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Capítulo 6

POV de Ayleen

Na manhã seguinte, eu não esperava ver George na faculdade.

Ele estava com Serena no corredor principal, parecendo que pertencia ao lugar, embora eu soubesse que não. Seus braços estavam cruzados, seu pé batendo no chão de azulejos em um ritmo inquieto. Serena, por outro lado, parecia despreocupada, rolando casualmente o celular.

Levantei uma sobrancelha enquanto me aproximava. "O que você está fazendo aqui?"

A cabeça de George se ergueu no segundo em que ele me avistou. "Ayleen, precisamos acertar os horários dos ensaios."

Eu assenti, mas algo na expressão dele me fez parar. Seus ombros estavam tensos, seu comportamento usualmente descontraído substituído por algo mais... hesitante.

"Claro," eu disse devagar, "mas seu rosto me diz que há... mais?"

George soltou um suspiro, esfregando a nuca. Ele olhou para Serena como se estivesse procurando apoio, mas ela nem estava prestando atenção.

"É, uh..." Sua voz ficou mais baixa, como se ele não soubesse como dizer. "O teclado que você estava usando? Pertencia ao Steven. Desde que, uh... o demitimos, não temos mais um para você tocar."

Eu pisquei. "Espera—o quê?"

Serena suspirou dramaticamente, finalmente guardando o celular. "É, aparentemente Steven estava enrolando eles o tempo todo. O teclado nem era deles—era dele. E agora que ele saiu, o instrumento também."

Meu estômago afundou.

Claro. Só podia ser minha sorte.

Exalei, pressionando uma mão na testa. Esse trabalho era importante. Eu precisava desse trabalho. Mas agora? Como eu ia tocar sem um instrumento?

George fez uma careta com meu silêncio. "Eu sei que isso é péssimo, Ayleen. Se tivéssemos dinheiro para comprar um novo, compraríamos. Mas o bar só nos paga tanto, e mesmo com o novo horário, ainda estamos mal conseguindo empatar."

Serena soltou uma risada curta, balançando a cabeça. "Então, basicamente, vocês não têm nada a oferecer a ela além de um tapinha nas costas e um 'boa sorte'?"

George lançou um olhar para ela antes de se voltar para mim. "Eu—olha, eu posso te emprestar algum dinheiro," ele disse, com a voz cuidadosa, como se estivesse testando as águas. "Não será muito, mas talvez o suficiente para ajudar. Você pode me pagar depois."

Eu hesitei, meu estômago revirando.

Pegar dinheiro emprestado nunca foi algo que eu gostasse de fazer. Especialmente não de amigos. Mas que outra escolha eu tinha? Eu não podia simplesmente não tocar.

"Você tem certeza?" perguntei, minha voz mais baixa do que eu pretendia.

George assentiu. "Tudo bem. Nós descontamos do seu pagamento depois."

Mordi o lábio, ainda relutante. Mas, no fundo, eu sabia que a resposta já era sim.

Eu não tinha escolha.

Naquela tarde, o peso da realidade caiu pesadamente sobre meus ombros. Passei horas vasculhando a internet, clicando em anúncio após anúncio de teclados usados. A maioria estava em péssimo estado—teclas faltando, fiação defeituosa, ou mantidos juntos com fita adesiva. O tipo de lixo que as pessoas vendiam quando sabiam que poderiam espremer alguns dólares extras de um comprador desesperado. E, infelizmente, com o dinheiro que George ofereceu, eu era esse comprador desesperado.

Quando fomos verificar pessoalmente, meu estômago já estava em nós. O primeiro tinha pedais quebrados, o segundo tinha uma tela rachada e o terceiro mal produzia som em metade das teclas. Finalmente, encontramos um que, embora longe de perfeito, pelo menos era funcional—exceto por um problema no circuito que causava um zumbido alto se alguém chegasse muito perto do fio de alimentação.

George testou, tocando alguns acordes antes de olhar para mim com um encolher de ombros. “Não é ótimo, mas é o que podemos pagar.”

Suspirei, olhando para ele como se pudesse transformá-lo em algo melhor. Não tinha o luxo de ser exigente. “Vou dar um jeito.”

Na manhã seguinte, entrei na aula com um pouco mais de empolgação do que de costume. Pelo menos agora eu tinha algo para praticar. Quase esbarrei em Marcus no caminho, desviando dele no último segundo.

“Uau, alguém está de bom humor,” ele provocou, levantando uma sobrancelha.

“Finalmente consegui um teclado!” Eu sorri. “Agora posso ensaiar melhor, em vez de depender apenas do piano da escola.”

Marcus murmurou, assentindo lentamente. “Isso é bom… Só tome cuidado, Ayleen.”

Franzi a testa. “Cuidado?”

Ele olhou ao redor antes de abaixar a voz. “Essa indústria não é tão gentil quanto você pensa. E as pessoas—especialmente pessoas como George—farão o que for necessário para sobreviver. Você é doce, mas a doçura não dura muito nesse mundo.”

Revirei os olhos. “Eu sei me cuidar, Marcus.”

Ele soltou uma risada seca. “Veremos.”

Naquela noite no bar, o teclado começou a dar problema quase imediatamente.

O maldito zumbido continuava aparecendo, me fazendo estremecer toda vez que chegava muito perto do fio. George acabou prendendo o fio com fita adesiva, fixando-o de um jeito ridículo, mas que pelo menos parou o pior da interferência. Mesmo assim, meu corpo inteiro ficou tenso durante a apresentação, com medo de que o aparelho parasse no meio de uma música.

E, como prometido, Clara estava lá.

Mas desta vez, ela não veio até nossa mesa.

Ela se sentou mais distante, envolta nas sombras, seu séquito habitual a cercando como uma barreira humana. Mesmo com a distância, eu ainda podia sentir seus olhos em mim—observando, estudando, como se estivesse avaliando algo que só ela entendia.

Em um momento, vi ela se inclinar e murmurar algo para Marcus. Sua postura ficou tensa, sua expressão se tornando desconfortável. O que quer que ela tenha dito claramente não era casual.

E então, no meio do show, ela foi embora.

Eu não deveria me importar. Não deveria significar nada.

Mas, por algum motivo, isso me incomodou.

Ela não gostou da apresentação? Eu fiz algo errado?

Os pensamentos giraram na minha cabeça a noite toda.

Quando finalmente adormeci, meus sonhos eram uma bagunça de luzes de palco, fios piscando e os olhos penetrantes de Clara. Acordei suando frio, o som de risadas imaginárias ainda ecoando nos meus ouvidos.

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