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Capítulo 5

Ponto de Vista de Sybilla

Eu olhava meu reflexo no espelho da penteadeira, minhas mãos tremendo enquanto tentava aplicar rímel pela terceira vez. A pasta preta borrava sob minhas pálpebras inferiores, me fazendo parecer um guaxinim.

“Droga,” murmurei, pegando um lenço demaquilante para limpar.

Amanhã. Amanhã às 8 da manhã, eu estaria sentada em algum carro, sendo levada para começar minha nova vida—que tipo de vida? Concubina? Escrava sexual? Não importa qual nome corporativo polido o Grupo Lua de Prata desse, a realidade era a mesma.

Eu seria propriedade de alguém.

O pensamento torcia meu estômago em nós. Sempre imaginei meu futuro cheio de roupas de grife, galas de caridade e casando com algum empresário rico que me adorasse. Não sendo entregue a algum Alfa lobisomem como um pedaço de propriedade.

Meu celular vibrou no criado-mudo. O nome de Kieran apareceu na tela.

Quase não atendi. Depois do desastre de hoje, depois que Isolde descobriu sobre nós e tudo explodiu, eu não tinha certeza se queria lidar com ele agora. Mas a curiosidade falou mais alto.

“O que você quer?” atendi, sem me preocupar em esconder minha irritação.

“Oi, Sybilla.” A voz dele estava rouca, como se tivesse bebido. “Eu sei que hoje foi uma bagunça, mas... posso te ver?”

“Me ver? Kieran, caso você tenha esquecido, amanhã de manhã eu vou ser enviada para me tornar um brinquedo sexual. Não estou com humor para socializar.”

“É exatamente por isso que quero te ver,” ele disse, com uma nota de desespero na voz. “Essa pode ser nossa última chance.”

Franzi a testa, afundando na cama. “Última chance de quê?”

“De estarmos juntos. Realmente juntos. De...” A voz dele sumiu, mas eu sabia o que ele queria dizer.

“Você quer me comer na noite antes de eu ser enviada para algum maldito harém?” Eu ri, mas soou vazio. “Isso é tão errado, até mesmo para você.”

“Vamos lá, Sybilla. Estamos nisso há tanto tempo. Todas aquelas noites loucas, toda aquela paixão... você não quer sentir isso mais uma vez? Uma última vez?”

Fechei os olhos, minha mente a mil. A verdade é que Kieran e eu já tínhamos cruzado essa linha há muito tempo. Nosso caso foi alimentado pela paixão desde o início—essas noites roubadas quando ninguém suspeitava, nossos corpos já conhecendo cada centímetro um do outro. O prazer estava no segredo, na natureza proibida disso, mas mais do que isso, era um desejo bruto e primal.

“Não sei,” disse suavemente. “Parece errado. Amanhã eu vou—”

“Amanhã você pertencerá a outra pessoa,” ele me interrompeu. “Mas esta noite, você ainda é minha. Você ainda pode escolher.”

Ainda escolher. Essas palavras me atingiram mais forte do que eu esperava. Porque ele estava certo, não estava? Depois de amanhã, eu não teria mais escolha. Eu estaria à mercê de alguém que me comprou como um prêmio.

"Onde?" ouvi minha própria voz perguntar.

"Lá em casa. Minha colega de quarto está fora da cidade esta semana."

Mordi o lábio, olhando ao redor do meu quarto perfeitamente decorado. Depois de amanhã, eu nunca mais veria este quarto. Nunca mais dormiria na minha própria cama, nunca mais acordaria com a vista do jardim que minha mãe projetou.

"Sybilla? Você ainda está aí?"

"Sim," respondi finalmente. "Sim, estou aqui."

"E então?"

Pensei em Isolde, provavelmente fazendo as malas agora. Pensei na maneira como ela me olhou mais cedo, como se eu fosse algum tipo de monstro por dormir com o namorado dela. Mas ela nunca o quis, não é? Ela o manteve à distância por dois anos, nunca deixando que ele a tocasse.

Pelo menos eu fiz ele se sentir necessário.

"Tá bom," disse baixinho. "Mas é só isso, Kieran. Depois de hoje à noite, acabou."

"Claro. Eu só... Eu preciso te ver. Uma última vez."

Uma hora depois, eu estava em frente ao prédio de apartamentos de Kieran, meu coração batendo forte no peito. Eu usava um vestido preto simples e salto alto, sem querer parecer que estava me esforçando demais, mas também sem querer parecer que eu não me importava.

Porque apesar de tudo, apesar da bagunça que fizemos, eu me importava com ele. Talvez não fosse amor—não tinha certeza se era capaz de sentir essa emoção profunda—mas eu me importava.

Kieran abriu a porta imediatamente, como se estivesse esperando bem ali. Ele parecia acabado, cabelo bagunçado, olhos ligeiramente vidrados por causa do que quer que ele tenha bebido.

"Você veio," ele disse, alívio evidente na voz.

"Não me faça me arrepender," respondi, entrando.

O apartamento dele era como eu esperava—masculino, minimamente decorado, o tipo de lugar que um cara na casa dos vinte teria. Decente, mas nada impressionante.

"Bebida?" ele ofereceu, apontando para a cozinha.

"Claro."

Ele nos serviu um pouco de bebida, e nos sentamos no sofá, a tensão entre nós tão espessa que dava para cortar com uma faca. Eu podia sentir os olhos dele em mim, estudando meu rosto como se estivesse tentando memorizá-lo.

"Você está com medo?" ele perguntou de repente.

A pergunta me pegou desprevenida. "Do amanhã?"

Ele assentiu.

Tomei um gole da minha bebida, considerando minha resposta. "Com medo pra caramba," admiti. "Eu não sei o que eles vão esperar de mim. Não sei se sou boa o suficiente, ou bonita o suficiente, ou... suficiente em qualquer coisa."

"Você é perfeita," Kieran disse suavemente, estendendo a mão para colocar uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. "Qualquer homem teria sorte de ter você."

"Mesmo um Alfa que pode ter quem quiser?"

"Especialmente ele."

Os dedos dele permaneceram na minha bochecha, e eu senti aquele familiar frio na barriga. A mesma sensação que tive na primeira vez que ele me beijou, aquele desejo ardente começando a crescer dentro de mim.

"Sybilla," ele murmurou, se inclinando mais perto.

"Isso é uma loucura," sussurrei, mas não me afastei.

"Talvez. Mas tudo sobre hoje é uma loucura."

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