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Você está substituindo ela?

Balancei a cabeça, passando uma mão trêmula pelo cabelo. "Não. Não, isso é insano. Sabrina está morta, e de repente você me diz que vou me casar com Alessandro, substituindo-a como se ela fosse uma peça de xadrez nesse jo..."

"Já chega." Meu pai rosnou imediatamente, interrompendo-me no meio da frase.

"Não, não é suficiente!" Eu retruquei. "Você nem está de luto por ela. Está aqui, fazendo planos como se ela fosse uma ficha de negociação que você pode trocar por um negócio melhor. E eu sou homem, agora você quer que eu me case com outro homem." Minha voz quebrou na última palavra, homem... o peso de tudo pressionando meu peito.

Seu maxilar se contraiu, mas sua voz permaneceu perigosamente calma. "A morte de Sabrina não apaga as responsabilidades desta família. Você acha que eu quero isso? Você acha que é fácil para mim?" Seus olhos escureceram, afiados como uma lâmina. "Isso não é sobre você, Nikolai. Nunca foi. É sobre garantir nossa sobrevivência. Você fará o que for necessário."

Soltei um suspiro áspero, minhas mãos se fechando em punhos. "E se eu recusar?"

Seu silêncio foi minha resposta.

Engoli seco, meu pulso rugindo nos ouvidos. Ele não estava me dando escolha. Eu sabia que meu pai era implacável, mas isso, isso era algo totalmente diferente.

Eu estava sendo encurralado.

E pela primeira vez na minha vida, não havia saída. Ele queria que eu me casasse com outro homem.

A realidade disso me atingiu como um trem de carga. Não havia espaço para luto, nenhum espaço para processar o fato de que minha irmã, que deveria estar naquele altar, se foi. Meu pai havia arrancado até isso de mim.

Inalei profundamente, minha garganta queimando. "Você não pode simplesmente decidir isso por mim," sussurrei, mas mesmo enquanto dizia isso, sabia o quão inúteis eram minhas palavras.

"Eu posso. E eu decidi," meu pai disse friamente. "O casamento vai acontecer. Você vai honrar este contrato."

A finalidade em sua voz enviou um calafrio pela minha espinha.

Eu queria lutar, exigir por quê, gritar que isso estava errado. Mas o olhar em seus olhos me disse que não importava. Meu luto, minha relutância, minha própria identidade, nada disso importava no grande esquema desse acordo.

Isso era maior que eu.

Maior do que o que eu queria.

Meu peito estava apertado, e minhas mãos tremiam enquanto eu as apertava ao lado do corpo. "Isso não é sobre sobrevivência," eu disse baixinho, as palavras tendo um gosto amargo na minha boca. "Isso é sobre controle. Sobre seu poder."

Seu olhar não vacilou, frio como sempre. "É sobre fazer o que deve ser feito. Você fará o que for necessário. Se você recusar, destruirá tudo. A morte de sua irmã terá sido em vão. Nossa família vai desmoronar."

Exalei bruscamente, minha respiração vindo em arfadas irregulares. "E Alessandro, ele vai aceitar...?" O próprio pensamento dele, parado ali como se esse casamento fosse apenas mais uma transação comercial, fazia minha pele arrepiar.

“Ele vai. Você vai se casar com ele,” disse meu pai firmemente. “Seus sentimentos pessoais não importam. O contrato é válido. Você vai manter nossa família intacta. Você vai cumprir seu dever.”

Olhei para ele uma última vez, procurando qualquer traço do homem que eu achava que conhecia. Mas a máscara que ele usava era impenetrável, e eu só podia ver os olhos frios e calculistas do patriarca.

Meu coração parecia estar se despedaçando, pedaço por pedaço. Como isso pôde acontecer? Como eu pude ser reduzida a isso, sem voz, sem escolha?

Virei-me então, minha mente girando, meu corpo tremendo com a realização do que estava por vir. Não havia como escapar. Amanhã, após o enterro de Sabrina, o casamento aconteceria.

.....

O enterro estava marcado para a noite. Uma cerimônia apressada, como se colocar Sabrina na terra rapidamente apagasse o peso de sua perda. Não parecia real. Nada disso parecia.

Eu estava perto da sepultura aberta, minhas mãos cerradas ao lado do corpo, dedos rígidos pelo frio. O ar cheirava a terra úmida, o céu pintado em tons opacos de cinza, como se o próprio universo estivesse de luto. Mas não havia lágrimas. Não havia lamentos de dor. Apenas silêncio. Pesado. Sufocante.

Minha mãe não estava aqui. Ela não saiu de casa desde que Sabrina morreu, trancada em sua tristeza, incapaz de enfrentar este momento. Talvez eu a invejasse por isso. Meu pai estava à cabeceira da sepultura, rígido como sempre, seu rosto esculpido em pedra. Para qualquer outra pessoa, ele parecia composto, mas eu sabia melhor. A tensão em sua mandíbula, o jeito como seus dedos tremiam ao lado do corpo, essa perda o afetava mais do que ele jamais admitiria.

As pessoas vieram, claro. Membros da família, associados de negócios, pessoas que mal conheciam Sabrina mas tinham que estar aqui por aparências. Elas sussurravam entre si, suas vozes baixas, sua pena como facas na minha pele. Que tragédia. Tão jovem. Tão inesperado.

Inesperado?

Olhei para o caixão, polido e impecável, um contraste gritante com a terra em que logo seria enterrado. Sabrina nunca deveria ter acabado aqui. Eu deveria ter impedido. Deveria ter feito algo.

O padre falou, sua voz um murmúrio monótono ao fundo, recitando palavras que não significavam nada. Orações pelos mortos. Promessas de paz. Duvido que Sabrina tenha encontrado alguma.

Quando acabou, quando a última pá de terra foi colocada sobre sua sepultura, as pessoas começaram a ir embora. Uma por uma, elas se afastaram, seu dever cumprido, suas condolências ditas.

Meu pai permaneceu.

Eu também.

Ele olhou para a sepultura por um longo tempo, sua expressão indecifrável. Então, finalmente, ele falou, sua voz baixa. “Vá se preparar para o casamento.”

As palavras me atingiram como um soco no estômago. Fiquei ali, meus pés colados ao chão frio e duro, olhando para o túmulo da minha irmã como se, de alguma forma, eu pudesse mudar o que acabou de acontecer.

"Não temos tempo a perder", ele acrescentou.

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