




⋆ Capítulo 3
"Droga."
Acordei com um zumbido de partir o crânio, como se alguém tivesse enfiado uma britadeira no meu cérebro e ligado o interruptor. Meu despertador gritava do criado-mudo, 6:30 a.m. brilhando vermelho e odioso.
Gemendo, rolei na cama emaranhada nos lençóis, com a boca com gosto de vinho barato. A ressaca me atingiu como um trem de carga—cabeça latejando e estômago embrulhado.
Maravilha.
"Cala a boca," murmurei, dando um tapa para silenciar o alarme. Minha mão caiu de volta no colchão, e eu fiquei olhando para o teto do meu apartamento minúsculo, debatendo se poderia fingir minha própria morte e faltar ao trabalho. Mas Wyatt, meu chefe neurótico, provavelmente teria um colapso, e eu não estava com humor para lidar com seu discurso de "Invejo sua juventude" pelo telefone.
Tateei o criado-mudo em busca do meu celular, derrubando uma taça de vinho vazia e semicerrei os olhos para a tela. Dezessete mensagens não lidas. Todas de Xavier.
Meu estômago revirou, e não só por causa da ressaca. O nome dele brilhava como uma provocação: Xavier Graves.
"Já está com saudades, hein?" Eu resmunguei, jogando o celular na cama como se pudesse me morder. Nem pensar em ler aquelas mensagens. Eu tinha uma ressaca para lidar e um trabalho para tropeçar.
Levantei-me, os pés tocando o chão, e me arrastei até o banheiro. Meu cabelo parecia um ninho de pássaro no espelho, e meus olhos me encaravam, vermelhos e inchados de lágrimas e álcool.
"Você está um desastre, Tilly Parker," eu disse a mim mesma.
A rotina matinal era minha tábua de salvação, e o primeiro passo era sempre o mesmo: banho e ouvir os recados da Mamãe. Liguei a água quente, o vapor embaçando o pequeno banheiro, e peguei meu celular.
Enquanto entrava debaixo do chuveiro, deslizei para ouvir os recados. A voz animada da Mamãe soou.
"Tilly, querida, é a Mamãe! Você não vai acreditar—encontrei a concha mais linda na praia ontem. Ela tem um redemoinho rosa, como um pôr do sol, e estou adicionando à coleção. Você sabe como seu pai odeia a bagunça, mas eu digo, 'Frank, isso é arte!'"
Eu ri, esfregando shampoo no couro cabeludo. "É, Mamãe, arte que fede a maré baixa." A água batia nos meus ombros, aliviando um pouco a dor, mas ela continuava, alheia à minha crise existencial.
"Coloquei ela ao lado daquela concha de vieira que você encontrou quando tinha seis anos—lembra de Cape Cod? Ah, e peguei uma pequena concha de búzio também, tão lisa que você pensaria que é falsa. Devo começar uma nova prateleira, Tilly, o que você acha?"
"Acho que preciso de cafeína," murmurei, enxaguando e saindo para pegar uma toalha.
Apoiei o celular na pia, o recado ainda tocando enquanto eu escovava os dentes, espuma pingando do meu queixo. A pasta de dente de menta contrastava com o gosto de vinho, e eu engasguei, olhando para mim mesma no espelho embaçado.
A voz da Mamãe continuava. "Vi um documentário sobre moluscos—você sabia que algumas conchas podem viver por décadas? Estou pensando em chamar a concha de 'Rosinha'. Muito fofo, né?"
"Fofo," murmurei com a escova de dentes na boca, cuspindo na pia. "Muito fofo."
Eu não sabia por que continuava ouvindo—talvez fosse mais fácil do que enfrentar o silêncio, ou as mensagens de Xavier, ou o fato de que eu tinha terminado com meu namorado. Meu peito apertou ao pensar nisso, e eu empurrei o pensamento para baixo, deixando a estranha obsessão da Mamãe me ancorar.
Voltei para o quarto, cabelo ainda úmido, e abri a cômoda. O recado passou para um segundo enquanto eu vestia uma calcinha e um sutiã limpos.
"Ah, Tilly, esqueci de te contar—a concha de búzio tem essas manchinhas, como sardas! Estou organizando por tamanho agora, mas a concha é a estrela. Trish diz que estou virando uma acumuladora, mas ela só está com inveja porque não tem meu olho para tesouros."
"Trish tem razão," disse para o quarto vazio, vestindo uma blusa e uma saia lápis para garantir que meu traseiro parecesse profissional - um padrão da empresa. Depois dominei meu cabelo, que estava selvagem, enquanto a ressaca pulsava como um baixo ruim.
O terceiro correio de voz começou a tocar enquanto eu calçava meus sapatos baixos, o tom da minha mãe ficando doce e insistente. "Enfim, querida, me liga logo, tá? Quero saber como você está. Seja uma boa menina no trabalho - não dê um ataque cardíaco ao seu chefe. Te amo!"
"Também te amo," murmurei, mais por hábito do que qualquer coisa.
Bloqueei meu telefone, as mensagens não lidas de Xavier ainda brilhando nas notificações. Não. Não vou lidar com isso agora. Peguei minha bolsa, uma barra de granola e minhas chaves, e saí pela porta.
O ar da manhã me atingiu como um tapa, frio e implacável, enquanto eu caminhava até o metrô. Meu prédio de apartamentos se erguia atrás de mim, uma construção de tijolos em meio ao cinza de Nova York, e eu enfiei a barra de granola na boca, mastigando através da dor de cabeça.
O trem me sacudia em direção ao prédio Valmont H2, um edifício de 20 andares de vidro e aço onde a Valmont International administrava seu império de hospitalidade - The Valmont Collection.
Me encostei na janela, observando a cidade passar borrada, meu reflexo um borrão cansado no vidro. O rosto de Xavier continuava aparecendo na minha cabeça - aqueles olhos âmbar e o jeito que ele dizia "eu te amo" como se isso fosse resolver tudo.
Quando saí do metrô, caminhei mais três quarteirões antes de finalmente chegar. Entrei no lobby do H2 - uma extensão de vidro e mármore. O lobby fervilhava com os madrugadores - executivos com café, estagiários em pânico - e mostrei meu crachá para a segurança, meus sapatos fazendo barulho no piso polido. A subida pelo elevador até o 12º andar parecia uma contagem regressiva para a desgraça, minha ressaca pulsando no ritmo dos toques do elevador.
"Bom dia, Tilly," Georgia chamou de sua mesa quando entrei no escritório, sua voz animada demais para as 8 da manhã. Ralph acenou de seu cubículo, já desenhando algo em um guardanapo.
Meus amigos do trabalho - Deus os abençoe - ainda não sabiam que eu tinha destruído minha vida amorosa na noite anterior. Guardaria essa história para o telhado, com vinho, se eu não desmaiasse antes.
"Bom dia," grunhi, jogando minha bolsa na minha mesa do lado de fora do escritório do Wyatt. Esfreguei as têmporas, tentando fazer a dor de cabeça parar, quando um murmúrio percorreu o andar. Telefones tocaram. Cabeças se levantaram.
Franzi a testa, encontrando o olhar de Georgia. "O que houve?"
Ela rolou a tela do telefone, as sobrancelhas subindo. "Grande e-mail. O CEO da Valmont International - grande acionista também - está vindo aqui. Para o H2."
Ralph se inclinou sobre a parede do cubículo. "Espera, o CEO? Tipo, o chefão?"
"Isso mesmo," Georgia disse, a voz baixa. "Primeira vez que ele visita os escritórios da The Valmont Collection."
Pisquei, a ressaca esquecida. "Nunca vimos esse cara, certo?"
Nós três éramos novatos comparados aos veteranos aqui, mas percebi suas reações rapidamente. Alguns veteranos ficaram pálidos, as mãos trêmulas nas xícaras de café. Outros sorriram, vibrando como crianças no Natal. Alguns - principalmente os mais antigos perto dos escritórios de canto - pareciam absolutamente encantados, sussurrando uns para os outros com olhos arregalados.
"O que há com eles?" Assenti para os assustados, depois para os animados. "Metade parece que vai fazer xixi nas calças, metade como se estivesse conhecendo uma estrela do rock."
Georgia deu de ombros, ainda rolando o telefone. "Não sei. Ele é um fantasma para nós, mas eles já o viram. Ele é importante."
"Importante ou um pesadelo," Ralph murmurou, desenhando um sorriso com presas em seu Post-it. "Ouvi dizer que ele é implacável. Talvez ele coma estagiários."
Soltei um riso. Quem diabos era esse cara? E por que o ambiente parecia estar prendendo a respiração?