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Capítulo 8

Ponto de Vista da Ayleen

Era uma manhã de domingo. Deitada na cama, olhando fixamente para o teto, não conseguia pensar em outra coisa além daqueles olhos—da cor de mel—como eles mudavam de brincalhões e provocantes para algo que eu nunca esperava. Dor. Tristeza.

Exalei, me arrastando para fora da cama, determinada a passar o dia praticando. Talvez convidar a Serena para se juntar a mim não fosse uma má ideia. Tocar com outra pessoa sempre tornava mais fácil se concentrar.

Bati na porta dela, esperando. Nenhuma resposta.

Franzi a testa e empurrei a porta. A cama estava intocada, arrumada, como se ela não tivesse voltado para casa na noite anterior.

Com um suspiro, peguei meu celular e disquei para o George. Ele atendeu rapidamente, e quando perguntei se ele tinha visto a Serena depois que eu saí, ele mencionou casualmente que ela tinha saído com o Edward.

Eu estava feliz por ela, de verdade. Mas esperava que ela não perdesse de vista o motivo pelo qual viemos aqui em primeiro lugar. Serena sempre foi do tipo que se deixava levar pelo momento. E conhecendo ela, se ela entrasse em um relacionamento sério, perderia o foco completamente. Seus pais não ficariam felizes, mas mais do que isso... Eu não queria vê-la desistir dos seus sonhos por um romance passageiro.

Deixando o pensamento de lado, sentei no velho teclado gasto que comprei para praticar. O novo ficou com o George. Clara tinha dito que era um presente para a banda, o que significava que não era meu para ficar. E honestamente, eu não queria algo tão caro por perto.

Horas se passaram, meus dedos se movendo mecanicamente pelas teclas, quando o toque agudo do interfone me assustou. Serena deve ter esquecido as chaves.

Com um suspiro pesado, levantei e pressionei o botão. "Serena?"

Uma pequena pausa. Então, "Ah... oi, Ayleen. Sou eu, Clara."

Isso me pegou de surpresa.

Antes que eu pudesse responder, ela continuou, "Posso subir por um segundo?"

Ela queria entrar.

Olhei ao redor do apartamento—não estava muito bagunçado, pelo menos. Ainda assim, meu estômago se revirou enquanto eu a deixava entrar. Por que ela estava aqui?

Alguns minutos depois, ouvi uma batida suave e deliberada na porta. Meu coração disparou enquanto eu passava a mão rapidamente pelo cabelo, depois hesitei. Por quê? Eu realmente me importava com a forma como ela me via?

Respirando fundo, abri a porta.

Ela estava lá, com uma camisa preta simples e jeans, bem diferente das roupas polidas e sofisticadas que ela geralmente usava. Combinava com ela. Muito bem.

"Uau," ela ofegou, ligeiramente sem fôlego, "vocês não têm elevador aqui. Eu deveria ir mais à academia, estou fora de forma."

Um riso escapou dos meus lábios antes que eu pudesse parar. "Bobagem, você está incrível." E eu realmente achava isso.

Seus olhos brilharam com algo indecifrável antes de ela entrar. "Desculpe aparecer sem avisar."

Observei enquanto seu olhar discretamente examinava o apartamento. Enquanto isso, o meu traçava descaradamente as curvas do corpo dela. Ela ou não percebeu ou escolheu ignorar.

"Eu gosto do seu lugar," ela murmurou. "É aconchegante."

"Não é grande coisa, mas é suficiente para mim e Serena."

"Onde é o seu quarto?" ela perguntou, já se dirigindo para os quartos sem esperar uma resposta.

"Ah—este aqui," apontei rapidamente, passando à frente dela para garantir que ela não entrasse no da Serena.

No momento em que ela entrou, me arrependi.

Meu quarto era embaraçosamente simples—uma cama pequena encostada na parede, mais parecida com um sofá do que uma cama. Um guarda-roupa minúsculo ao lado. Do outro lado do quarto, meu teclado cercado por partituras espalhadas.

O olhar de Clara se demorou.

"Você estava estudando?" ela perguntou, acenando em direção ao teclado. Então seus olhos se estreitaram ligeiramente. "Onde está o novo?"

"Deixei com o George," expliquei. "É propriedade da banda."

Sua expressão escureceu, as sobrancelhas se franzindo em frustração. "Certo."

Ela não disse mais nada. Em vez disso, caminhou até minha cama e sentou-se, pernas cruzadas, o cotovelo apoiado no joelho enquanto apoiava o queixo na palma da mão.

"Vai em frente," ela disse, como se fosse a coisa mais natural do mundo. "Toque algo para mim."

Cruzei os braços. "Você é muito exigente."

Ela sorriu de lado. "Eu só sei o que quero."

Suspirei. "Eu estudo música clássica."

"E o que te faz pensar que eu não gosto de música clássica?" Ela se recostou, me observando. "Vai em frente."

Eu hesitei.

Por que eu me sentia tão compelida a tocar para ela?

Sem dizer mais nada, sentei-me, deixando meus dedos roçarem as teclas. Por um momento, só deixei eles descansarem ali, sentindo a superfície lisa sob meus dedos. Então, lentamente, comecei a movê-los.

Uma melodia preencheu o espaço entre nós, delicada, mas poderosa.

Mantive meus olhos baixos, com medo de olhar para ela. Mas eu podia sentir seu olhar. Podia sentir o ar mudar, carregado com algo não nomeado.

E pela primeira vez desde que conheci Clara, eu não tinha certeza de qual de nós estava no controle.

"Foi tão ruim assim? Te deixou sem palavras?" Eu ri, sentindo uma onda inesperada de nervosismo. De alguma forma, tê-la me observando tocar tão de perto, sozinha, me deixou tímida.

Clara piscou, como se saísse de um transe. "N... não, claro que não. Não seja boba," ela disse, limpando a garganta. Ela se endireitou na cadeira, tentando voltar a uma expressão brincalhona, mas havia uma hesitação ali, algo quase vulnerável em seus olhos. "É só que... você toca com tanta paixão. Parecia que eu podia ver sua alma." Ela exalou, balançando a cabeça. "Não sei como explicar. É bobo, eu acho."

Inclinei a cabeça, observando-a. Essa não era a Clara confiante e segura de si a que eu estava acostumada.

"Não é bobo," eu disse suavemente. "Na verdade... estou muito feliz que você tenha dito isso. Eu sempre tento mostrar como a música me faz sentir. Você é a primeira pessoa a notar. Isso me faz sentir que estou mais perto de alcançar meu objetivo como musicista."

O olhar de Clara suavizou, e por um breve momento, jurei que vi algo mais nele.

"Simplesmente hipnotizante, Ayleen," ela sussurrou.

Foi tão baixo, quase como se ela não quisesse que eu ouvisse. Mas eu ouvi.

E isso fez meu rosto queimar.

Ela limpou a garganta novamente, mudando de assunto tão rápido que eu mal tive tempo de me recuperar. "Ah, quase esqueci. Vim aqui para te levar para jantar, como combinamos outro dia."

Pisquei. "Eu pensei que você me deu seu cartão e disse para eu te ligar. Qual era o ponto se você ia aparecer e me arrastar para comer?"

Clara sorriu, dando de ombros como se fosse óbvio. "Eu gosto das coisas do meu jeito."

Cruzei os braços. "Isso se chama ser mandona."

"Chame do que quiser. De qualquer forma, eu vou te levar para almoçar." Ela se inclinou ligeiramente para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. "Vamos lááá, Ayleen, venha comigo, por favor?"

A voz dela caiu para algo perigosamente próximo de um pedido, e quando ela fez beicinho—realmente fez beicinho—eu soube que estava perdida. Meu coração deu um pequeno e embaraçoso salto. Aquela mulher sabia exatamente como jogar suas cartas.

"Clara..." Eu hesitei. "Eu não sei. Acho que não posso."

A verdade era que eu queria. Mas a ideia de sentar em algum restaurante caro, fingindo que não estava preocupada com dinheiro, fez meu estômago revirar.

"Ayleen, por favor." Clara suspirou dramaticamente enquanto se levantava, já caminhando em direção à porta como se meu acordo fosse inevitável. "Vista-se. Eu te convidei, eu pago. Nada chique, só um almoço."

Ela alcançou a maçaneta, então olhou para trás, seu sorriso retornando. "A não ser que você queira que eu te ajude a se trocar?"

No segundo em que essas palavras saíram de sua boca, eu peguei o travesseiro mais próximo e o lancei nela.

Clara riu, desviando facilmente enquanto saía pela porta, me deixando ali, de rosto quente e confusa.

"Inacreditável," murmurei, balançando a cabeça.

Mas, apesar dos meus melhores esforços, não consegui impedir o sorriso que surgiu em meus lábios.

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