




Capítulo 3
POV de Ayleen
O próximo dia chegou cedo demais, me arrancando do sono com uma dor de cabeça latejante.
Gemi, esfregando as têmporas enquanto me sentava. "Nunca mais bebo antes de um dia longo."
Serena, já vestida e aperfeiçoando a maquiagem, sorriu para mim através do espelho. "Você parece um cadáver."
"Obrigada," murmurei, jogando as pernas para fora da cama. Cada músculo dos meus dedos doía por causa do ensaio de ontem. "O Marcelo é louco. Achei que minhas mãos iam cair."
"Tão ruim assim?" ela perguntou, passando batom no lábio inferior.
"Ele é rigoroso, mas leva o trabalho a sério—o que é bom. Preciso melhorar."
Serena revirou os olhos. "Você já é boa. Você é obcecada, Ayleen. Apenas admita."
Suspirei, vestindo um vestido pela cabeça.
"Tem certeza que não quer pegar algo do meu armário?" Serena perguntou, me observando. "Você é a estrela da noite. Não deveria parecer um pouco mais... como a estrela da noite?"
"Estou bem," disse, dispensando-a com um aceno.
"Bem," ela repetiu secamente.
"Sim. Bem. Vamos."
Serena bufou, mas pegou a bolsa, e saímos antes que ela pudesse insistir mais.
O bar já estava movimentado quando chegamos, o familiar zumbido de conversas e tilintar de copos preenchendo o ar.
George estava na mesma mesa da noite anterior, sorrindo amplamente enquanto nos aproximávamos. "Meninas! Vejam só, na hora! Diferente do Steven." Ele beijou nossas bochechas antes de me dar um rápido abraço.
"Não pude te agradecer direito ontem," eu disse. "Estou realmente grata pela sua confiança."
"Ayleen, minha querida, eu que sou grato por você." Ele apertou meu ombro antes de seguir com Marcus em direção ao palco.
Serena os observou ir embora, então se virou para mim com um olhar conhecedor. "Ohhh, vejo química."
Edward riu baixinho enquanto bebia.
Fiquei boquiaberta para ela. "O quê? A única coisa que você vê é amizade. Deixa pra lá."
Serena gemeu. "Você precisa seguir em frente. Só porque seu noivo te traiu não significa que você precisa viver solteira para sempre."
Eu me enrijeci.
O comentário foi desnecessário. E injusto.
"Nem tudo é sobre isso," murmurei, encerrando o assunto antes que ela pudesse insistir.
Antes que ela pudesse responder, um arrepio percorreu minha espinha.
Uma presença.
Uma mão alta e esguia repousou no meu ombro—leve, mas suficiente para me paralisar.
Minha respiração falhou.
Me virei—
E lá estava ela.
Clara.
Vestida de preto, sua blusa sem mangas destacando as linhas suaves das clavículas, o corte afiado das calças ajustadas fazendo-a parecer que pertencia a um escritório de arranha-céu, não a um bar mal iluminado.
Seus olhos castanhos estavam mais afiados que na noite anterior, escurecidos com maquiagem que os fazia parecer impossivelmente profundos, impossivelmente perigosos.
Os lábios dela se curvaram.
"Oi," ela murmurou, a voz baixa, rouca, deliberada.
Eu não sabia por que meu estômago se revirou ao ouvir aquilo.
Marcus apareceu ao meu lado, parecendo tenso.
"Marcus falou tão bem do novo tecladista deles," Clara continuou, o olhar nunca desviando do meu. "Eu tive que vir... conhecer você."
Eu assenti—mais como um movimento brusco da cabeça—incapaz de encontrar palavras.
Marcus pigarreou e puxou uma cadeira para ela, quase como uma oferta. "Ayleen, Serena, esta é Clara—minha prima e minha chefe."
Serena se animou. "Você é dona de um escritório de advocacia, né?"
Clara mal olhou para ela, tomando um gole lento de uísque. "Sou."
Então, sua atenção voltou completamente para mim.
"Você toca há muito tempo?"
Eu me mexi, sentindo o peso de seu foco completo. "Sim. Desde os oito anos."
"Quantos anos você tem agora?"
Mordi o lábio, pega de surpresa pela sua franqueza. "Vinte e um."
Clara murmurou como se estivesse arquivando essa informação.
"De onde você é?" ela perguntou, tomando um gole da bebida.
"Utah. Minha família tem uma fazenda lá."
Algo brilhou na expressão dela.
"Uma garota da fazenda," ela refletiu.
Eu me endureci. "Por que isso importa?"
Ela inclinou a cabeça levemente. "Não importa." Um momento se passou. "Só interessante."
Eu não sabia por que isso me irritou.
"Você toca lindamente," ela disse em seguida, e a mudança de assunto me pegou desprevenida.
Eu hesitei. "C-Como você sabe?"
Ela se sentou mais ereta, descruzando e cruzando as pernas novamente. "Eu estava lá ontem. Você não me viu?"
Engoli em seco. "Eu... acho."
Os lábios de Clara se curvaram. "Você esqueceu?"
Ela se inclinou para frente, apenas o suficiente para que eu captasse o mais leve toque do perfume dela.
Algo profundo e intoxicante.
Meu pulso falhou.
"Você até corou quando eu acenei," ela acrescentou suavemente.
Meu rosto queimou.
Eu queria argumentar. Queria dizer que não corei—exceto... provavelmente corei.
"Não... Eu... uh..." Eu me atrapalhei, de repente quente demais no meu vestido. "Ah, qual é, para com isso!"
Clara riu, um som rico e caloroso que não ajudou.
Então—
A voz de George me salvou.
"Ayleen! Vamos!"
Eu pulei tão rápido que quase derrubei a cadeira. Me virei para sair correndo—
Mas uma mão segurou meu pulso.
Não apertada. Não forçada. Apenas o suficiente para me manter parada.
Eu congelei.
A voz de Clara abaixou. "Eu vou estar de olho em você."
Então—justo quando meu coração falhou—ela piscou.
Eu mal consegui chegar ao palco.
Meus dedos pressionaram as teclas como se fossem a única coisa me mantendo no chão.
Eu precisava focar.
Eu tinha que tocar.
Eu não podia deixar esse trabalho escapar das minhas mãos.
Mas quando olhei para o fundo da sala—
Ela ainda estava me observando.
Sorrindo de lado.
Como se soubesse exatamente o que estava fazendo.
Deus, ia ser uma longa noite.