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Capítulo 9: Sem palavras

POV do Blake

A carruagem de carvalho entalhado com o brasão de Silverpeak corria pela noite, o luar refletindo em sua superfície polida. Tyler manejava as rédeas com facilidade, ocasionalmente olhando para mim pela pequena janela. Eu não tinha falado nada desde que saímos do Moonlight Lodge, minha mente a mil com o que tinha acabado de acontecer.

"Então," Tyler quebrou o silêncio, "vai me contar o que aconteceu ou vamos viajar em silêncio até voltarmos?"

"Ela disse ao Jackson que eu toquei na marca dela," respondi, com a voz baixa.

Tyler quase puxou as rédeas para parar. "Espera, o quê? Ela realmente contou a ele?"

Assenti, lembrando da cena no terraço. "Mais do que contou. Ela me usou como uma arma contra ele."

"Corajosa. Gosto do estilo dela," Tyler disse com um toque de admiração.

"É perigoso," contrapus sem humor. "Um lobo macho pode aceitar ser abandonado, mas não ser substituído. Especialmente quando o substituto é o futuro sogro."

A raiva de Jackson poderia colocar Ava em perigo. E se Sophia soubesse de algo sobre isso... a felicidade da minha filha era só mais uma complicação que eu não precisava.

"Sobre isso..." Tyler arriscou, "a marca dela realmente mudou, não mudou?"

Fiquei tenso. "Como você sabe?"

"Eu vi. Fios dourados, da mesma cor da sua marca de Alpha. Você sabe o que isso significa."

Virei para olhar pela janela, observando as árvores passarem rapidamente sob o luar.

"Não pode ser," murmurei.

"Os livros antigos mencionam alguns casos assim. Um lobo cuja marca começa a responder a alguém novo. Os anciãos chamam isso de 'Invocação da Marca.'"

Meus dedos tamborilavam na moldura da janela enquanto eu me lembrava daqueles textos empoeirados sobre lobisomens dos meus dias de treinamento. A Deusa da Lua tinha um senso de humor distorcido às vezes.

Fechei os olhos, e o rosto de Elizabeth apareceu na minha mente—seus últimos momentos depois que Lucas nasceu. Eu era jovem e esperançoso na época, segurando sua mão enquanto ela lutava para respirar.

"Prometa-me..." ela sussurrou, "que você encontrará felicidade novamente..."

Eu prometi criar nossos filhos e manter Silverpeak segura. Nunca pensei que encontraria alguém que fizesse meu coração disparar novamente.

"Não posso ir por esse caminho," sussurrei, mais para mim mesmo.

Um pombo cinza entrou pela janela, pousando no ombro de Tyler com um pequeno pergaminho amarrado à perna. Ele leu e soltou um suspiro.

"Wilson diz que Lucas jogou o equipamento de treinamento no lago de novo. Terceira vez este mês."

Esfreguei o rosto, o pai em mim empurrando o Alpha de lado por um momento. "Todo professor que eu encontro dura cerca de uma semana antes de desistir."

"Talvez o problema não sejam os professores," Tyler sugeriu. "Talvez seja o que você espera deles."

"O garoto se transformou parcialmente aos sete," disse secamente. "Esse tipo de poder aparecendo tão cedo é um problema esperando para acontecer. Ele precisa de alguém para ensiná-lo a controlar."

Eu me sentia orgulhoso do dom de Lucas, mas também com medo por ele. Se ele não conseguisse lidar com isso, poderia acabar como outros na família de Elizabeth.

"O sangue de lobo dele está despertando," continuei. "Sem controle, ele vai se transformar completamente antes de estar pronto para isso."

Tyler ficou quieto por um segundo. "O último garoto que mudou tão cedo foi o bisavô de Elizabeth. Não terminou bem para ele."

Cerrei o punho. "Isso não vai acontecer com meu filho."

"Você precisa de alguém especial," Tyler disse cuidadosamente. "Não apenas bom em lutar, mas alguém que entenda como é estar com raiva do mundo."

Uma ideia me atingiu como um raio.

"Tyler, preciso que você faça algo."

Ele levantou uma sobrancelha. "Por que de repente tenho um mau pressentimento sobre isso?"

"Encontre um novo professor para o Lucas."

"Tão rápido? Você já tem alguém em mente?"

Eu assenti, decidido. "Ava Rivers."

Tyler virou-se tão rápido que quase deixou as rédeas caírem. "Espera aí. Você acabou de dizer pra ela que 'acabou' e agora quer que ela ensine seu filho?"

"Sim," respondi simplesmente.

Algo no meu instinto me dizia que Ava era exatamente o que Lucas precisava.

Na noite seguinte, eu estava sentado à minha mesa na Mansão Blackwood, revisando documentos sobre o caso de William Rivers. A luz da lua entrava pelas janelas e se espalhava pelo tapete grosso. Meu chá estava frio e esquecido. O retrato de Elizabeth pendia na parede próxima, seu sorriso parecia observar tudo o que eu fazia.

Enquanto folheava os registros do incidente na fronteira, franzi a testa. "Essas declarações de testemunhas não batem..."

O relatório de localização de Hayes tinha buracos grandes o suficiente para passar um caminhão. Contradizia o que o grupo de caça do norte afirmava ter visto. Como Rei Alfa, eu deveria garantir que a justiça fosse feita, mas me intrometer nos assuntos de outra alcateia era pedir problemas.

Ouvi dizer que Ava tinha ido à Academia de Guerreiros mais cedo naquele dia para se candidatar à vaga de professora. Vendo a determinação dela na Moonlight Lodge na noite anterior, não fiquei surpreso que ela tivesse aproveitado a oportunidade tão rapidamente.

A porta rangeu ao abrir, e Lucas estava lá em seus pijamas, segurando Hunter perto.

"Papai? Ainda trabalhando?" ele perguntou, abafando um bocejo.

Coloquei os papéis de lado e acenei para ele se aproximar. "Vem cá, filho."

Lucas veio com Hunter logo atrás, os olhos do cachorro brilhando na escuridão. Puxei meu filho para o meu colo, sentindo a energia do lobo pulsando sob sua pele—forte demais, cedo demais.

"Isso é sobre o traidor?" Lucas perguntou, olhando para os papéis.

"Como você sabe disso?" perguntei, surpreso que um menino de sete anos percebesse isso.

Ele deu de ombros. "Ouvi o pessoal falando. Disseram que a filha dele veio hoje tentar ser minha professora."

"O que você acha disso?" perguntei, curioso para saber o que ele diria.

Lucas pensou seriamente. "Se Hunter gostar dela, eu vou gostar dela. Hunter sempre sabe quem são as pessoas boas e as ruins."

Eu ri, bagunçando seu cabelo. "Esse é um sistema bem bom, na verdade."

Depois que Lucas voltou para a cama, fiquei de pé junto à janela olhando para a lua. Meus dedos ainda sentiam o calor onde toquei a marca de Ava.

Decidi: investigaria o caso de William e deixaria Ava ensinar Lucas.

Voltei para a minha mesa e escrevi um contrato com tinta prateada que estabeleceria limites claros para nós dois.

Na manhã seguinte, caminhei pelos corredores de pedra da Mansão Blackwood a caminho da reunião da alcateia. Tyler estava esperando no pátio com o contrato na mão. A luz da manhã filtrava pelas árvores, formando padrões no chão.

Entreguei o pergaminho a Tyler. "Certifique-se de que ela saiba no que está se metendo. Se tiver dúvidas, acabou—oferta fora da mesa."

Tyler pegou, pensativo. "Ela é definitivamente a melhor lutadora que vi se candidatar."

Eu assenti. "Lucas precisa de mais do que alguém que sabe dar um soco. Ele precisa de alguém que saiba como é quando o mundo te derruba."

Tyler me olhou diretamente nos olhos. "Então... isso é porque ela é a melhor pessoa para o trabalho, ou porque você quer vê-la de novo?"

Parei e me virei para encará-lo. Ficamos nos olhando por um momento, nenhum de nós dizendo nada.

Eu não tinha uma resposta. Pelo menos não uma que eu estivesse pronto para dizer em voz alta.

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