




7: Teodoro
Observei os dedos dela se enrolarem ao redor da haste da taça de vinho, cada movimento delicado, mas intencional, como tudo mais nela. Minha companheira. O pensamento ainda enviava raios através das minhas veias, uma corrente de descrença e maravilha que vinha percorrendo meu corpo desde o momento em que nossos olhos se encontraram pela primeira vez. A Deusa da Lua finalmente havia respondido às preces que eu quase havia parado de fazer. Duzentos anos de espera, e agora ela estava diante de mim—Emeline Maxwell, com seus olhos verdes atentos e sorriso reservado. Minha rainha destinada. Se ao menos eu pudesse convencê-la a aceitar o que o destino escreveu para nós.
Ela deu um gole controlado no vinho, seu olhar varrendo o salão de baile como se catalogasse saÃdas e possÃveis ameaças. Mesmo neste momento de suposta relaxamento, ela permanecia a vigilante gamma. Algo torceu em meu peito—orgulho misturado com tristeza. Orgulho por sua força, tristeza pelas circunstâncias que a forjaram.
"Seu esquema de segurança é notavelmente discreto," ela observou, trazendo sua atenção de volta para mim. "Contei quatorze guardas, mas eles se misturam bem. Bom treinamento."
Assenti, satisfeito com sua avaliação. "Uma habilidade necessária quando se deve proteger sem criar uma atmosfera de paranoia."
O canto de sua boca se levantou ligeiramente—não exatamente um sorriso, mas talvez seu parente distante. O balcão de mármore entre nós brilhava sob os lustres que derramavam luz dourada sobre suas feições, suavizando a desconfiança que parecia permanentemente gravada ali. Estávamos na ponta mais tranquila do bar, uma pequena ilha de relativa privacidade no mar de posturas diplomáticas que era a cúpula.
"Conte-me sobre seu papel como gamma," eu disse, escolhendo minhas palavras com cuidado. "É uma posição incomum para a irmã de um alfa."
Algo brilhou em seus olhos—cautela, talvez—antes de responder. "A Lua de Sangue valoriza a capacidade acima da convenção."
"Como todos deverÃamos," respondi, erguendo ligeiramente meu copo em saudação.
Ela me estudou por um momento, como se ponderasse se meu sentimento era genuÃno. O que quer que tenha visto deve ter a satisfeito, pois seus ombros relaxaram incrementalmente.
"Eu supervisiono a segurança de todo o território," ela explicou, sua voz assumindo um tom mais confiante. "Programas de treinamento, cronogramas de patrulha, avaliação de ameaças, protocolos de resposta a emergências."
"Uma responsabilidade substancial."
Ela assentiu. "Me convém. Implementei um novo sistema de treinamento para nossos guerreiros mais jovens que combina métodos tradicionais de combate com abordagens táticas modernas."
"Como assim?" perguntei, genuinamente curioso. Estruturas de matilha sempre me fascinaram, particularmente como evoluÃam mantendo seu caráter essencial.
Enquanto Emma descrevia seu regime de treinamento, toda sua postura se transformou. Suas mãos se moviam com precisão elegante enquanto delineava formações de combate, seus olhos brilhavam ao detalhar o progresso de seus jovens pupilos, e sua voz carregava um tom de orgulho ao mencionar como os tempos de resposta a emergências haviam melhorado em trinta por cento no último ano.
Eu me vi cativado não apenas por suas palavras, mas por esse vislumbre da mulher por trás do exterior cauteloso. Ali estavam paixão, inteligência e dedicação—qualidades que a tornariam não apenas uma companheira adequada, mas uma rainha excepcional. Se ao menos ela pudesse ver além da coroa para o homem que a usava. Se ao menos ela pudesse confiar que eu não era nada como o lobo que a machucou antes.
"Você ficou quieto," ela observou, aqueles olhos perspicazes estudando meu rosto. "Te entediei com detalhes administrativos?"
"Pelo contrário," assegurei. "Estava admirando sua abordagem metódica. A maioria dos gammas de matilha foca exclusivamente no treinamento fÃsico, mas você criou um sistema de segurança abrangente."
Um leve rubor coloriu suas bochechas. Meu lobo se agitou ao ver isso, satisfeito por ter causado esse pequeno sinal de prazer.
"O que você faz quando não está protegendo a Lua de Sangue?" perguntei. "No seu tempo livre."
Ela riu então, um som suave que pareceu surpreender até ela mesma. "Dormir, principalmente."
Sorri em resposta. "Um luxo em falta, entendo perfeitamente."
"Mas também..." ela hesitou, como se revelasse um segredo. "Eu pinto."
"Óleos? Aquarelas?"
"AcrÃlicos, geralmente. Às vezes, técnicas mistas." Ela girou suavemente o vinho, observando o lÃquido borgonha aderir ao vidro. "Paisagens, principalmente. Há uma crista na borda leste do nosso território que dá vista para três vales. A luz lá ao pôr do sol..."
Ela se calou, mas eu pude ver em sua expressão—um momento de fuga para algum lugar que lhe trazia paz.
"Gostaria de ver seu trabalho algum dia," eu disse, as palavras saindo antes que eu pudesse considerar suas implicações.
Seu olhar voltou para o meu, surpresa evidente. "Não sou particularmente boa."
"Não é por isso que eu gostaria de vê-los."
Houve um entendimento entre nós—eu queria conhecê-la, vislumbrar o mundo através de seus olhos. A verdade pairava no ar, não dita, mas reconhecida. Ela tomou outro gole de vinho, usando o momento para se recompor.
"E você?" ela perguntou. "O que faz o formidável Rei Lycan quando não está governando um reino?"
"Dormir," eu ecoei sua resposta anterior, satisfeito quando isso lhe arrancou outro pequeno sorriso. "Mas, na verdade? Eu leio. História, principalmente."
"Algum perÃodo em particular?"
"A Era das Migrações me fascina. Quando nossos tipos estabeleceram territórios e estruturas de governança pela primeira vez." Inclinei-me um pouco mais perto, baixando a voz. "Os relatos históricos são lamentavelmente incompletos. A maioria dos textos oficiais sugere uma separação natural das espécies, mas as fontes primárias contam uma história diferente."
Ela ergueu a sobrancelha. "Revisionismo polÃtico? Estou chocada."
Eu ri de sua entrega seca. "Exatamente. Tenho coletado histórias orais de anciãos Lycans e lobisomens. A verdade é muito mais complexa do que o que é ensinado nas escolas."
"Isso parece uma pesquisa perigosa para um rei," ela observou, mas seu tom havia aquecido, a curiosidade substituindo a cautela.
"Talvez. Mas como posso nos guiar para um futuro melhor se não entender o passado genuÃno?"
Ela considerou isso, inclinando levemente a cabeça. "É por isso que você iniciou esta cúpula? Para corrigir desequilÃbrios históricos?"
"Em parte," admiti. "Embora eu estaria mentindo se alegasse que essa nobre motivação fosse a única. O reino é mais forte unido do que dividido. Interesse próprio e justiça às vezes se alinham."
"Idealismo pragmático," ela murmurou. "Combinação interessante."
"Isso é aprovação que estou ouvindo, Gamma Maxwell?"
"Vamos chamar de intriga cautelosa, Sua Majestade."
Eu alcancei a garrafa de vinho para encher seu copo, meu movimento mais rápido do que eu pretendia. Ela se contraiu—um pequeno, quase imperceptÃvel tensionar dos ombros, um momentâneo arregalar dos olhos. Minha mão parou no ar, meu peito se apertando com a evidência de seu medo.
Continuei o movimento lentamente, deliberadamente, servindo o vinho com cuidado medido antes de colocar a garrafa gentilmente. O momento se estendeu entre nós, frágil como vidro soprado.
"Desculpe," ela disse baixinho, seu olhar caindo para o copo. "Estou nervosa. Eu só..."
"Emma," interrompi, seu nome um comando gentil que trouxe seus olhos de volta para os meus. "Não há necessidade de você se desculpar. Não por isso. Nunca."
Algo vulnerável passou por seu rosto—vergonha, talvez, ou o fantasma de feridas antigas ainda cicatrizando. Eu queria segurar sua mão, oferecer um conforto fÃsico, mas sabia que tal gesto só pioraria as coisas. Em vez disso, permaneci imóvel, oferecendo apenas meu olhar firme e presença inabalável.
"Já faz anos," ela disse, frustração na voz. "Eu já deveria ter superado isso."
"Não há um prazo para a cura," respondi. "E certamente não há 'deveria' nisso."
Seus olhos procuraram os meus, buscando condescendência ou pena, não encontrando nenhum dos dois.
"Isso te incomoda?" ela perguntou, tão baixo que eu poderia ter perdido se não fosse minha audição aguçada.
Meu coração doeu com a incerteza em sua voz. "Sua cautela? Não. Me incomoda que alguém tenha feito isso ser necessário."
A tensão em seus ombros diminuiu um pouco. Eu sorri, esperando dissipar a seriedade que havia se instalado entre nós. "Além disso, me disseram que eu me movo com um propósito intimidador mesmo em situações casuais. Meus conselheiros sugeriram que eu praticasse parecer mais... acessÃvel."
"DifÃcil para alguém da sua altura e porte," ela observou, um toque de seu calor anterior retornando.
"Uma desvantagem diplomática," concordei solenemente. "Talvez eu devesse conduzir todas as reuniões sentado."
Isso lhe arrancou um sorriso genuÃno, pequeno, mas real. Uma sensação de vitória me invadiu, desproporcional ao pequeno feito. Meu lobo se envaideceu com a satisfação de ter agradado nossa companheira, mesmo que momentaneamente.