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Encontro floral

POV de Aria

O dia antes do casamento da Linda foi nada menos que um pesadelo. A casa estava um caos—pessoas entrando e saindo, vozes se sobrepondo, instruções sendo jogadas como confete. E bem no meio de tudo isso estava eu—fazendo mil recados como se minha vida dependesse disso. Minha mãe, como esperado, jogou todo o trabalho em cima de mim enquanto a Cassandra podia ficar sentada sem fazer absolutamente nada.

Eu tinha acabado de voltar de pegar o pedido de comida com os fornecedores quando a voz da minha mãe ecoou. “Aria, vá buscar o buquê de flores na floricultura. O pedido já deve estar pronto.”

Enxuguei o suor da testa, mal conseguindo recuperar o fôlego. “Acabei de voltar. Talvez a Cassandra possa—”

“Você quer arruinar meu grande dia?” minha mãe interrompeu antes que eu pudesse terminar. “O mínimo que você pode fazer é ajudar.”

Cerrei os dentes, segurando a resposta que queimava na minha língua. Não adiantava discutir—eu já sabia a resposta. Cassandra nunca precisava levantar um dedo, e eu sempre era esperada para cobrir as falhas.

Peguei as chaves do carro e saí furiosa, batendo a porta atrás de mim.

“Aria! Cuidado!” Victor gritou de dentro.

Sorri para mim mesma—uma pequena vitória em um dia miserável.

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Entrei no meu velho Toyota Camry, segurando o volante enquanto respirava fundo. Não era muito, mas era meu—a primeira coisa que comprei para mim mesma depois de meses economizando. Enquanto isso, Cassandra tinha ganhado um Mercedes novinho de presente de aniversário, mesmo sem ter carteira de motorista. A injustiça de tudo isso ainda fazia meu sangue ferver.

Peguei meu celular e disquei para Gloria. Ela atendeu no segundo toque, sua voz leve e alegre. “O que houve, querida?”

“Por favor, me diga que você está livre,” suspirei. “Venha comigo na floricultura antes que eu perca a cabeça.”

Gloria riu. “Claro, vou sim. Qualquer coisa para te resgatar das tarefas de escrava de casamento. Me pega em dez minutos.”

“Você é a melhor,” eu disse, já me sentindo um pouco mais leve.

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Quando cheguei na casa da Gloria, ela já estava esperando do lado de fora. Ela entrou no banco do passageiro, colocando o cinto com um sorriso.

Gloria sempre tinha esse brilho natural. Sua pele marrom-caramelo reluzia, provavelmente por causa do óleo de coco que ela jurava ser milagroso. Seu afro volumoso emoldurava seu rosto lindamente, e o piercing no nariz dava um toque de ousadia às suas feições suaves e calorosas. Ela usava uma saia jeans e um suéter de crochê—provavelmente feito por ela mesma.

“Você está incrível, como sempre,” eu disse, saindo do meio-fio.

Gloria sacudiu o cabelo dramaticamente. “Eu sei, querida. Mas agradeço a validação.”

Nós duas rimos, a tensão no meu peito diminuindo.

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Enquanto dirigíamos, Gloria franziu a testa para a música que tocava nos alto-falantes. “Aria, o que é essa música lenta e deprimente? Você está bem?”

Eu pisquei, só então percebendo que não tinha nem notado a música. Minha mente estava muito ocupada com outra coisa - ou melhor, outra pessoa.

Matteo.

Já fazia duas semanas desde a última vez que o vi, e por algum motivo, eu não conseguia parar de pensar nele. O jeito que ele me olhava, o jeito que sua voz me dava arrepios, o mistério que o cercava. Era frustrante. Eu mal o conhecia, mas aqui estava eu, sentindo sua falta.

"Terra chamando Aria?" Gloria acenou uma mão na frente do meu rosto.

"Hã?"

"Eu sabia. Você estava pensando em um cara." Seus olhos brilharam maliciosamente. "Quem é ele?"

"Ninguém importante," murmurei.

Ela ergueu uma sobrancelha. "Certo. É por isso que você parece que está prestes a escrever um poema de amor trágico."

Revirei os olhos, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela se inclinou e trocou a música. Die With a Smile de Bruno Mars e Lady Gaga explodiu pelos alto-falantes.

"Bem melhor," declarou ela. "Agora, canta comigo."

Eu ri enquanto ela cantava dramaticamente as letras, e logo, me juntei a ela. Cantamos com toda a força, sem nos importar que as pessoas na rua estivessem olhando. Gloria sempre trazia esse lado despreocupado meu, e eu a amava por isso.

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O cheiro de flores frescas nos cumprimentou quando entramos na floricultura. Fileiras de flores coloridas alinhavam a loja, enchendo o espaço com fragrâncias suaves e doces.

Gloria e eu vagamos pelo lugar, inspecionando diferentes buquês. Peguei um buquê de rosas, levando-o ao meu nariz.

"Ok, mas por que esse aqui cheira como o paraíso?" murmurei.

"Provavelmente porque é a única coisa boa acontecendo hoje," brincou Gloria.

Eu ri, colocando o buquê de volta.

O sininho acima da porta tilintou quando mais pessoas entraram na loja. Eu mal notei - muito focada em escolher as flores perfeitas - até que Gloria me cutucou e sussurrou, "Meu Deus, eles são gatos."

Curiosa, eu me virei.

E então congelei.

Matteo.

Meu coração bateu forte no peito quando nossos olhos se encontraram. Era como se o ar tivesse mudado, ficando mais denso com algo que eu não conseguia nomear. Um arrepio percorreu minha espinha, mas não só porque ele estava ali. Não - era porque, ao lado dele, estava alguém que parecia exatamente com ele.

Meu estômago revirou.

Seu irmão gêmeo.

Os olhos de Matteo escureceram ligeiramente, seus lábios se curvando em algo indecifrável.

Engoli em seco, incapaz de desviar o olhar.

Gloria se inclinou e sussurrou, "Aria, você está encarando."

Eu mal a ouvi. Tudo em que eu conseguia focar era Matteo - e o homem ao lado dele que tinha o mesmo maxilar afiado, os mesmos olhos penetrantes, a única diferença era uma cicatriz nas sobrancelhas, a mesma presença que fazia o mundo parecer menor ao redor deles.

Quais eram as chances de encontrá-lo novamente?

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