




⋆ Capítulo 2
Que merda é essa?
“Você comprou meu bolo de veludo favorito, fez um bife que faria o Gordon Ramsay chorar e me comeu tão bem que eu gozei duas vezes—só para terminar comigo? Era isso?”
Eu estava esparramada no sofá do Xavier, pernas jogadas sobre o braço do sofá, minha saia do escritório amassada no chão como uma bandeira de rendição triste. Minha blusa estava meio desabotoada, mal cobrindo minha calcinha, e meu cabelo castanho na altura dos ombros grudava no meu pescoço suado em uma bagunça emaranhada.
Eu ainda estava eufórica do duplo orgasmo, olhos fixos nele.
Xavier estava ali, me olhando como se eu tivesse acusado ele de chutar um filhote.
“Terminar com você? Tilly, eu não estou terminando com você. Do que diabos você está falando?”
“Ah, não se faça de bobo,” retruquei, jogando as pernas para baixo e sentando tão rápido que minha cabeça girou. “Você tinha aquele olhar, Xavier. Desembucha, ou eu vou jogar um bolo na sua cabeça.”
Esfregando a nuca, ele deu um passo mais perto, com olhos tão sinceros que me davam vontade de socar e beijar ele ao mesmo tempo.
“Eu não ia esperar até de manhã para te contar,” ele começou, hesitando como se estivesse escolhendo palavras em um campo minado. “Eu tenho que ir para Londres porque... é coisa de família. Coisa de matilha.”
Pisquei para ele. “O quê, seus primos lobisomens perderam o brinquedo de mastigar favorito?” Minha voz pingava sarcasmo—do tipo que eu usava como escudo quando estava irritada. “E você está me dizendo isso agora? Dez minutos depois de me fazer gritar seu nome?”
“Não é assim.” Ele deu um passo mais perto, mãos levantadas como se eu fosse um gato selvagem que ele estava tentando acalmar. “É dever. Surgiu algo com a matilha, e eu não pude evitar.”
“Quanto tempo?” Levantei, descalça no chão de madeira, mãos nos quadris. Minha blusa balançava aberta, mas eu não ligava—estava muito ocupada furando buracos no rosto dele com meu olhar. “Me dá um número, Xavier. Um dia? Uma semana? Uma década inteira? Ou eu devo ficar aqui de braços cruzados enquanto você brinca de Alfa no exterior?”
Ele estremeceu, passando a mão pelo cabelo, e aquela pausa—Deus, aquela pausa—fez meu sangue ferver.
“Eu não sei,” ele admitiu, a voz caindo como se estivesse envergonhado. “Depende de—”
“Depende de quê?” Eu interrompi, entrando no espaço dele, perto o suficiente para sentir o cheiro almiscarado da pele dele e o leve traço de tinta de mais cedo. “Das regras secretas da sua matilha lycan? Do calendário da lua cheia? Ou…” Eu pausei. “…sou eu? É porque eu sou humana e você é muito peludo para lidar com uma namorada que não uiva?"
“Tilly, para.” As mãos dele pousaram nos meus ombros, quentes e firmes, e eu odiei como aquilo me fazia sentir bem mesmo estando tão brava.
“Isso não tem a ver com você ser humana. É sobre te manter segura. Eu não posso te contar mais agora. Só preciso que você confie em mim.”
“Confiar em você?” Afastei as mãos dele e ri—um riso curto e amargo que tinha gosto de bile. “Eu definitivamente não confio em você agora.”
Seu rosto se contorceu, aqueles olhos ficando suaves e feridos, e droga, isso me acertou bem no peito.
"Eu te amo," ele disse suavemente. "Eu não vou te deixar, Tilly. Estou pedindo para você esperar."
"Esperar?" Peguei minha saia do chão, segurando-a como uma tábua de salvação. "Esperar o quê? Um cartão postal do Big Ben dizendo, 'Desculpe, eu fugi, aqui está um scone'? Você nem sabe quando vai voltar. Você não pode nem me dizer por que está indo. Eu não sou algum cachorro fiel que você pode dar um tapinha na cabeça e deixar para trás."
"Por favor—" Ele estendeu a mão para mim, os dedos roçando meu braço, mas eu recuei.
"Não me venha com 'por favor', Xavier." Minha voz vacilou, e eu odiei isso—odiei a maneira como minha garganta se apertou, odiei como as lágrimas ardiam quentes por trás dos meus olhos. "Você não pode me dar a melhor noite da minha vida—bolo, bife, dois orgasmos—e depois fazer isso. Eu não vou ficar esperando, me perguntando QUANDO você vai aparecer de novo. ACABOU."
"Tilly, não—" Ele deu um passo à frente, o desespero esculpindo linhas em seu rosto, mas eu já estava marchando em direção à porta, os sapatos pendurados pelas alças, minha blusa balançando como uma borboleta bêbada.
"Por favor, não se esqueça de colocar sua saia," ele chamou, a voz meio suplicante, meio exasperada, como se realmente achasse que estava ajudando.
Girei nos calcanhares, peguei minha saia do chão e olhei para ele com raiva. "Ah, uau! Vai se ferrar, Xavier."
Foi a gota d'água. A raiva queimou mais forte, e eu saí furiosa, batendo a porta com tanta força que a moldura tremeu.
No corredor, puxei a estúpida saia de volta, resmungando para mim mesma. "Mandando eu colocar minha saia como se eu tivesse cinco anos." Então enfiei meus pés nos sapatos. A porta permaneceu fechada atrás de mim.
Lá fora, a noite fria bateu na minha pele superaquecida. Meu peito arfava, e antes que eu pudesse impedir, lágrimas escorreram pelas minhas bochechas.
"Dois orgasmos e um soco no estômago," murmurei, enxugando o rosto. "Inacreditável."
Eu não olhei para trás. Não podia. Xavier ainda estava lá, provavelmente olhando para a porta como um cachorro chutado, mas eu não ia me virar para descobrir. Minhas pernas me levaram adiante—passando pelo loft estúpido dele, pelos estúpidos livros e latas de tinta. Eu não fazia ideia de para onde estava indo. Talvez para a casa de Georgia e Ralph. Talvez para o telhado do escritório com uma garrafa de vinho barato.
Tudo que eu sabia era que meu coração estava um caos, minha cabeça girava, e o cara que eu amava tinha acabado de me despedaçar.
Então eu senti. Aquela sensação rastejante, como gelo descendo pela minha espinha.
Do outro lado da rua, logo além dos braços esqueléticos de uma árvore, uma sombra estava parada. Imóvel. Observando.
Eu parei. Estreitei os olhos. "Ei! Com licença!"
Sim, eu estava tão irritada com o Xavier—eu lutaria com um estranho no escuro se fosse preciso.
Mas a sombra não se moveu. Não se mexeu. E ainda assim, cada pelo do meu corpo se eriçou, um aviso profundo e primitivo gritando nos meus ossos.
Engoli em seco, me virei e comecei a andar—rápido.