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Capítulo 7

Ponto de Vista da Ayleen

Quando a noite de sábado chegou, eu estava nervosa, com os nervos à flor da pele. Entrei no bar esperando um desastre, já me preparando para outra briga com o teclado.

Em vez disso, encontrei uma excitação no ar.

Todos pareciam energizados, sorrindo e cochichando como se algo grande tivesse acontecido.

“O que está acontecendo?” perguntei, olhando ao redor. “Alguém ganhou na loteria?”

Antes que alguém pudesse responder, Serena agarrou meus ombros, me sacudindo. “Foi você, garota! Por que não nos contou sobre o novo teclado?!”

Pisquei. “O quê? Que novo teclado?”

George sorriu, gesticulando em direção ao palco.

Lá, perfeitamente no lugar, estava um Casio LK-S250 novinho em folha.

Eu fiquei olhando.

“O que—como?”

George cruzou os braços, parecendo tão surpreso quanto eu. “Achamos que você sabia. Foi entregue esta manhã. Para você.”

Abri a boca, mas a fechei novamente. Isso tinha que ser um engano.

“Eu... eu não comprei isso.”

O silêncio tomou conta do grupo. Então, pelo canto do olho, vi Marcus se mexer desconfortavelmente, seu maxilar se contraindo.

Seus dedos se moveram em direção ao telefone.

“Não pode ser,” ele murmurou antes de apertar o botão de chamada.

Depois de alguns toques, uma voz rouca familiar atendeu.

“Sim, Marcus?”

Seus lábios se comprimiram em uma linha fina. “Você está por trás disso?”

A voz de Clara transbordava diversão. “Não estou entendendo. Seja mais específico.”

“O novo teclado que foi entregue para a Ayleen.”

“Oh. Um novo teclado? Que bom para ela.”

Os dentes de Marcus rangeram audivelmente. “Clara, eu juro, você é uma ótima advogada. Ninguém mente tão bem quanto você.”

E com isso, ela riu—um som baixo e conhecedor—e desligou.

Marcus bloqueou o telefone e se virou para mim, parecendo extremamente sério.

“Ayleen. Precisamos conversar sobre a Clara.”

Franzi a testa. “Não entendo—por que ela compraria isso para mim? Eu não pedi.”

“Nós sabemos,” murmurou Marcus.

George hesitou antes de falar. “Escute, Ayleen... você é uma garota doce. E neste mundo... bem, todos os tipos de amor existem e—”

“Clara é gay,” interrompi-o secamente, revirando os olhos.

Eles congelaram.

Suas mandíbulas caíram como se eu tivesse acabado de anunciar a descoberta do fogo.

“Espera, o quê?” Marcus piscou. “Você sabia?”

Eu zombei. “Gente, estamos em 2022, não em outro planeta. Claro que eu sei que pessoas gays existem.”

Marcus esfregou o rosto, murmurando, “Por favor, não conte para a Serena.”

Eu ri. “Não se preocupe.”

Mas Marcus não tinha terminado. “Você não gosta da Clara, gosta? Ela não é uma boa pessoa, Ayleen. Fique longe dela.”

Franzi a testa. “Marcus, eu não sou uma criança. Ela tem sido legal comigo. O teclado foi um pouco extremo, claro, mas eu vou falar com ela.”

Marcus apertou o maxilar. “Sim, mas a Clara—”

“Está aqui.”

A voz de Clara cortou a tensão como uma lâmina, suave e controlada. Meu corpo inteiro se enrijeceu quando ela se aproximou.

Ela se movia com uma confiança que tirava o ar da sala, seus olhos cor de avelã fixos em mim com uma diversão silenciosa que fez meu estômago se apertar.

Então, sem hesitação, ela se inclinou e pressionou um beijo rápido e prolongado na minha bochecha.

Mal registrei Marcus saindo furioso, com George logo atrás.

Qual era o problema dele?

Virei-me para Clara, ainda desequilibrada, minha voz saindo mais afiada do que eu pretendia. "Por que você compraria um teclado para mim? Qual é o jogo aqui? Se você acha que pode me comprar com seu dinheiro, está enganada."

Clara levantou as mãos em uma falsa inocência, seu sorriso nunca vacilando. "Calma, eu não comprei um teclado para você. Comprei para a banda do meu primo."

Seu olhar piscou com algo indecifrável. "Os meninos são meus amigos. E você, claro, Ayleen. Eu só queria ajudar."

A culpa me atingiu. "Eu... Eu sinto muito. Não quis ser grossa."

A mágoa em seu rosto desapareceu num instante, substituída por aquele sorriso irritante.

"Você vai ter que trabalhar pelo meu perdão," ela brincou, piscando.

Odeio como isso fez meu coração acelerar.

Aquela esnobe.

"Então me diga, Ayleen, você tem um teclado em casa?" Sua voz mudou—menos provocativa, mais curiosa.

"Eu tinha um, mas tive que vender para pagar as contas do meu irmão."

Ela ficou imóvel por um segundo, seu sorriso habitual desaparecendo para algo mais pensativo. "Nossa... isso não deveria ser seu fardo."

Seus olhos cor de avelã, que geralmente tinham aquele brilho afiado e predatório, haviam suavizado. Isso me pegou de surpresa.

Dei de ombros, tentando minimizar. "Está tudo bem. Não temos muito dinheiro na minha família, mas damos um jeito."

Ela assentiu, mas havia algo estranho na maneira como fez isso—como se não estivesse apenas concordando, como se entendesse algo não dito nas minhas palavras. Seus lábios se abriram levemente, depois se fecharam num sorriso fraco.

"É... eu posso entender," ela sussurrou.

Pisquei para ela. Clara, a mulher que dirigia um carro que provavelmente custava mais do que a casa da minha família, a mulher que podia jogar dinheiro por aí como se não significasse nada—ela estava dizendo que entendia?

"Você pode entender?" A dúvida na minha voz era afiada, imediata. "Clara, você é rica. O que você poderia entender?"

Ela exalou lentamente, balançando a cabeça, mais para si mesma do que para mim. Então ela se inclinou para frente, apoiando os antebraços na mesa, seu olhar prendendo o meu de uma maneira que fez meu peito apertar.

"Você realmente não consegue esconder seus sentimentos, Ayleen." Sua voz estava mais baixa agora, como se estivesse falando uma verdade que não compartilhava com frequência. "Não fique tão surpresa. Eu realmente entendo."

Eu queria zombar, mas algo na maneira como ela disse isso me fez parar.

"Sempre foi só eu e minha mãe," ela continuou, seus dedos traçando distraidamente a borda do copo. "Tivemos dificuldades. Nada veio fácil. Tudo que tenho agora, trabalhei para conseguir. Decidi mudar minha vida... mas isso não significa que não entenda o sofrimento."

Não foram apenas as palavras que me impressionaram—foi a maneira como ela as disse. Não havia arrogância, nem vanglória sobre como ela se reergueu. Apenas uma convicção tranquila, misturada com algo que quase parecia... arrependimento?

Essa era uma Clara diferente. Não a mulher confiante e sorridente que usava o poder como uma arma. Não a flertadora que prosperava com o controle. Essa Clara... parecia real.

Pela primeira vez, vi além da superfície polida. E não tinha certeza do que fazer com isso.

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