




Capítulo 4: O breve descanso antes da tempestade
Avery
"Você não tem o direito de dizer não pra mim. Nunca teve."
Sua boca colidiu contra a minha, dentes mordendo meu lábio inferior com força suficiente para fazer sangrar. Uma mão se enredou dolorosamente no meu cabelo enquanto a outra lutava com o botão da minha calça.
"Pare!" eu ofeguei quando ele se afastou para respirar. "Kevin, por favor—"
"Cala a boca," ele rosnou, puxando meu cabelo com mais força. "Você me pertence. Mesmo que eu tenha rejeitado sua bunda patética!" Ele gritou loucamente. Sua expressão estava horrivelmente feia...
Seus dedos cavaram na cintura da minha calça, começando a puxá-la para baixo. Eu podia sentir a pressão dura dele contra meu estômago, sua respiração áspera e quente contra meu pescoço.
Algo dentro de mim se quebrou.
Minhas mãos ainda seguravam a cesta de limpeza. Sem pensar, eu a balancei para cima com toda a força que possuía. Ela acertou a cabeça de Kevin com um estalo nauseante.
Ele cambaleou para trás, momentaneamente atordoado. Sangue começou a jorrar instantaneamente de onde a borda da cesta havia aberto seu couro cabeludo.
"Vadia maldita!" ele rugiu, tocando a cabeça e olhando para o sangue em seus dedos com incredulidade.
O tempo parecia desacelerar. Eu observei enquanto seus olhos mudavam do choque para a raiva assassina, as íris negras sangrando para o branco. Sua transformação estava começando—desencadeada pela raiva e pela dor.
É isso, pensei com uma estranha sensação de calma. Hoje finalmente é o dia da minha morte.
Um alívio me envolveu como uma onda fria. Depois de anos de tormento, tudo acabaria. Sem mais dor, sem mais humilhação, sem mais agulhas e hematomas no escuro. O pensamento era quase... reconfortante.
O rosto de Kevin se contorceu, ossos começando a quebrar e se remodelar sob sua pele. Sangue ainda escorria pelo seu rosto, pintando metade dele de vermelho. Seus lábios se retraíram para revelar caninos que se alongavam.
"Vou rasgar sua garganta maldita," ele rosnou, as palavras distorcidas enquanto sua mandíbula começava a mudar.
Eu não corri. Qual era o ponto? Em vez disso, fiquei ali, estranhamente tranquila, esperando que a morte finalmente me reivindicasse.
Graças a Deus, pensei. Meus dias finalmente acabaram. Graças a Deus vou morrer hoje.
Eu fechei os olhos, mas a dor esperada não ocorreu. O movimento à minha frente parou. Num momento, Kevin estava furioso como um predador atrás de sua presa, e no próximo, ele congelou no meio do passo.
Não por escolha—eu podia ver isso na raiva ainda ardendo em seus olhos—mas por comando.
"CHEGA!"
O rugido que ecoou pelo corredor não era apenas alto; carregava peso, autoridade. Voz de Alfa. Eu a reconheci imediatamente como a do meu irmão Trevor.
Eu agarrei minha camisa contra meu peito, lágrimas brotando nos meus olhos. A cesta de limpeza que eu estava carregando estava no chão, sangue vermelho vivo—sangue de Kevin de onde eu o havia golpeado—manchando o pano branco dentro.
Trevor caminhou em nossa direção, seu rosto contorcido com irritação em vez de preocupação. "O que diabos você pensa que está fazendo, Kevin? Você esqueceu que dia é hoje? Não vou deixar seu idiota estragar meus planos!"
Graças a Deus. Se Trevor não tivesse usado sua voz de Alfa para comandar Kevin a parar, eu poderia estar morta agora... ou sem uma mão, talvez uma perna. O pensamento me fez tremer ainda mais.
A cabeça de Kevin caiu como um cachorro repreendido, mas seus olhos—aqueles olhos negros e sem alma—ainda mantinham a desobediência. Pior, havia algo mais ali também: decepção. Como se ele estivesse irritado por ter sido interrompido antes de poder terminar o que começou. O pensamento fez o bile subir na minha garganta.
Apesar de ser meu irmão, Trevor nunca olhou diretamente para mim. Seus olhos permaneciam fixos em Kevin, suas narinas inflando de raiva.
"Hoje é o dia em que garantimos nossa aliança com os Tempest Howlers," Trevor continuou, sua voz caindo para um rosnado perigoso. "E você está aqui correndo atrás de sua pica em vez de se preparar."
Quando finalmente terminou de repreender Kevin, Trevor se virou e lançou um olhar de desprezo para mim. Suas narinas inflaram levemente enquanto ele olhava para baixo, vendo-me encolhida no chão.
"Coloque essa vadia na masmorra," ele disse, sua voz leve e desdenhosa, como se estivesse ordenando que alguém jogasse o lixo fora. "Vamos lidar com ela depois de terminarmos nossos negócios..."
Kevin imediatamente se moveu em minha direção, suas mãos já se estendendo. Eu me encolhi, pressionando-me mais forte contra a parede. Mas Trevor levantou a mão, parando-o.
"Você não precisa levá-la sozinho," Trevor disse. "Eu preciso de você ao meu lado quando negociar com os outros Alphas." Ele gesticulou para dois guardas que estavam por perto. "Vocês dois, levem-na."
Se eu não soubesse melhor, poderia ter pensado que Trevor estava me protegendo da brutalidade de Kevin. Mas eu sabia a verdade. Trevor não estava me salvando de nada—ele estava apenas adiando meu sofrimento por conveniência.
Os guardas me agarraram rudemente pelos braços, me puxando para ficar de pé. Eu não resisti. Qual era o ponto? Depois que Trevor e Kevin terminassem a reunião, eu enfrentaria a punição que eles julgassem apropriada. Isso era apenas a calmaria antes da tempestade.
Enquanto me arrastavam, eu consegui dar uma última olhada no rosto de Kevin. A fome ali fez minha pele arrepiar. Ele não tinha terminado comigo. Nem de longe.
A "masmorra" era realmente apenas um armário glorificado—um pequeno quarto sem janelas onde nenhuma luz podia penetrar uma vez que a porta estivesse fechada. Eles não precisavam de correntes ou algemas para me conter. A própria escuridão já era prisão suficiente.
"Aproveite sua estadia, vadia sem lobo," um dos guardas zombou, me empurrando com força suficiente para que eu tropeçasse e caísse de joelhos no chão de concreto frio. "Talvez desta vez eles te deixem aqui para apodrecer."
"Desperdício de espaço," o outro acrescentou, cuspindo em minha direção. "Deveriam ter te afogado quando tiveram a chance."
A pesada porta se fechou atrás deles, me mergulhando em absoluta escuridão. O som das risadas deles desapareceu enquanto se afastavam, me deixando sozinha com meu pior medo.
Eu não conseguia ver minha mão na frente do meu rosto. A escuridão era tão completa que parecia um peso físico pressionando sobre mim. Minha respiração acelerou, o pânico crescendo em meu peito.
Eu rastejei cegamente até encontrar uma parede, então pressionei minhas costas contra ela. Puxando meus joelhos até o peito, envolvi meus braços em volta das pernas e me fiz o menor possível. Talvez, se eu fosse pequena o suficiente, a escuridão não me encontrasse.
O frio do chão de concreto penetrava em meus ossos. Meu corpo doía do ataque de Kevin, hematomas já se formando sob minha pele. Sem meu lobo, sem a habilidade de curar, cada lesão durava muito mais do que deveria.
Eu fechei minhas pálpebras pesadas, embora não fizesse diferença na escuridão total. Pelo menos com os olhos fechados, eu poderia fingir que estava escolhendo não ver, em vez de ser incapaz de.
A exaustão me puxava, me arrastando para a inconsciência. Meu último pensamento antes de o sono me dominar foi que talvez, apenas talvez, eu não acordasse desta vez.