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Capítulo 4

POV da Isolde

Eu me virei e caminhei em direção à porta, deixando para trás a atmosfera sufocante do escritório do meu pai.

"Onde você vai?" meu pai chamou.

"Vou fazer as malas," respondi sem me virar.


De volta ao meu quarto, sentei na cama, olhando para a mala aberta à minha frente. O que você leva quando está sendo vendida para um harém de lobisomens? A pergunta era tão absurda que quase ri.

Algumas trocas de roupa? Meus livros? As joias da minha mãe que eu consegui esconder dos credores do meu pai? Tudo o que eu possuía cabia em duas malas, o que era patético para alguém que já teve tudo.

Uma batida suave na porta interrompeu meus pensamentos. Kieran estava na entrada, com o rosto marcado pelo arrependimento.

"Podemos conversar?" ele perguntou.

"Não há nada para dizer," respondi friamente, sem levantar os olhos enquanto dobrava um suéter.

Ele entrou de qualquer maneira, fechando a porta atrás de si. "Isolde, sinto muito. Nunca quis que as coisas acontecessem desse jeito."

"Qual parte? Dormir com minha irmã ou ser pego?"

Ele estremeceu. "Eu mereço isso. Mas você tem que entender—"

"Eu não tenho que entender nada," interrompi, enfiando o suéter na mala com mais força do que o necessário. "Você fez sua escolha."

"Isso não é justo," ele protestou. "Essa situação com a Silver Moon não tem nada a ver comigo e Sybilla."

Eu soltei uma risada. "Não tem? Você viveu uma vida dupla por seis meses enquanto eu trabalhava até a exaustão para nos manter."

Kieran passou a mão pelo cabelo, e eu podia ver sua frustração crescendo. "Talvez se você tivesse sido mais... disponível, as coisas teriam sido diferentes."

Eu congelei, minhas mãos parando sobre as roupas. "Com licença?"

"Vamos lá, Isolde. Estamos juntos há dois anos, e você nunca me deixou te tocar. Realmente te tocar." Sua voz estava ficando mais agitada. "Que tipo de relacionamento é esse?"

A audácia desse homem. "Então isso é minha culpa? Porque eu não quis dormir com você?"

"Isso não é normal!" ele explodiu. "Dois anos, Isolde. Dois malditos anos, e você nunca me deixou passar da segunda base. Você sabe o quão frustrante isso é?"

Eu me levantei lentamente, sentindo Lyra se agitar furiosamente na minha mente. "Então você decidiu transar com minha irmã?"

"Sybilla não tem as mesmas neuras que você," ele disse cruelmente. "Ela realmente quer estar comigo. Ela não me afasta toda vez que tento me aproximar."

"Saia," eu disse calmamente.

"E agora você está agindo como a vítima aqui, quando você é quem não conseguia nem—"

"SAIA!" eu rugi.

O rosto de Kieran ficou pálido. "Jesus, Isolde—"

"Não ouse me culpar pela sua traição," eu rosnei. "Não ouse fazer disso uma questão das minhas escolhas quando você é quem me traiu."

"Eu só estou dizendo, talvez se você não fosse tão fria—"

Eu me movi mais rápido do que a velocidade humana, agarrando-o pela camisa e o empurrando contra a porta. "Termine essa frase. Eu te desafio."

Ele parecia genuinamente assustado agora. "Desculpa, eu não quis—"

"Sim, você quis." Eu o soltei e dei um passo para trás. "Agora saia do meu quarto antes que eu mostre exatamente o quão 'fria' eu posso ser."

Ele correu para a maçaneta da porta. "Isolde, eu realmente sinto muito por tudo—"

"Guarde isso para alguém que se importe."

Depois que ele saiu, bati a porta e a tranquei.

Eu nunca tinha deixado ele me tocar. Não de verdade. Toda vez que ele tentava levar as coisas adiante, algo dentro de mim se retraía. Não era apenas nervosismo ou querer esperar—era como se meu corpo simplesmente não respondesse a ele. A ninguém.

Eu sempre disse a mim mesma que estava sendo responsável, que queria esperar pelo momento certo, pelos sentimentos certos. Mas a verdade era que eu nunca senti nada. Não do jeito que as outras garotas descreviam. Não o desejo sufocante, a necessidade dolorosa. Nada.

Talvez haja algo de errado comigo, pensei, olhando meu reflexo no espelho.

Que se dane. Que se dane tudo isso.

Peguei minha jaqueta de couro e fui em direção à porta. Se essa fosse minha última noite de liberdade, eu não ia passá-la me afogando em autopiedade.


O bar no centro era exatamente o que eu precisava—escuro, barulhento e cheio de pessoas que não conheciam ou se importavam com meus problemas. Pedi um uísque e continuei pedindo, deixando a queimação lavar o gosto de traição e medo.

"Noite difícil?"

Olhei para cima e vi um cara da minha idade deslizando para o banco ao meu lado. Cabelos escuros, sorriso bonito, do tipo convencionalmente atraente que faria minhas amigas suspirarem.

"Pode-se dizer que sim," respondi, tomando outro gole.

"Sou Jake," ele disse, estendendo a mão.

"Isolde." Apertei a mão dele.

"Esse é um nome bonito," ele disse, e eu podia ouvir o charme ensaiado na voz dele. Normalmente isso me irritaria, mas naquela noite achei estranhamente reconfortante.

"Obrigada. Significa 'batalha de gelo' em alemão antigo."

"Combina," ele sorriu. "Você parece que poderia congelar um homem com um olhar."

Apesar de tudo, eu ri. "Talvez eu possa."

Conversamos por mais uma hora, o álcool fazendo tudo parecer mais suave nas bordas. Jake era engraçado, flertador e claramente interessado. Quando ele sugeriu que fôssemos para o apartamento dele, me surpreendi ao dizer sim.

O que você está fazendo? Lyra perguntou.

Algo para mim, pela primeira vez, respondi.

O apartamento de Jake era bem legal—limpo, moderno, do tipo que um jovem profissional teria. Ele nos serviu mais bebidas, e quando me beijou, eu retribuí o beijo.

Foi... bom. Agradável, até. Suas mãos eram quentes enquanto deslizavam sob minha camisa, e senti meu corpo respondendo de maneiras que nunca havia respondido com Kieran.

Talvez isso seja o que eu precisava, pensei enquanto ele me levava para o quarto. Talvez eu só precisasse de alguém diferente.

Mas quando suas mãos se moveram para desabotoar meu jeans, algo dentro de mim recuou. Algo fundamental.

"Espera," eu disse, segurando suas mãos.

"O que foi?" ele perguntou, respirando pesadamente.

Olhei para ele—esse estranho cujo sobrenome eu nem sabia—e senti uma onda de repulsa me invadir.

"Eu não posso fazer isso," eu disse, me afastando e arrumando minhas roupas.

"Eu fiz algo errado?" Ele parecia confuso e frustrado.

"Não, sou eu. Desculpe, achei que poderia, mas..." Peguei minha jaqueta e fui em direção à porta.

"Isolde, espera—"

Mas eu já estava indo embora, praticamente correndo pela rua até encontrar um táxi.

Enquanto as luzes da cidade passavam borradas pela janela, finalmente entendi algo que me incomodava há anos. Não era que eu fosse fria ou quebrada. Não era que eu tivesse medo de intimidade.

Era que eu estava esperando por algo. Alguém. Alguma conexão que eu nunca senti com ninguém, nem de longe.

Talvez não exista, pensei tristemente. Talvez simplesmente não haja ninguém neste planeta que consiga me excitar ou algo assim...

Quando cheguei em casa, a casa estava escura e silenciosa.

O pior de tudo, tudo mudaria amanhã.

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