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Capítulo 5

Ponto de Vista de Ayleen

O ar lá fora estava mais frio do que eu esperava, mas mal senti. Minha pele ainda estava quente demais, meu pulso instável enquanto subia as escadas.

Empurrei a porta do apartamento, já temendo a reação de Serena.

Ela estava exatamente onde eu esperava que estivesse—esparramada no sofá, folheando uma revista como se tivesse todo o tempo do mundo. Mas ela nem se deu ao trabalho de fingir que não estava me esperando. No momento em que entrei, ela virou uma página com uma lentidão exagerada e murmurou, "Demorou, hein? O que aconteceu? Sua sugar mommy insistiu em te colocar na cama depois do passeio romântico?"

Suspirei, jogando minha bolsa na mesa. "Não foi romântico."

Serena zombou. "Ah, claro que não. Apenas um serviço casual de motorista à meia-noite de uma mulher que parece que poderia comprar todo este prédio só pelo prazer de te deixar na porta da frente." Ela inclinou a cabeça para mim, a voz carregada de uma curiosidade fingida. "Ela pelo menos te deixou sair do carro ou tentou te carregar até o andar de cima?"

Geme, desabando no sofá ao lado dela. "Ela estava apenas sendo gentil."

Serena bufou. "É. Pessoas ricas são sempre gentis de graça."

Revirei os olhos. "Ela me ofereceu uma carona porque estava tarde, Serena. Você está agindo como se ela tivesse me arrastado para o carro contra minha vontade."

Serena finalmente fechou a revista e se virou completamente para mim, sua expressão indecifrável. "Ayleen," ela disse lentamente, "eu sei que você cresceu numa fazenda ou algo assim, mas aqui é Nova York. As pessoas não fazem coisas pela bondade de seus corações—especialmente pessoas como ela."

Exalei bruscamente. "Ela não fez nada."

Serena sorriu, mas não foi um sorriso divertido—foi um sorriso de quem sabe das coisas. "Não? Então me diga por que você ainda está corada."

Eu me enrijeci. "Não estou corada."

"Você está sim, corada."

"Eu—" Abri a boca, mas nada saiu.

Serena balançou a cabeça. "Nossa. Que vergonha."

Fiz uma careta. "Você está sendo ridícula."

Serena se recostou, esticando as pernas como se tivesse todo o tempo do mundo. "Ah, querida, estou sendo realista." O tom dela ficou mais afiado, ainda com uma ponta de provocação, mas agora com algo mais por trás. "Você sabe com o que está brincando? Aquela mulher não está interessada em amizade ou em ajudar músicos em dificuldade pela bondade do seu coraçãozinho rico. Ela quer algo de você. E acredite, quando ela se cansar, vai te descartar mais rápido do que você pode piscar."

Me remexi desconfortavelmente. "Não é assim."

Serena riu, mas não havia calor nisso. "Ah, querida. Eu vi como ela te olhou hoje à noite. Você realmente acha que ela só quer ajudar?"

Cruzei os braços, de repente me sentindo presa nessa conversa. "Ela estava sendo educada."

Serena me deu um olhar lento e direto. "Ayleen. Aquela mulher não estava sendo educada. Ela estava te avaliando como uma refeição. Ela estava te devorando, Ayleen. Juro, achei que ela ia começar a te temperar no meio da conversa."

Abri a boca para argumentar, mas antes que pudesse, ela se inclinou, a voz baixando para um murmúrio, sarcástico e afiado. "Foi como assistir um lobo cercando um coelho. E, querida?" Ela inclinou a cabeça, a expressão quase piedosa. "Você é o coelho."

Um arrepio percorreu minha espinha, mas me forcei a manter minha posição. "Eu sei me cuidar."

Serena revirou os olhos. "Claro. Assim como todas as outras garotas que provavelmente pensaram que poderiam lidar com ela antes de ela se cansar e seguir em frente."

Engoli em seco, desviando o olhar. "Ela não é uma predadora."

Serena suspirou, passando a mão pelo cabelo. "Ayleen, você tem alguma ideia de que tipo de pessoa ela é? Pessoas como ela—poderosas, ricas, charmosas, completamente egocêntricas—não se interessam por alguém sem motivo. Ela vê algo em você, algo que chamou a atenção dela, e acredite, isso não é bom."

Balancei a cabeça. "Ela não fez nada de errado."

"Ainda," rebateu Serena. "Mas ela vai fazer."

Franzi a testa, mudando de posição. "Você nem a conhece."

Serena bufou. "E você conhece?"

Eu não tinha uma resposta para isso.

Ela suspirou e pegou a revista de volta, folheando-a distraidamente, como se já tivesse terminado a conversa. "Você vai fazer o que quiser, obviamente. Mas não venha chorando pra mim quando ela te mastigar e te cuspir fora."

Exalei com força, levantando-me do sofá. "Você está exagerando."

Serena nem sequer olhou para cima. "E você está sendo estúpida."

Virei-me para sair, mas as próximas palavras dela me pararam.

"Você acha que uma mulher como aquela dá presentes caros por diversão?" Sua voz estava mais baixa agora, mais cansada do que antes. "Você acha que é especial? Não, querida. Você é entretenimento. E quando ela se cansar, acabou."

Cerrei os dentes e me afastei, recusando-me a deixar as palavras dela me afetarem.

Levantei-me do sofá, meu corpo tenso de frustração. Serena estava sendo dramática, paranoica. Clara não tinha feito nada de errado. Murmurei um "boa noite" sem entusiasmo e fui para o meu quarto, fechando a porta atrás de mim. No segundo em que fiquei sozinha, exalei, pressionando as costas contra a porta.

As palavras de Serena se repetiam na minha cabeça.

"Você é entretenimento. E quando ela se cansar, acabou."

Balancei a cabeça, tentando afastar o pensamento, mas ele grudava em mim.

Então, como se puxada por algo além do meu controle, minha mente voltou para Clara. A maneira como ela me olhou esta noite. Afiada. Focada. Intensa.

Serena estava certa sobre uma coisa.

Clara não olhava para as pessoas como se fossem apenas pessoas. Ela as olhava como se estivesse decidindo se valiam o tempo dela—se deveria devorá-las ou descartá-las.

E quando seus olhos estavam em mim, parecia... algo completamente diferente.

Eu ainda podia sentir o fantasma dos dedos dela roçando minha pele, a maneira como seu toque permanecia, deliberado. A maneira como ela se inclinava, perto o suficiente para prender minha respiração, perto o suficiente para saber exatamente o que estava fazendo.

Engoli em seco, de repente sentindo-me quente novamente.

O aviso de Serena era claro—Clara era perigosa. Clara era do tipo que jogava, do tipo que se cansava, do tipo que seguia em frente.

E ainda assim...

Deslizei para a cama, olhando para o teto, meu coração ainda batendo rápido demais.

Se ela era tão perigosa, por que eu ainda estava pensando nela?

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