




Capítulo 3
A porta do chalé rangeu ao abrir, revelando a luz do sol inundando o que deveria ser meu exílio, mas que parecia um presente inesperado. A tentativa de Jean de me banir havia fracassado espetacularmente, sua insatisfação se transformara em meu santuário privado.
"Bem, isso é uma surpresa", sussurrei, arrastando minha mala para dentro, as rodas prendendo-se no limiar de madeira.
O interior me encantou—rústico, porém elegante, com luzes de fada e folhagens adornando as paredes. Cortinas brancas emolduravam vistas da floresta, filtrando a luz da tarde pelo chão polido. Uma sala de estar modesta com um cantinho de leitura conectava-se a uma pequena cozinha. Um quarto aconchegante com banheiro esperava nas proximidades, completo com uma cama de dossel coberta com lençóis brancos. Tudo que eu precisava estava ali, minimizando encontros com o desprezo de Jean.
Meus dedos deslizaram pelo balcão de madeira enquanto uma sensação estranha tomava conta de mim. Embora estivesse na propriedade do meu pai, esse espaço parecia meu—um refúgio tanto de Jean quanto de tudo que deixei no Alabama. O chalé, aninhado contra a selva de Ken, carregava uma ressonância estranha que aliviava minha ansiedade, como se as paredes me acolhessem de uma maneira que a casa principal nunca havia feito.
"Nada mal," murmurei, levando minhas malas para o quarto.
A voz da minha mãe ecoou: "Sempre desfaça as malas do quarto primeiro, Lina. Não importa o quão caótica a vida esteja, você precisa de um santuário acabado." A lembrança trouxe conforto e saudade. Será que ela estava descansando agora, lutando sua batalha a milhares de quilômetros de distância?
Enquanto arrumava as roupas na cômoda de pinho, Kennedy mandou uma mensagem: "Venha para a casa principal. Quero falar com você."
Claro que ele queria me ver agora, apesar de ter ignorado minha chegada no aeroporto. Suspirando, endireitei minha blusa e segui pelo caminho de pedras através dos jardins vibrantes com flores exóticas.
Jean materializou-se instantaneamente na cozinha. "Aí está você. Demorou bastante," disse com um suspiro exagerado, olhando para o relógio. "Apresse-se. Kennedy não tem o dia todo."
Sua atitude confirmou minhas suspeitas—ela não facilitaria minha estadia. A animosidade parecia desproporcional, mas o Alabama me ensinou resiliência.
Seguindo-a por corredores revestidos de obras de arte, paramos diante de uma imponente porta branca. Ela instruiu de forma condescendente, "Sempre bata antes de entrar. Kennedy valoriza sua privacidade."
"Entendi," respondi secamente, batendo enquanto mantinha contato visual. Quando Kennedy respondeu, dei um sorriso presunçoso para Jean antes de entrar.
O escritório de Kennedy exalava poder silencioso—prateleiras de mogno cheias de livros, grandes janelas com vista para jardins bem cuidados. Ele se levantou de trás da mesa, seu rosto iluminando-se.
"Lina! Meu Deus, como você cresceu," disse, aproximando-se com os braços abertos.
"Já faz dois anos," lembrei, aceitando seu abraço desajeitado. Nossos corpos permaneceram rígidos, desconfortáveis com a intimidade forçada.
"Espero que tenha achado suas acomodações satisfatórias," disse, indicando para eu me sentar. "Achamos que você preferiria seu próprio espaço agora, longe da... atividade ao redor da casa principal."
Assenti. "O chalé é muito—"
"Você," ele completou, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios.
"Sim, exatamente." Cruzei as pernas. "Você não estava no aeroporto," acrescentei, incapaz de esconder minha acusação.
Kennedy explicou sobre negociações críticas. Quando mencionei a recepção de Carl e Ara, ele relaxou com minha avaliação diplomática de "acolhimento suficiente".
"Ara, Devin e Barry também trabalham na FaunaSphere, mas Carl ajuda nos assuntos da empresa," explicou. "Os meninos estão conosco há anos—praticamente família."
"Venha, tenho algo para você," disse Kennedy, me levando para a garagem subterrânea onde veículos brilhavam sob luzes embutidas.
Ele parou diante de um sedã azul meia-noite. As chaves balançavam em seus dedos, um pequeno chaveiro de jaguar reluzindo prateado.
"Você me deu um carro?" perguntei, incrédula.
"Sim. Você vai mudar o mundo, Lina. Tenho fé em você, e embora não estivesse presente antes, sua presença marca um novo começo para ambos."
Seu sentimento inesperado trouxe lágrimas aos meus olhos. Compartilhamos um abraço enquanto eu sussurrava, "Obrigada."
Eu não estava pronta para acreditar que ele havia mudado completamente, mas daria uma chance. As chaves na minha palma pareciam cheias de possibilidades.
"Estou ansiosa para criar memórias de verdade," eu disse, surpresa pela minha sinceridade.
"Vamos criar," ele prometeu. "O jantar em família é às sete. Jean está preparando sua especialidade."
De volta ao meu chalé, retomei a arrumação, pendurando roupas no armário com cheiro de cedro. O sol da tarde entrava inclinado pelas janelas, lançando retângulos dourados pelo chão. Contemplei os próximos meses no FaunaSphere—uma oportunidade profissional em meio a complicações pessoais.
Arrumei meus livros em ordem alfabética, esses companheiros de confiança durante transições passadas. Com horas restantes antes do jantar, uma inquietação começou a invadir meus ossos. A selva de Ken chamava da minha janela, sua folhagem densa sussurrando promessas de solidão.
Por impulso, calcei sapatos confortáveis e vesti uma jaqueta leve. Uma caminhada curta poderia clarear minha mente antes de enfrentar o campo de batalha social da noite.
O caminho para a selva era mal visível—uma trilha estreita serpenteando entre árvores antigas com troncos massivos. A luz da tarde filtrava pelo dossel em feixes dispersos. Pássaros cantavam acima em melodias desconhecidas enquanto eu me aventurava mais fundo, atraída por um chamado inexplicável.
O ar parecia diferente ali—mais pesado, carregado com algo que eu não conseguia nomear. Cheiros de terra, vegetação e algo mais doce preenchiam meus pulmões. Passei os dedos pela casca áspera e o musgo macio, saboreando texturas tão diferentes das florestas do Alabama.
"Apenas uma olhada rápida," prometi a mim mesma, embora cada passo me levasse mais longe, o chalé logo perdido de vista.
Os sons da selva me envolviam—folhas farfalhando, água gotejando, pássaros chamando. Então, um som diferente cortou o ar. Algo se movendo pela vegetação—não um movimento gentil, mas deliberado. Intencional.
Eu congelei, meu coração disparando. O farfalhar parou, depois começou novamente, mais perto agora. Galhos quebravam suavemente à minha esquerda.
"Olá?" chamei, minha voz soando pequena no vasto espaço verde.
A selva ficou estranhamente silenciosa. Até os pássaros cessaram suas chamadas. Girei lentamente, examinando a vegetação, de repente consciente de quão longe eu havia vagado da segurança.
Um flash de movimento entre as árvores chamou minha atenção—rápido demais para identificar. Então outro, circulando atrás de mim. Minha boca ficou seca enquanto eu girava, tentando rastrear o movimento.
Então eu os vi—olhos dourados brilhando entre folhas escuras, fixados indubitavelmente em mim. Não eram olhos de animal, pelo menos não de nenhum que eu reconhecesse. Muito conscientes, muito inteligentes. Eles piscaram uma vez, luminosos e hipnotizantes, parecendo olhar diretamente na minha alma.
O medo me atravessou como eletricidade. Tropecei para trás, quase caindo sobre uma raiz. Os olhos permaneciam firmes, observando. Avaliando. Seu olhar parecia antigo, paciente—e faminto.
Eu não esperei para aprender mais. Virando, corri cegamente pela vegetação, sem mais me importar com a direção. Galhos chicoteavam meu rosto enquanto o pânico me impulsionava para frente. Minha respiração vinha em arfadas curtas, meu coração abafando qualquer som que pudesse estar me seguindo.
Por algum milagre, eu irrompi da borda da selva, reconhecendo meu chalé entre as árvores. Não diminui a velocidade até alcançar a porta, lutando com mãos trêmulas para destrancá-la. Uma vez dentro, bati a porta, girando o ferrolho antes de me apoiar na madeira enquanto minhas pernas ameaçavam ceder.
Através da janela, eu olhava para a linha escura de árvores, meio esperando que aqueles olhos dourados surgissem. Nada se movia além do suave balanço das folhas, mas eu não conseguia afastar a certeza de que ainda estava sendo observada.
O que eu havia visto? Aqueles olhos não pertenciam a nenhum animal que eu conhecesse. Seu olhar tinha consciência, intenção—quase reconhecimento, como se estivessem esperando especificamente por mim.
Afundei em uma cadeira, incapaz de afastar a sensação de que algo na selva estava me esperando. A floresta de Ken guardava segredos, mais sombrios e imediatos do que eu havia imaginado, e eu acabara de ter meu primeiro encontro com os mistérios que se escondiam em suas profundezas.