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Capítulo 1: Penny

As luzes do estúdio zumbem acima, afiadas e frias como tudo mais neste lugar. Os espelhos alinhados nas paredes capturam cada falha, cada lampejo de dúvida, cada passo que cai até mesmo meio segundo atrasado. Já estou suando, a nuca úmida, minhas mãos pegajosas dentro do cetim rosa das sapatilhas de ponta.

Eu lanço no jeté e pouso errado.

Não desastrosamente. Mas o suficiente.

"De novo," diz Madame Loretto, sua voz tão afiada quanto o toque de sua bengala contra o chão.

Eu volto para a posição. Meu coração já está batendo rápido demais. Sinto cada par de olhos na sala se voltarem para mim—olhares sutis, sorrisos de lado, do jeito que você olha quando alguém está sangrando e você está apenas feliz que não é você.

Eu me movo novamente.

E erro novamente.

Não muito. Um tropeço na aterrissagem. Uma fração de um batimento atrasado da música. Um erro que ninguém veria—exceto Madame Loretto.

O piano para com um som agudo e discordante enquanto ela se vira nos calcanhares.

"Penelope Vale." Seu tom é exausto. "Você é nova aqui?"

Eu junto os calcanhares, queixo levantado, ombros retos. "Não, Madame."

"Você está machucada?"

"Não, Madame."

"Então você deve ser preguiçosa." Ela estala a língua. "Isso é decepcionante."

O silêncio se estende. Meus ouvidos zumbem com o esforço de manter minha respiração silenciosa.

"Eu estou te ensinando há três anos," ela diz, andando lentamente na frente dos espelhos, seu reflexo a seguindo como um fantasma. "Três anos. Você tinha o quê, dezesseis quando veio aqui? E agora dezenove, ainda aqui, ainda com sorte de estar neste estúdio. Você é a garota mais jovem nesta turma por completos quatro anos. Você entende como isso é raro? Como você é sortuda de até mesmo estar dançando nesta sala?"

"Sim, Madame."

"Então por que está desperdiçando isso?" Sua voz se eleva, não em volume, mas em nitidez. "Você dança desde os dois anos. Dezessete anos de treinamento e ainda pousa como se não entendesse a gravidade. As provas para a Gala da Primavera são na próxima semana, e você está dançando como se já tivesse perdido."

Minha garganta está apertada. Minha coluna parece que pode se partir de tão duro que estou me segurando.

"Você quer o solo?" ela diz. "Então aja como alguém que merece isso. Caso contrário, vou dar para alguém com metade do seu talento e o dobro da sua disciplina."

Um longo silêncio. Ela se vira para o pianista.

"Tirem cinco minutos. Todos. Penelope, sente-se."

Eu caio no chão, pressionando minhas palmas contra o frio do marley para esconder o jeito que elas tremem.

Mila está ao meu lado um segundo depois, seus joelhos dobrados contra o peito, sua voz suave. "Ok, o que foi isso?"

Eu não olho para ela. Apenas encaro diretamente o espelho, onde meu rosto parece pálido demais e tenso demais.

"Você nunca erra isso," ela diz. "Nunca. Você literalmente fez isso dormindo naquela noite de confinamento no outono passado. O que está acontecendo?"

Eu exalo. Devagar. Controlado. "Ty esqueceu de me buscar depois da aula."

Ela pisca. "Tyler?"

Eu aceno com a cabeça. “Esperei por uns vinte minutos, mas ele estava ajudando uma garota a estudar e esqueceu. Tive que correr seis quarteirões e me trocar no corredor só para chegar aqui a tempo.”

A boca da Mila se torce. “Essa já é a, o quê, a quarta vez?”

“Quinta.”

Ela não diz para eu terminar com ele, mas está escrito em todo o seu rosto.

“Ele disse que estava arrependido,” acrescento, mesmo sem saber exatamente por quê. “Ele só... se distraiu.”

“Se distraiu?” Mila diz. “Durante a semana de ensaios para o Gala?”

Balanço a cabeça, puxando os joelhos para o peito. “Tudo bem. Só estou um pouco fora de ritmo. Vou consertar isso.”

Ela não diz nada por um segundo, depois encosta o ombro no meu. “É bom que conserte. A Amanda já está ensaiando mentalmente o discurso de aceitação dela.”

Eu gemo, rindo baixinho.

Mas a tensão no meu peito não desaparece.

Quando Madame Loretto volta para o estúdio, ela nem olha para mim. Apenas diz: “Do começo.”

Eu me levanto.

Viro-me para o espelho novamente e, por um momento, apenas respiro. Olho para mim mesma—os traços duros das minhas maçãs do rosto, a tensão no meu maxilar, o músculo se contraindo sob o tecido pálido do meu collant.

Eu conheço essa dança. Eu vivi nela.

Ela é minha.

A música começa.

Eu me movo.

Tudo desaparece—a turma, a dor nas minhas costas, a picada das palavras da Madame. Minhas pernas se estendem com precisão, braços cortando o ar como água. Minha coluna está ereta, o core firme, dedos suaves e vivos. Eu sinto o fluxo da música em cada centímetro de mim.

Eu giro. Eu aterrizo. Eu respiro através disso.

Jeté. Pirueta. Relevé.

Perfeito.

Minha sombra se estende ao meu lado no espelho, precisa e afiada, mas eu não olho para ela. Estou no movimento. Não estou esperando que esteja certo—eu sei que está. Cada contagem. Cada movimento do meu pulso. Meu rosto permanece imóvel, indecifrável. Mas por dentro, estou em chamas.

O movimento final me leva ao centro, uma queda lenta e deliberada de arabesque para a última posição. Eu paro, equilibrada. Poise. Leve.

Eu exalo.

E então... silêncio.

Madame Loretto está na beira da sala, indecifrável.

Eu espero por algo—crítica, correção, até mesmo mais silêncio.

Em vez disso, ela dá um único, breve aceno de cabeça.

É isso.

Sem aplausos. Sem elogios. Mas eu sinto isso como um trovão.

Meu peito se enche de calor, e um sorriso se espalha pelo meu rosto antes que eu possa impedir.

Aquele aceno significa que eu consegui. Aquele aceno significa que foi suficiente.

Eu me sento novamente, mais devagar desta vez, a adrenalina ainda pulsando pelos meus membros.

Mila sorri para mim. “Ok. Isso foi assustadoramente bom.”

“Sério?” digo, fingindo beber água, embora minhas mãos estejam tremendo um pouco.

“Você parecia outra pessoa. Tipo... alguém saído de um filme. Você arrasou.”

Eu sorrio mais amplo. “Eu sei.”

Não é arrogância. Nem mesmo alívio.

É algo mais silencioso.

Algo conquistado.

Por alguns segundos, não estou pensando em Tyler ou em ter dezenove anos ou em como tive que correr para chegar aqui. Estou apenas pensando naquela última nota de música, e como a acertei com meu corpo inteiro ainda vibrando.

Eu não preciso de elogios.

Eu não preciso de aplausos.

Eu só preciso da dança.

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