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Realização

POV de Matteo

No momento em que ela trombou comigo, eu soube que meu dia acabara de ficar interessante.

Mal tive tempo de reagir antes que ela cambaleasse para trás, seus olhos arregalados travando nos meus como um cervo pego pelos faróis. Por alguns segundos, ela ficou ali parada, a boca ligeiramente aberta, completamente hipnotizada. E, caramba, se eu não estava me divertindo com aquilo.

Eu aproveitei para estudá-la, deixando meu olhar percorrer suas feições delicadas, o jeito que seu cabelo escuro caía sobre os ombros e o leve rubor subindo pelo pescoço. Ela era fofa de uma maneira que provavelmente nem percebia—completamente alheia ao efeito que causava quando olhava alguém daquele jeito.

Eu sorri de lado, inclinando-me apenas um pouco. “Tudo bem aí, princesa?”

Ela piscou, como se saísse de algum feitiço, e rapidamente deu um passo para trás. Suas bochechas estavam vermelhas, mas ela tentou disfarçar, cruzando os braços sobre o peito.

Eu ri, baixo e profundo. “Vai continuar olhando, ou devo me sentir lisonjeado?”

Ela fez uma cara feia, mas antes que pudesse pensar em alguma resposta afiada, as portas da boutique se abriram.

Nem precisei me virar para saber quem era. No momento em que ouvi aquela voz falsa, excessivamente amigável, meu bom humor azedou.

“Matteo! Que surpresa agradável.”

Victor.

Finalmente desviei o olhar da garota—Aria, eu estava supondo—e concentrei minha atenção no homem que eu desprezava. Ele caminhou em nossa direção com aquele sorriso nojento, as mãos casualmente enfiadas nos bolsos de suas calças caras. Tudo nele exalava falsidade, desde o cabelo perfeitamente penteado até o jeito que sempre tentava demais parecer importante.

Não me preocupei em esconder minha reação. Meu sorriso desapareceu, e em vez disso, deixei minha expressão se tornar fria, meu desdém evidente.

Victor hesitou por um segundo antes de limpar a garganta. “Eu estava justamente falando sobre você mais cedo.”

“Que sorte a minha,” eu murmurei.

Ele riu de forma constrangedora, fingindo não notar a tensão. “Ainda tão encantador como sempre, vejo.”

Não respondi. Não tinha paciência para ele, e ele sabia muito bem disso.

Victor se mexeu, então estampou outro de seus sorrisos falsos. “Escuta, Matteo, eu estava esperando que você reconsiderasse vir ao casamento. Vai ser um grande evento.”

Eu arqueei uma sobrancelha, sem me impressionar. “Não estou interessado.”

Victor suspirou dramaticamente, balançando a cabeça como se eu fosse uma criança rebelde. “Você sempre foi difícil.” Então, como se tivesse acabado de pensar em algo engraçado, ele acrescentou com uma risada, “Embora, se não quiser vir pela família, pelo menos passe lá e jogue um pouco de dinheiro para seu padrasto favorito, hein?”

Ninguém riu. Nem eu. Nem Aria.

O sorriso de Victor vacilou quando ele percebeu que sua piada não tinha funcionado, e ele limpou a garganta novamente antes de mudar de assunto.

“Ah, onde estão meus modos?” Ele se virou para Aria, colocando uma mão em seu ombro como se tivesse qualquer direito de fazer isso. “Matteo, conheça minha adorável enteada, Aria.”

Enteada.

Meus olhos se voltaram para ela, observando enquanto ela permanecia rígida sob o toque dele. Sua expressão anteriormente perturbada foi substituída por algo mais reservado, seus lábios pressionados como se estivesse segurando algo.

Interessante.

Victor ainda estava falando, dizendo algo sobre como ela estava experimentando vestidos de dama de honra, mas eu mal ouvi. Em vez disso, foquei na reação dela, na maneira como seus dedos se moviam ligeiramente, como ela não olhava para ele quando ele falava. Havia algo ali. Algo que ela não estava dizendo.

Inclinei a cabeça ligeiramente, sorrindo enquanto estendia uma mão.

“Olá, Aria,” eu disse suavemente, observando seus olhos se arregalarem enquanto ela hesitava em colocar sua mão na minha. “Suponho que isso me faz seu tio postiço.”

Sua boca se abriu ligeiramente, claramente surpresa pelo comentário.

Victor forçou uma risada, tentando disfarçar. “Ah, Matteo, sempre o brincalhão.”

Mas eu não estava brincando. Não realmente. E Aria sabia disso.

Sua mão estava quente na minha, seu aperto não tão firme quanto ela provavelmente queria que fosse. Segurei por apenas um segundo a mais do que o necessário antes de finalmente soltar.

Ela ainda estava me encarando, e desta vez, eu sabia exatamente o que estava passando pela sua cabeça. Quem diabos era esse cara?

Bom. Eu queria que ela se perguntasse.

Dei um pequeno passo para trás, colocando as mãos nos bolsos. “Bem, Victor, por mais que eu adoraria continuar essa reunião familiar comovente, tenho lugares para ir.”

Victor abriu a boca, provavelmente para tentar me persuadir uma última vez, mas eu já estava me virando.

Antes de ir embora, porém, lancei um último olhar para Aria.

Ela ainda estava ali, ainda me observando. E eu não perdi a maneira como seus lábios se abriram ligeiramente, como se ela tivesse algo a dizer mas não tivesse certeza se deveria.

Eu sorri.

Interessante, de fato.

Enquanto caminhava em direção ao meu carro, ainda podia sentir os olhos dela em mim, e pela primeira vez em muito tempo, me peguei realmente ansioso por algo.

Esse casamento talvez não seja uma perda de tempo afinal.

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