não paro de andar, mas também não acelero.

“Ainda brincando de bailarina, né?” ela diz. “Tanto dançar e você ainda não é tão magra quanto eu.”

Meu estômago se retorce.

Ela diz isso como se fosse uma piada, como se estivesse ajudando.

As garotas ao redor dela riem.

Os dedos de Tyler se contraem nos meus, mas ele não diz nada.

Rebecca dá um passo à frente, sorriso escorrendo doçura. “Você sequer come? Ou é só tipo… cubos de gelo e desespero?”

“Rebecca,” murmuro, sem olhar para ela.

Mas ela está apenas começando.

Ela estende a mão e passa os dedos levemente pelo braço de Tyler—casual, como se não significasse nada. Mas ela está me observando o tempo todo.

“Pobre Ty,” ela diz. “Ela ao menos te faz um boquete?”

Meu corpo inteiro fica frio.

“Ela parece tão puritana,” Rebecca continua, olhos brilhando. “Como se ao tocar nela do jeito errado ela fosse se despedaçar. Ou te denunciar.”

O grupo cai na gargalhada.

Tyler puxa o braço de volta, finalmente. “Ok, já chega.”

Mas Rebecca não terminou. Ela acena uma mão preguiçosa na minha direção e se vira para as garotas.

“Essa aqui realmente acha que balé é uma carreira de verdade.”

Mais risadas.

Eu não percebo o quão imóvel estou até que Tyler começa a me puxar para frente novamente.

"Ela não vale a pena", ele murmura, me guiando para longe.

Olho para trás apenas uma vez.

Caminhamos até a metade do corredor antes de eu finalmente encontrar minha voz.

"Aquela era a Zoe", digo, mesmo já sabendo que era.

Ty olha para trás, dá de ombros. "Acho que sim?"

"Desde quando ela anda com a Rebecca?"

"Não sei. Talvez recentemente?"

Paro de andar.

Ele para também, ajustando a mochila no ombro. Sua mandíbula está tensa. Não irritado—ainda. Mas posso ver que está caminhando para isso.

"Ela é aquela que você ajudou com química, certo?" pergunto.

"Sim."

"Ela pediu sua ajuda?"

Há uma pausa. Apenas um segundo. Talvez menos.

"Não. Eu ofereci. Por que isso importa?"

Olho além dele, de volta pelo corredor. A voz de Rebecca ainda ecoa nos meus ouvidos. Seu riso. A expressão no rosto de Zoe—como se ela estivesse participando, mesmo sem falar.

"Isso só parece estranho", digo. "Como se não fosse aleatório."

"Pen..."

"No semestre passado", começo, e minha voz vacila um pouco, mas não paro. "Eles derramaram uma bandeja inteira de comida em mim e disseram que foi um acidente. Rebecca colocou chiclete nas minhas sapatilhas de ponta. Ela fez uma conta falsa, postou sobre mim, e fez com que as pessoas tirassem print e enviassem para meus instrutores. Você se lembra disso? Ou isso não foi suficiente para você pensar que elas são capazes disso?"

Tyler suspira e puxa as mangas do moletom até os cotovelos. "Não estou dizendo que elas são santas. Só estou dizendo que Zoe não parece ser desse tipo."

"Você não a conhece."

"Sei que ela é quieta. Inteligente. Engraçada. Ela só precisava de ajuda, e eu dei."

Cruzo os braços. "E agora ela está ao lado de Rebecca enquanto ela me humilha na frente de um corredor cheio de gente."

"Ela não disse nada."

"Ela não precisava."

Ty desvia o olhar, depois volta a me olhar, visivelmente tentando manter a calma. "Olha, talvez ela só tenha acabado no grupo errado. Ou talvez ela achou que Rebecca estava brincando."

"Isso não foi brincadeira", retruco.

Ele passa a mão pelo cabelo. "Ok. Eu sei. Só acho que você está tirando conclusões precipitadas."

Olho para ele.

Quero que ele fique bravo. Quero que ele volte lá e diga algo. Quero que ele me olhe como fez ontem na minha varanda e diga, Você não merecia isso.

Mas, em vez disso, ele está defendendo Zoe. A garota com os olhos suaves e o sorriso agora familiar que consegue desaparecer na multidão enquanto Rebecca me destrói com um sorriso.

Piscar forte e me virar. "Você realmente não entende."

Tyler suaviza, se aproximando. "Penny, vamos. Não faça isso."

"Eu não estou fazendo nada."

"Ela não quis dizer isso—"

"Rebecca ou Zoe?"

Ele hesita.

Exatamente.

Balanço a cabeça, tentando engolir o nó que sobe na minha garganta.

"Você tem muita coisa acontecendo", ele diz gentilmente. "O Gala, os ensaios, suas aulas... essas coisas, não precisam ocupar espaço na sua cabeça."

"Eu não posso decidir isso", digo. "Eu não posso escolher o que fica. Ela me humilhou na frente de todos. Ela me fez sentir como se eu fosse—"

Paro. Não sei nem a palavra certa.

Tyler toca meu braço. "Você não precisa carregar isso. Estou aqui, ok?"

Eu assinto, mas é rígido. Mecânico.

Ele se inclina e beija minha têmpora como se nada tivesse acontecido. "Me manda mensagem depois da aula?"

"Sim", digo.

Ele segue por um caminho.

Eu vou pelo outro.

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