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Capítulo 2

"Cadê meu pai?" perguntei ao me aproximar dos dois homens segurando uma placa com meu nome. Suas constituições musculosas e olhares intensos me pegaram de surpresa.

"Lina?" o mais alto perguntou, exibindo tatuagens intricadas ao longo do braço esquerdo. Seu cabelo preto como a noite caía descuidadamente sobre a testa.

"Sim, sou eu," confirmei, me libertando do olhar dele. "Perguntei sobre meu pai."

Ele revirou os olhos e pegou minha mala sem dizer uma palavra, indo em direção à saída.

"Por favor, desculpe o Carl," o outro disse com um meio sorriso apologético. "Ele não é muito de conversar. Eu sou o Ara."

"Lina!" a voz da Jessica chamou. "Achei minha mala! Você fez aquele voo ser muito melhor."

"O prazer foi meu," respondi. "Esqueça o táxi. Podemos te deixar onde você precisar. Certo, Ara?"

Ele hesitou antes de acenar com a cabeça. "Claro, se não for muito longe."

"Estou indo para a FaunaSphere Dynamics," disse Jessica animadamente. "Começo lá na segunda-feira."

Eu congelei. "FaunaSphere? É... é onde eu vou trabalhar também."

"Você é uma querida!" Jessica exclamou, me abraçando. Eu fiquei tensa instantaneamente.

Ela se afastou. "Não é muito de abraços?"

"Não particularmente," admiti com uma risada pequena. Notei o sorriso divertido de Ara pelo canto do olho.

Enquanto caminhávamos para o carro, tive que perguntar. "Você não mencionou que também ia trabalhar na FaunaSphere quando te falei do meu emprego."

O sorriso de Jessica não chegou aos olhos. "Eu sei, e sinto muito. Quando você mencionou dinâmicas de matilha de lobos, eu reconheci o projeto. É bastante prestigiado."

Ela baixou a voz. "Para ser honesta, eu estava entrevistando para uma posição e não queria criar qualquer constrangimento. Só descobri ontem que estaria em uma equipe diferente da sua."

"Isso faz sentido," respondi, sentindo uma mistura de alívio e curiosidade.

"Exatamente! Além disso, eu queria te conhecer como pessoa primeiro, não como uma potencial colega."

Quando chegamos ao carro, a reação de Carl ao nosso desvio foi explosiva. Ele concordou relutantemente depois que insisti.

"Entra logo no maldito carro," ele rosnou.

A paisagem da Califórnia passou borrada—verdes e marrons exuberantes criando uma tapeçaria natural. Depois de sair da rodovia, entramos em uma rua meticulosamente planejada.

"Isso é incrível," Jessica sussurrou, pressionando o rosto mais perto da janela.

"Bem-vinda à FaunaSphere Dynamics," Ara anunciou orgulhosamente, ganhando um bufar irritado de Carl.

Paramos em frente a edifícios elegantes e contemporâneos com grandes janelas. Carl pisou no freio, me jogando para a frente.

"Cuidado!" eu resmunguei, esfregando o ombro.

Seus olhos frios encontraram os meus no espelho. "Preste atenção da próxima vez."

Enquanto Carl descarregava as malas de Jessica, ela me puxou de lado. "Estou feliz que nos conhecemos. Ter um rosto amigo vai tornar o início aqui mais fácil."

"Com certeza," concordei. "E já que não estamos no mesmo departamento, não há conflito."

"De jeito nenhum," ela piscou. "Embora alguns chefes de departamento possam ser bem intensos. Eles pressionam as pessoas ao limite."

"Bom saber," respondi, me perguntando como ela já sabia tanto.

Depois de nos despedirmos de Jessica, continuamos em direção à propriedade do meu pai. A atitude de Carl estava me irritando.

"A hostilidade é necessária?" desafiei.

Seus olhos cinzentos se estreitaram no espelho. "Nem todo mundo tem a vida servida em uma bandeja de prata."

"Você não sabe nada sobre a minha vida," retruquei.

Ara pigarreou. "Então, Lina, seu pai mencionou que você tem estudado conservação da vida selvagem?"

"Sim," respondi, ainda lançando um olhar fulminante para Carl. "Tenho trabalhado com matilhas de lobos. A dinâmica social deles é complexa."

Notei uma tensão estranha entre os homens – a mão de Carl apertou enquanto Ara se mexia desconfortavelmente.

Chegamos a uma propriedade moderna imponente, com linhas limpas e vidros expansivos. O contraste com a minha criação modesta era gritante.

"Seu pai foi chamado inesperadamente," Ara explicou. "Ele deve voltar amanhã."

Esperei que Carl me ajudasse com as malas, mas ele simplesmente foi embora. "Trazer você viva até aqui foi o máximo da minha obrigação."

Suspirando, arrastei minha bagagem em direção à entrada.

Lá dentro estava minha madrasta, seu cabelo perfeitamente iluminado emoldurando um rosto que poderia ser bonito, não fosse o desprezo em sua expressão.

"Lina," ela disse, a voz seca. "Pontualidade é valorizada nesta casa."

"Entendido, Jea," respondi secamente.

"É Jean," ela corrigiu, sua fachada se quebrando instantaneamente.

"Certo. Onde vou ficar?"

"Não na casa principal," ela respondeu, mal contendo sua satisfação. "Preparamos o chalé na extremidade da propriedade. Pensamos que você apreciaria a... privacidade."

A tentativa mal disfarçada de me isolar era óbvia, e o ressentimento cresceu no meu peito. "É mesmo? E de quem foi essa ideia—sua ou do meu pai?"

Um lampejo de tensão passou pelo rosto dela. "Foi uma decisão conjunta. Seu pai concordou que seria melhor."

"Que conveniente," murmurei. "Mostre o caminho então."

Ela me guiou pela casa até as portas traseiras, seus saltos batendo contra o piso de mármore como uma contagem regressiva para o meu exílio. Lá fora, ela apontou para um chalé pitoresco perto da extremidade da propriedade.

"Sua acomodação," ela anunciou com uma polidez artificial. "O jantar é às sete. Não se atrase."

Sem esperar minha resposta, Jean se virou e voltou para a casa, me deixando sozinha com minha bagagem e crescente frustração.

Arrastei minha mala pelo gramado bem cuidado, sentindo o peso da minha decisão a cada passo. O que eu estava fazendo aqui? Minha mãe estava lutando contra o câncer enquanto eu era relegada a uma casa de hóspedes por uma madrasta que claramente desejava que eu não existisse.

Dentro do chalé, fiquei surpresa ao encontrar o espaço acolhedor—móveis confortáveis e janelas grandes emoldurando a paisagem. Apesar da tentativa óbvia de Jean de me afastar da casa principal, ela ao menos garantiu que o chalé estivesse bem equipado.

Afundei no sofá, exausta. Peguei o celular e mandei uma mensagem para minha mãe, avisando que cheguei em segurança, cuidadosamente editando os detalhes que poderiam preocupá-la. Depois, ajustei o alarme para o jantar, determinada a não dar a Jean munição ao chegar atrasada.

Enquanto o crepúsculo se instalava do lado de fora das minhas janelas, não conseguia afastar a sensação de que tinha cometido um grande erro. O chalé podia ser confortável, mas representava tudo de errado com a minha situação—próximo o suficiente para estar conectado ao mundo do meu pai, mas deliberadamente apartado dele.

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