




Capítulo 4: Meu futuro
POV de Juno
Meus pulmões queimavam enquanto eu terminava minha corrida matinal, a dor física sendo uma distração bem-vinda do meu tumulto emocional. A reação da matilha foi imediata quando entrei em nosso território—conversas cessaram, olhares desviados, seus cheiros traindo tudo. Excitação, curiosidade e, por baixo de tudo, pena. A notícia de que Matthew havia encontrado sua alma gêmea se espalhou como fogo.
Eles já estão escolhendo lados, Seraphine rosnou dentro de mim, irritada com os olhares de soslaio e os sussurros que me seguiam pelo complexo.
Matthew estava sentado à mesa da cozinha quando voltei para casa, seu café da manhã pela metade. Passei por ele sem dizer uma palavra, ignorando sua voz carregada de arrependimento chamando meu nome.
Eu precisava de um banho porque tinha uma reunião hoje. Luna Scarlett me convidou para a reunião; ela é uma das minhas amigas mais próximas. Apesar de me sentir abalada pelos eventos de ontem, ainda decidi ir.
No chuveiro escaldante, meus pensamentos se voltaram para Scarlett e Freya—mulheres cujos Alphas encontraram suas almas gêmeas. Seus olhos vazios e sorrisos forçados me assombravam. Eu me tornaria apenas mais um conto de advertência? Outra Luna descartada pelo destino?
Nós não somos elas, Seraphine rosnou. Nós não vamos desaparecer.
Quando voltei ao quarto, enrolada na toalha, Matthew estava esperando na nossa cama. Eu o ignorei, a rejeição que sentia era profunda e primitiva. Quando seus braços me envolveram por trás, seus lábios encontrando minha marca, eu me virei em fúria.
"Não me toque," cuspi. "Não depois do que você fez ontem à noite."
"Juno, por favor—"
"Você me humilhou," cortei-o, minha voz tremendo. "Na frente de todos."
"Eu parei," ele insistiu, passando a mão pelo cabelo desgrenhado. "Eu não—nós não—"
"O quê?" Ri, amarga e fria. "Você não transou com ela? Isso deveria me fazer sentir melhor? Que você só fez tudo o resto?"
A dor nos olhos dele deveria me dar satisfação, mas não deu. Havia algo mais ali também, um desejo que não tinha nada a ver comigo.
"Vamos, troque de roupa, temos uma reunião para ir," disse impaciente, não querendo falar muito mais com ele.
"A reunião foi adiada para esta noite," ele disse suavemente. "Juno, me desculpe. Eu sinto muito."
"Estou cansada dessa palavra," murmurei, virando-me para longe dele. "Desculpa não significa nada se você vai fazer de novo."
"Eu nunca quis te machucar," ele sussurrou, agarrando meu braço e me puxando contra ele. Seus olhos estavam molhados com lágrimas não derramadas. "Você tem que acreditar em mim. Eu nunca me senti tão envergonhado."
"Mas você não conseguiu se controlar, conseguiu?"
"Você não entende como foi," ele disse. "Eu não consegui—eu não posso—lutar contra essa atração."
Para minha surpresa, Matthew caiu de joelhos, envolvendo seus braços ao redor das minhas pernas enquanto pressionava o rosto contra minhas coxas. Eu nunca tinha visto um Alpha tão quebrado, tão vulnerável. Isso ia contra tudo na natureza deles.
"Por favor, não desista de mim," ele implorou, suas lágrimas encharcando o tecido dos meus jeans. "Eu preciso de você, Juno. Eu sempre precisei de você."
Meus dedos encontraram seu cabelo, sentindo sua textura familiar.
"Eu sei que isso está acontecendo rápido," ele continuou, suas palavras abafadas contra minha perna. "Mas podemos resolver isso. Eu prometo que vou melhorar. Só não me afaste."
"Você quer que eu aceite compartilhar você com ela," eu disse sem emoção.
"Eu não sei o que quero," ele admitiu, olhando para cima com os olhos vermelhos. "Mas sei que não quero te perder."
"Você já perdeu," eu sussurrei. "O que acontece agora é apenas... consequência."
"Não," ele insistiu, levantando-se e segurando meu rosto com as mãos. "Eu vou lutar contra isso, Juno. Eu juro que vou."
Eu não acreditava nele, mas não tinha energia para discutir mais. A atração de uma alma gêmea era forte demais, especialmente para um Alpha. Eu sabia que ele estava falando a verdade, mas também sabia que ele não conseguiria cumprir.
A dor no meu peito ameaçava me consumir. Nossa vida juntos, a felicidade que construímos, estava acabada. Eu sabia disso com uma certeza que me aterrorizava.
O salão de reuniões da matilha estava cheio de energia nervosa quando Matthew e eu entramos naquela noite. Sentia olhos em mim de todas as direções, ouvia os sussurros que nos seguiam. Peguei fragmentos de conversas, sobre Matthew e Isabelle na varanda, como ele estava tão perdido que rasgou o vestido dela, como ela gemeu alto o suficiente para metade da festa ouvir.
Cada detalhe era uma ferida nova.
Freya veio até mim durante o intervalo. Ela parecia terrível. Eu podia dizer que ela havia bebido. Você podia sentir o cheiro dela mesmo através de todo aquele perfume.
"Como você está aguentando?" ela perguntou, sua voz rouca de anos de bebida.
"Estou bem," eu menti.
Freya me deu um olhar conhecedor. "Está tudo bem não estar bem, sabe. Ninguém espera que você esteja."
Olhei ao redor da sala, notando como as outras mulheres evitavam cuidadosamente o assunto de Matthew e Isabelle. Apreciei a tentativa de tato delas. Algumas realmente esperavam que isso fosse apenas uma fase que passaria. Outras, como Scarlett e Freya, sabiam melhor.
"Fica mais fácil?" perguntei a Freya, mantendo minha voz baixa.
Ela soltou uma risada sem humor. "Quer a verdade? Não. Mas você fica mais corajosa."
"Quinn não me toca há mais de um ano," Freya continuou, seus dedos mexendo no colar. "Nossa cama esfriou muito antes disso. Ele dorme no quarto dela agora."
"E você simplesmente... aceita isso?" Não consegui esconder a descrença na minha voz.
"Que escolha eu tenho?" ela rebateu. "Um Alfa não rejeita sua companheira destinada - o risco de fraqueza é muito grande. E ninguém quer mercadoria usada, Juno. Nenhum lobo desafiará um Alfa por uma mulher que ele marcou e descartou."
Sua afirmação caiu como um soco no estômago. Seraphine, geralmente tão rápida em rugir em desafio, ficou em silêncio. Um arrepio percorreu minha espinha. Este era meu futuro, assistindo Matthew se apaixonar cada vez mais por Isabelle enquanto eu desaparecia no fundo.
"Então o que você faz?" perguntei, desesperada por alguma solução, alguma saída deste pesadelo.
O sorriso de Freya não alcançou seus olhos. "Eu encontro conforto onde posso. Discretamente, é claro."
Demorei um momento para entender o que ela queria dizer. "Você tem casos?"
"Quinn não se importa mais com quem eu transo," ela deu de ombros. "Desde que eu não o envergonhe em público. É... um arranjo."
É isso que meu casamento se tornaria? Um "arranjo" onde Matthew dormia com Isabelle enquanto eu procurava conforto físico em outro lugar? O pensamento me deixou enjoada.
Quando a reunião recomeçou, eu estava observando Matthew do outro lado da sala. Notei como ele estava conversando com o Alfa Charles, pai de Isabelle. Eu podia ver claramente a tensão entre eles, como Matthew tentava agir educadamente, mas estava realmente irritado.
Uma tempestade estava se formando.
"Alfa Matthew."
A voz profunda de Charles nos parou no estacionamento após a reunião. Senti Matthew se tencionar ao meu lado. Eu podia sentir a tensão entre os dois Alfas.
"Não agora, Alfa Charles," Matthew avisou, sua mão possessivamente em minhas costas.
"Isto não pode esperar." O olhar de Charles se voltou para mim, o desprezo claro em seus olhos. "Você sabe que não pode mantê-lo, certo? Não quando minha filha é a companheira destinada dele."
As palavras me apunhalaram como facas. Seraphine rosnou, querendo avançar sobre o outro Alfa.
"Não traga minha esposa para isso," Matthew rosnou, dando um passo à frente de mim.
Charles riu, o som áspero. "Ela já está nisso. Você garantiu isso quando colocou suas mãos na minha filha na festa e depois a deixou lá."
"Nós não—"
"O quê? Transamos?" Charles cuspiu. "Isso deveria melhorar as coisas? Você estava todo sobre ela e depois simplesmente foi embora com ela." Ele apontou o queixo em minha direção.
Antes que Matthew pudesse responder, o punho de Charles conectou com seu queixo, o impacto ecoando no estacionamento vazio. Eu deveria estar horrorizada, mas meu coração sentiu uma satisfação retorcida. Era o que eu mesma queria fazer.
"Passei anos protegendo Isabelle," Charles continuou, sua voz tremendo de emoção. "Ela acabou de terminar seu mestrado. Ela tinha opções. Planos. E agora? Ela se torna uma das suas vadias?"
"Isso não é—"
"Cale a boca," Charles rosnou, "Deixe-me deixar isso bem claro para você. Você está levando Isabelle do meu bando porque não aguento assistir o que vem a seguir. Você vai marcá-la—propriamente—porque já arruinou qualquer chance que ela tinha de uma vida normal. E então vocês três podem resolver seu pequeno circo patético de arranjo." Seus lábios se curvaram em um sorriso cruel.
"Eu não posso rejeitar Juno," Matthew disse. "Ela significa muito para mim."
Charles riu, "E você não pode rejeitar Isabelle porque isso enfraqueceria seu lobo. Que conveniente para você." Ele se inclinou, "Eu sei exatamente como isso funciona. Ela também." Ele apontou o queixo em minha direção, nem se dando ao trabalho de usar meu nome. "Você quer jogar dos dois lados? Tudo bem. Mas lembre-se de quem colocou a corda no pescoço de todos vocês." Ele tocou o peito de Matthew com um dedo. "Esta cama? Você a fez, filho. Agora vocês três terão que deitar nela. Aproveitem os espinhos."