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4: Emma

Houve um momento de silêncio atordoado, quebrado apenas pelos sons distantes da cidade abaixo e pela música contínua do salão de festas atrás de nós.

"Quem a machucou?" A pergunta de Theo foi direcionada a Elijah, seu tom mudando do gentil que ele usou comigo para algo mais duro, mais autoritário. "Quem foi seu primeiro parceiro?"

O maxilar de Elijah se contraiu, seus instintos protetores visivelmente lutando contra seu respeito pela autoridade real. "Alpha Benjamin Thorne da Alcateia Silver Crescent," ele respondeu finalmente. "Foi complicado, meu Rei," Elijah continuou, sua voz cuidadosamente controlada. "Eu a trouxe de volta para casa depois da separação, e ela assumiu como minha gamma."

O que meu irmão não disse — o que ele não poderia transmitir com aquelas palavras simples — foi como ele me encontrou naquela noite, encolhida em um canto do alojamento do território de Benjamin, com o sangue do meu lábio rachado manchando a gola da minha camisa. Como ele desafiou a lei da alcateia ao entrar no território de outro Alpha sem ser convidado, como ele me carregou para fora quando minhas pernas não me sustentavam. Como a repercussão diplomática quase resultou em conflito aberto entre nossas alcateias.

"Meu Rei, poderia ter um momento a sós com minha irmã?" A voz de Elijah pode ter sido formal, mas sua preocupação era evidente.

"Claro, Alpha Maxwell, estarei lá dentro." Ele se virou para Elena, oferecendo seu braço e a conduzindo para dentro. "Luna Elena, adoraria saber mais sobre os arranjos de defesa da sua alcateia, ouvi dizer que são algo de que se orgulhar."

As portas da varanda se fecharam suavemente atrás de Theo e Elena, deixando Elijah e eu sozinhos com o ar da noite e o peso impossível do que acabara de acontecer. O cheiro do Rei pairava no ar, envolvendo-me como uma promessa que eu tinha medo de acreditar. Meus dedos tremiam contra a pedra fria da balaustrada enquanto eu olhava para a vasta e cintilante Cidade Real, cada luz uma estrela distante que eu nunca poderia alcançar.

Elijah não falou imediatamente. O silêncio entre nós parecia ao mesmo tempo reconfortante e carregado de perguntas não feitas. De dentro do salão de festas, sons abafados de música e conversas filtravam através do vidro grosso, um lembrete de que o mundo continuava girando enquanto o meu havia se inclinado sobre seu eixo.

"Fale comigo, Em," ele disse finalmente, aproximando-se de mim na grade. "O que está passando pela sua cabeça?"

A pergunta era tão simples, mas desencadeou uma tempestade dentro de mim. Balancei a cabeça, sentindo as lágrimas surgirem nos cantos dos meus olhos.

"Não posso fazer isso de novo, Elijah," sussurrei, minha voz se quebrando nas palavras. "Eu simplesmente não posso." Minhas mãos se fecharam em punhos contra a pedra, os nós dos dedos branqueando com a pressão. "Minha loba tem tanta certeza de que isso é certo, mas o resto de mim está absolutamente apavorado de ser machucada assim novamente."

Minha loba choramingava dentro de mim, ainda se esforçando para a conexão com seu parceiro, sua certeza em desacordo com meu medo humano. A contradição me rasgava por dentro, uma guerra que eu não conseguia resolver.

Elijah se virou para me encarar, seus olhos refletindo a luz da lua como poços escuros. "O Rei não é nada como Benjamin Thorne, Em. Nada mesmo."

Eu ri, um som áspero sem humor. "Como você sabe? Você o encontrou, o quê, duas vezes? Em funções formais?"

"Eu o observei," Elijah disse calmamente. "Por anos. Todos nós observamos. Suas políticas, suas decisões, a maneira como ele trata aqueles com menos poder."

Uma brisa fresca da noite levantou mechas do meu cabelo, trazendo o cheiro das flores que desabrocham à noite dos jardins reais abaixo. Fechei os olhos, tentando me centrar, mas tudo o que eu podia sentir era cedro e pedra, mel e relâmpago. O cheiro de Theo, agora gravado na minha alma.

"Benjamin também era encantador, no começo," eu disse, abrindo meus olhos para as luzes distantes da cidade. "Ele sabia exatamente o que dizer, como agir. Todos achavam que ele era maravilhoso."

"O charme de Benjamin era cálculo," Elijah contrapôs. "As ações de Theodore mostram consistência, integridade. Benjamin queria controle. O Rei busca igualdade, mesmo quando isso lhe custa politicamente."

Eu me virei para ele, procurando no rosto do meu irmão qualquer indício de dúvida ou engano. Não encontrei nenhum.

"Você mesma disse, Em. Você pode sentir o vínculo." Sua voz suavizou. "Quando nossas lobas já erraram sobre o que é bom para nós? Benjamin não era seu verdadeiro parceiro. Você tinha um vínculo temporário que se formou antes que sua loba reconhecesse a incompatibilidade."

Meu peito se apertou com a mistura familiar de vergonha e alívio que sempre acompanhava discussões sobre meu primeiro acasalamento fracassado. Anos se passaram desde que Elijah me tirou do território de Silver Crescent no meio da noite, mas as feridas pareciam frescas sempre que eu me permitia lembrar.

"Não foi assim que Benjamin viu," murmurei, as palavras amargas na minha língua. "Ele disse que eu era defeituosa. Que uma companheira adequada teria aceitado a... correção dele."

O maxilar de Elijah se contraiu, um músculo saltando sob sua pele. Mesmo agora, anos depois, sua raiva protetora surgia à menção do que Benjamin havia feito.

"Benjamin estava errado sobre tudo," ele disse firmemente. "Theodore nunca mostrou qualquer indício desse tipo de comportamento. Ele valoriza a autonomia, respeita os limites. Veja como ele saiu quando pedi um momento com você, apesar do impulso que ele deve estar sentindo."

Olhei para as portas da sacada, lembrando de como Theo havia se afastado, me dando espaço apesar da tensão óbvia em sua postura poderosa. Benjamin teria recusado, teria insistido em seu direito de permanecer.

"Ele lutou contra seu próprio conselho por três anos para estabelecer leis de igualdade educacional. Quando a Alcateia do Vale das Sombras sofreu aquela enchente relâmpago no inverno passado, ele estava lá pessoalmente, ajudando nos esforços de evacuação," continuou Elijah.

Esses fatos não eram novos para mim. Eu tinha ouvido as histórias, visto as evidências das políticas progressistas de Theodore. Mas reconhecer suas virtudes públicas significava permitir a possibilidade de que esse vínculo de companheiros não era outro truque cruel do destino — e a esperança parecia mais perigosa do que o medo.

"E as implicações políticas?" perguntei, expressando minha próxima preocupação. "Ele pode estar causando impacto ao lutar pela igualdade, mas um lobisomem como sua companheira, como a rainha..." Balancei a cabeça, a enormidade da situação se assentando sobre mim como um cobertor sufocante. "Isso nunca será bem aceito."

Elijah não me contradisse imediatamente, o que eu apreciei. Meu irmão nunca foi de oferecer falsas garantias.

"Seria sem precedentes," ele reconheceu. "Haveria resistência, especialmente das famílias tradicionais de Lycans. Mas também seria poderoso — uma personificação viva da unidade pela qual ele está trabalhando."

Virei-me de volta para encarar a cidade abaixo, seus círculos concêntricos de luz dispostos como ondulações em um lago. Em algum lugar no coração dela, o palácio real se erguia em direção às estrelas, antigo e imponente. A ideia de viver lá, de pertencer lá, me causou um arrepio na espinha.

"Eu não sei como ser uma rainha, Elijah," sussurrei. "Mal consegui ser uma luna."

"Isso não é verdade," ele disse asperamente. "Você foi uma excelente luna. O abuso de Benjamin não refletia suas capacidades."

Mas o veneno havia se enraizado profundamente, criando raízes em lugares onde eu nem sempre conseguia alcançar. Senti as lágrimas se acumulando novamente, quentes e indesejadas.

"Ele me disse," comecei, minha voz ameaçando se quebrar, "constantemente, que eu merecia o que recebia porque eu era uma má luna e uma companheira ainda pior." As lágrimas escorriam, traçando caminhos quentes em minhas bochechas frias. "Que chance eu tenho de ser uma boa rainha?"

Meus ombros tremiam com o esforço de conter os soluços. Anos de reconstrução de mim mesma, de aprender a confiar no meu próprio julgamento novamente, e um cheiro, um momento havia trazido de volta todas as velhas inseguranças.

"Emeline Maxwell," Elijah disse, usando meu nome completo como fazia desde que éramos crianças brincando nas florestas do nosso território. Ele me virou gentilmente para encará-lo, suas mãos quentes e firmes em meus ombros. "Você foi uma luna incrível. Você é uma gamma incrível. E qualquer um teria sorte de ter você como companheira."

Um soluço escapou de mim então, do tipo que surge de um lugar mais profundo do que o pensamento consciente. Elijah me puxou para seus braços, me envolvendo no cheiro familiar de alcateia, família e lar. Pressionei meu rosto contra seu ombro, deixando as lágrimas caírem. Sua mão se movia em círculos lentos entre minhas omoplatas, do jeito que nossa mãe costumava nos confortar quando éramos crianças.

"Você gerencia nossa segurança com mais precisão do que qualquer gamma em três territórios," ele murmurou contra meu cabelo. "Você negociou a paz entre famílias rivais. Você rastreou aquele perdido durante uma tempestade e o trouxe de volta vivo quando todos os outros estavam prontos para desistir dele."

Cada exemplo era uma pequena luz na escuridão da minha dúvida. Eu sabia que essas coisas eram verdadeiras, mas elas pareciam desconectadas da parte aterrorizada de mim que lembrava de se encolher nos cantos, fazendo-se pequena para evitar atenção.

"A Alcateia da Lua de Sangue prospera por sua causa," Elijah continuou. "Todos os dias, você prova ser capaz de muito mais do que Benjamin jamais permitiu que você acreditasse."

Ele se afastou um pouco, olhando para mim com uma gentileza que contrastava com sua força. Sem uma palavra, ele levantou sua manga e limpou meu rosto coberto de lágrimas, o gesto tão reminiscentemente de nossa infância que trouxe um sorriso trêmulo aos meus lábios.

"Aí está ela," ele disse suavemente. "Aí está minha irmã."

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