




6: Emma
"Você não tem nada pelo que se desculpar," ele disse, sua voz grave carregando aquele leve sotaque que parecia envolver cada palavra. "Você passou por muita coisa, e foi você quem foi injustiçada, não o contrário."
Eu assenti lentamente, meus olhos caindo para minhas mãos. Elas tremiam levemente, e eu as abri contra a pedra fria para tentar acalmá-las. "Logicamente, eu sei disso," admiti. "Mas há uma diferença entre saber algo e sentir isso."
"Há," ele concordou, sua voz suave. "A mente se cura de forma diferente do coração."
A compreensão simples nessas palavras me fez olhar para ele. Seu perfil era forte contra o céu noturno, seus olhos focados na cidade abaixo como se deliberadamente me desse espaço para observá-lo sem a pressão de seu olhar.
"O que você quer fazer, Emma?" ele perguntou depois de um momento, sua voz cuidadosa, tensa com o que eu reconheci como uma emoção rigidamente controlada. "Sobre isso." Ele gesticulou vagamente entre nós, o movimento abrangendo os fios invisÃveis do vÃnculo de companheiros que vibravam no ar.
A pergunta pairou entre nós, carregada com séculos de tradição, com imperativos biológicos, com implicações polÃticas que nenhum de nós podia ignorar. Mas sob tudo isso, eu ouvi a verdadeira pergunta — não o que deverÃamos fazer, mas o que eu queria? Quando foi a última vez que alguém me perguntou isso sobre algo tão fundamental?
"Eu quero tentar," eu disse suavemente, as palavras parecendo ao mesmo tempo aterrorizantes e libertadoras ao saÃrem dos meus lábios. "Tentar te conhecer e dar a você — a nós — uma chance."
Seus ombros relaxaram um pouco, embora suas mãos permanecessem frouxamente entrelaçadas à sua frente, sua postura ainda cuidadosa.
"Mas eu sei que não vai ser fácil," continuei, forçando-me a manter seu olhar enquanto ele se virava para me encarar. "E não quero te fazer esperar até que eu me sinta à vontade. Não sei quanto tempo isso vai levar. Benjamin Thorne me destruiu, e muito."
Eu não tinha a intenção de dizer seu nome, não queria trazer aquele fantasma para esta varanda conosco. Mas lá estava ele, pairando no ar entre nós como veneno.
Theo se endireitou então, sua altura imponente mesmo a alguns metros de distância. Mas foram seus olhos que me prenderam — ferozes com uma emoção que eu não consegui identificar imediatamente.
"Emeline Maxwell," ele disse, meu nome completo saindo de sua boca com uma ternura inesperada, "você não está destruÃda. Você é uma sobrevivente." Ele deu um único passo à frente, lento e deliberado, me dando tempo para recuar se eu precisasse. "Sim, você ainda está se curando, mas está se reconstruindo mais forte."
As palavras atingiram algo profundo dentro de mim, alguma câmara oculta do meu coração que havia permanecido trancada até mesmo para mim. Minha loba choramingou suavemente, avançando como se quisesse encontrar sua declaração.
Dei-lhe um sorriso tÃmido, surpreendendo-me com o calor genuÃno que senti por trás dele. "Acho que essa é a coisa mais gentil que alguém me disse em muito tempo."
O sorriso que ele respondeu transformou seu rosto, suavizando os ângulos reais em algo mais acessÃvel, mais humano. Meu coração disparou levemente ao ver aquilo.
"Vamos tomar uma bebida?" ele perguntou, a simples questão oferecendo um caminho adiante—não uma exigência, não uma declaração, apenas um convite para dar um pequeno passo.
Assenti, aquele pequeno sorriso ainda brincando nos meus lábios. "Eu gostaria."
Ele me ofereceu seu braço, o gesto formal, mas caloroso. Hesitei apenas brevemente antes de colocar minha mão levemente em seu antebraço. O contato enviou um choque de calor pela minha palma, subindo pelo meu braço, se estabelecendo em algum lugar atrás das minhas costelas. Minha loba avançou novamente, sua alegria um contraponto brilhante à minha cautela humana persistente.
Enquanto Theo me conduzia em direção à s portas da varanda, eu estava agudamente ciente do calor dele ao meu lado, do movimento sutil dos músculos sob meus dedos, do cheiro dele me envolvendo como uma promessa. O vÃnculo entre nós pulsava com potencial e complicação em igual medida.
As portas se abriram à nossa aproximação, como por magia, embora eu tenha vislumbrado um atendente real se afastando discretamente. O salão além brilhava com luz dourada, a música crescendo enquanto cruzávamos o limiar. Conversas diminuÃram enquanto cabeças se viravam em nossa direção, curiosidade e especulação ondulando pela multidão como vento através de grama alta.
Minha mão apertou involuntariamente o braço de Theo. "Todos estão olhando," murmurei, lutando contra o impulso de me retrair.
"Deixe que olhem," ele respondeu, sua voz baixa apenas para meus ouvidos. "Eles não verão nada além do rei escoltando uma convidada distinta ao bar."
Olhei para ele, captando a mÃnima sugestão de travessura em seus olhos âmbar. "É isso que eu sou? Uma convidada distinta?"
Seu olhar suavizou ao encontrar o meu. "Você é o que escolher ser, Emma. Isso depende inteiramente de você."
A simples declaração me envolveu como um manto quente. Endireitei os ombros, buscando a força que lutei tanto para recuperar, e permiti que Theodore Lykoudis, Rei dos Lycans e meu companheiro de segunda chance, me guiasse através da multidão que se abria em direção ao bar reluzente no final do salão.
Um passo. Depois outro. A jornada de mil milhas, começando aqui, agora, com minha mão em seu braço e a possibilidade se estendendo diante de nós como um território não mapeado—belo, perigoso e inteiramente nosso para descobrir.