




Capítulo 5
A suave luz da manhã filtrava pelas janelas da minha cabana enquanto eu acordava, com a mente cristalizando um plano para navegar nesta situação indesejada. Carl e Jean haviam deixado claro seus sentimentos—não me queriam ali. O desdém de Jean havia sido evidente muito antes de eu pisar na Califórnia.
Em vez de deixar que a hostilidade deles ditasse minhas escolhas, decidi traçar meu próprio caminho de independência. Eu visitaria a cidade, compraria tudo o necessário para minha cabana e estocaria provisões para durar. Isso minimizaria encontros indesejados com pessoas que claramente desejavam que eu desaparecesse.
Vesti um short e uma regata, depois me dirigi à garagem. A casa principal estava estranhamente silenciosa enquanto eu passava. Meu carro preto e elegante me aguardava, sua superfície polida brilhando sob as luzes do teto. Ao me acomodar no banco do motorista, meus dedos traçaram o interior de couro macio com apreço.
Apesar de nosso relacionamento complicado, meu pai havia escolhido este veículo com uma surpreendente consideração. O gesto revelava um lado dele que eu raramente via—um que talvez se importasse mais do que ele normalmente expressava. Talvez este capítulo na Califórnia pudesse eventualmente diminuir a distância entre nós. Pela primeira vez em anos, senti um lampejo de esperança de que nosso relacionamento tenso poderia não estar além de reparação.
Eu estava prestes a ligar o motor quando uma sombra caiu sobre a janela. Meu coração disparou ao ver a figura imponente de Carl, com uma expressão furiosa. Antes que eu pudesse reagir, ele abriu a porta do carro com um puxão.
"Onde diabos você pensa que vai?" Sua voz cortou o silêncio da garagem.
Apertei o volante com mais força. "Vou sair. Para a cidade. Não que seja da sua conta."
"Saia do carro." Cada palavra caiu como um golpe de martelo.
"Com licença?" Eu olhei incrédula. "Você não tem absolutamente nenhuma autoridade—"
"Eu disse para sair do maldito carro, Lina." Seus olhos haviam escurecido.
Algo primitivo em mim reconheceu a ameaça, mas me recusei a me acovardar. "Não. Vou fazer compras, e você vai sair do meu caminho."
A mão de Carl disparou, agarrando a moldura da porta com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos. "Esta casa tem regras. Ninguém sai sem informar os outros. Todos seguem os mesmos protocolos—inclusive você."
"Interessante que ninguém mencionou essas regras para mim," retruquei, tentando fechar a porta.
Em um movimento rápido, Carl arrancou as chaves da ignição, recuando com elas penduradas nos dedos.
"Devolva isso!" Saí do carro, a fúria me impulsionando. "Você não tem direito!"
"Eu tenho todo direito quando você está sob este teto," ele rosnou, segurando as chaves fora do meu alcance. "Quer independência? Ótimo. Mas você segue as regras enquanto estiver aqui."
Eu me lancei para pegar as chaves, mas ele facilmente se esquivou. "Isso é ridículo! Sou uma mulher adulta, não uma adolescente rebelde!"
Nosso impasse foi interrompido pelo som distante de uma porta se abrindo. A atenção de Carl vacilou brevemente, e eu aproveitei a oportunidade, arrancando as chaves de sua mão momentaneamente abaixada.
"Quer uma guerra, garotinha? Cuidado com o que deseja," ele avisou, com a voz suave mas ameaçadora.
"Eu não quero nada de você exceto ser deixada em paz," respondi, recuando para meu carro.
A cidade parecia encantadora banhada pela luz da manhã. O supermercado estava movimentado com compradores de fim de semana. Ao sair do carro, uma voz familiar chamou meu nome. Jessica se aproximou do ponto de ônibus, seu rosto iluminando-se.
"Oi Jessica!"
"Meu Deus, esse é seu carro?" ela exclamou, passando os dedos pelo capô brilhante.
"Sim, meu pai me deu ontem. Você também está fazendo compras?"
"Lina, você está literalmente vivendo o sonho secreto de toda garota. Está brincando?" Seus olhos brilharam com malícia.
"Duvido disso. Além disso, eles claramente não gostam de mim," lembrei a ela.
"Bem, acho que você deveria dar uma chance a eles. Ou talvez apenas se divertir. É disso que ser jovem se trata—experimentar coisas novas. Talvez duas ou quatro coisas ao mesmo tempo..." ela sugeriu com um sussurro conspiratório.
"Jessica!" Eu ofeguei, escandalizada.
Nós nos dissolvemos em risadas enquanto virávamos a esquina, apenas para colidir com o que parecia uma parede imovível. Olhando para cima, encontrei-me encarando os rostos de Barry e Devin.
"Devin... Barry..." Eu gaguejei. "O que traz vocês aqui?"
"Compras," respondeu Devin, seu sorriso se alargando enquanto Barry revirava os olhos.
Percebi que Jessica ficou subitamente quieta. Quando olhei para ela, vi um lampejo de reconhecimento em seus olhos, acompanhado por um sorriso quase suprimido. Seu olhar alternava entre eles com uma familiaridade inconfundível.
"Quem são esses cavaleiros?" ela sussurrou com uma inocência exagerada.
"Barry e Devin. A outra metade dos quatro..."
"Quatro!" exclamou Jessica em voz alta. Seus olhos encontraram os de Devin brevemente, uma troca silenciosa passando entre eles. "Meu Deus... Quatro irmãos sob o mesmo teto?"
Barry gemeu. "Por que importa quantos de nós existem?"
"Ah, bem, porque existem essas coisas chamadas de quatro—" Tampei a boca de Jessica, mortificada. Quando olhei de volta para os irmãos, suas expressões revelavam que entenderam perfeitamente.
Depois das compras e de me despedir de Jessica, voltei para casa. Ao me aproximar do meu chalé, uma sensação inconfundível de estar sendo observada me envolveu.
Virando rapidamente, vi Carl avançando de forma decidida pelo caminho. Acelerei o passo, desesperada para chegar à minha porta antes que ele pudesse me interceptar.
"Lina!" Sua voz estalou como um chicote. "Pare aí mesmo."
Fingi não ouvir, mexendo desajeitadamente nas chaves. Antes que pudesse abrir a porta, Carl já estava lá, pairando sobre mim.
"Você desobedeceu deliberadamente as regras esta manhã," ele rosnou, plantando a palma da mão contra a porta. "Você acha que pode fazer o que quiser sem consequências?"
Virei-me para encará-lo, erguendo o queixo desafiadoramente apesar do meu coração acelerado. "Acho que sou uma mulher adulta que não responde a você nem às suas regras arbitrárias. Tire a mão da porta."
Com uma ousadia repentina, empurrei seu peito. Ele mal se moveu, mas seus olhos se arregalaram de surpresa.
"Não me teste, Lina," ele avisou, a voz baixando para um sussurro perigoso enquanto se aproximava. Eu podia sentir o calor emanando de seu corpo, sentir seu perfume amadeirado misturado com algo selvagem por baixo.
Sua mão disparou de repente, segurando meu queixo com uma gentileza surpreendente apesar de sua fúria. "Você deveria ter medo," ele murmurou, o polegar roçando meu lábio inferior em um gesto que enviou um arrepio inesperado pela minha espinha. "Porque eu não acho que você entende com o que está lidando."
Arranquei meu rosto de seu aperto. "Tire as mãos de mim. E saia da minha porta."
A mão de Carl impediu o fechamento da porta enquanto eu conseguia destrancá-la. Ele forçou a entrada, os olhos em chamas de raiva. "Eu sei que você me ouviu se aproximando."
"Sim, ouvi. Agora saia," retruquei rispidamente.
"Tente fazer outra dessas como esta manhã—"
"Seu direito de mandar em mim expirou," rebati, brandindo meu telefone. "Invasão de propriedade é crime. Saia antes que eu chame a polícia."
Ele soltou um rosnado furioso que reverberou pelo pequeno chalé, tão primal que me fez recuar alguns passos. Algo mudou em suas feições—aquela cintilação líquida de ouro acendendo em suas pupilas, se espalhando até parecer consumir o azul.
"Cuide do seu maldito linguajar!" ele rugiu, a voz vibrando com poder. "Esta propriedade tem regras, e todos as seguem—incluindo você."
Apesar dos meus membros trêmulos, me mantive firme. "Eu entendo apenas uma coisa—você não tem controle sobre mim. Agora saia antes que eu faça você se arrepender de ficar."
Finalmente, com um som de desgosto, Carl se virou e caminhou em direção à porta. No limiar, ele parou.
"Isso não é apenas sobre regras, Lina. Existem coisas que você ainda não entende. Coisas que podem ser perigosas."
"O único perigo que vejo agora é você," respondi, cruzando os braços para esconder meu tremor.
Ele saiu, batendo a porta com força suficiente para sacudir as janelas. Desabei numa cadeira, minhas pernas de repente muito fracas. Apesar do medo e da raiva, havia algo mais ali—algo que eu não estava pronta para examinar de perto.
Parte de mim estava aterrorizada pela intensidade de sua raiva, mas outra parte achou sua presença dominante estranhamente cativante. Eu me odiava por essa fraqueza, por aquele momento fugaz de atração por alguém que claramente me via apenas como um incômodo a ser controlado.
A paz nesta casa importava, mas minha independência importava mais. Carl podia impor suas regras e flexionar sua autoridade o quanto quisesse—eu nunca cederia às suas táticas de intimidação. Não hoje. Não nunca.