




Capítulo 3
POV de Isolde
Todos os olhos no escritório do meu pai queimavam em mim como brasas. O olhar da minha madrasta era venenoso, seu rosto retorcido de raiva, enquanto os olhos verdes pálidos de Sybilla se estreitavam, irradiando puro ódio.
Beta Nathaniel quebrou o silêncio. "Dadas as circunstâncias, não vejo razão para adiar. Vocês duas vão se juntar ao Programa da Aliança da Lua com efeito imediato."
"Agora?" Sybilla guinchou, sua fachada cuidadosamente construída desmoronando. "Mas—eu preciso de tempo para arrumar minhas coisas, para me despedir de—"
"Vocês terão tudo o que precisam," Nathaniel a cortou. "O Grupo Lua Prateada se orgulha de... acomodar seus convidados especiais."
A maneira como ele disse "convidados especiais" me deu um arrepio na espinha. Não éramos convidados. Éramos colaterais de uma dívida—moeda humana em uma transação entre lobisomens poderosos.
Meu pai se levantou da cadeira, um olhar desesperado nos olhos. "Talvez possamos discutir isso em particular, Beta Nathaniel. Tenho certeza de que podemos resolver algo—"
"Não há nada para discutir," Nathaniel interrompeu. "Os termos do nosso Alfa são finais. Ambas as filhas em troca do perdão da dívida."
"Pelo menos permita que elas tenham um dia para se preparar," meu pai implorou. "Apenas vinte e quatro horas."
Nathaniel consultou seu telefone brevemente, depois assentiu. "Vocês têm até amanhã de manhã. Um carro chegará às 9 horas em ponto. Estejam prontas." Seus olhos frios varreram sobre mim e Sybilla. "Arrumem pouca coisa. Como eu disse, tudo será fornecido."
Com isso, ele saiu do escritório, deixando para trás um vácuo de silêncio chocado.
No momento em que a porta da frente se fechou, minha madrasta explodiu. "Isso é sua culpa!" ela gritou para mim, seu dedo perfeitamente manicurado apontando o ar a centímetros do meu rosto. "Se você não tivesse aberto sua grande boca sobre Kieran, Sybilla não estaria nessa situação!"
"Minha culpa?" Eu ri, o som oco e amargo. "Você foi a que me ofereceu para esse 'programa' antes mesmo de saber o que era!"
"Eu estava protegendo nossa família!" ela gritou. "Os negócios do seu pai, nossa casa—tudo pelo que trabalhamos!"
"Me vendendo? Que maternal da sua parte," eu cuspi.
"Você ingrata—"
"Chega!" A voz do meu pai estalou como um chicote. "O que está feito está feito. A decisão foi tomada."
Eu me virei para ele, buscando em seu rosto algum sinal do pai que uma vez me ensinou a andar de bicicleta, que torceu nos meus torneios de artes marciais. "E você vai simplesmente deixar isso acontecer? Deixar que levem suas filhas para se tornarem... o quê exatamente? O que é esse Programa da Aliança da Lua?"
Um silêncio pesado seguiu minha pergunta. Meu pai e madrasta trocaram olhares carregados.
"É um programa de recrutamento de elite," meu pai finalmente disse, sem encontrar meus olhos. "O Grupo Lua Prateada seleciona jovens lobisomens promissores para... posições especiais dentro da organização."
"Que tipo de posições?" Eu pressionei.
Outro silêncio desconfortável.
"É uma honra," minha madrasta interveio, sua voz de repente frágil. "Muitas garotas matariam por essa oportunidade."
"Então por que você não parece feliz com Sybilla indo?" Eu desafiei.
Quando ninguém respondeu, Kieran—que permaneceu em silêncio durante toda a troca—limpou a garganta. "É um harém," ele disse baixinho. "O Programa da Aliança da Lua é a maneira do Grupo Lua Prateada de dizer 'harém de lobisomens.' Eles estão recrutando potenciais parceiras para seus principais executivos. Particularmente para o Alfa."
A palavra pairou no ar como um gás nocivo. Harém. Uma tradição ultrapassada e bárbara dos antigos dias dos lobisomens, reembalada com um nome corporativo elegante.
"Isso é verdade?" Eu perguntei ao meu pai, minha voz mal um sussurro.
Ele não conseguiu me olhar. "É mais complexo do que isso. Existem oportunidades—"
"Escravas sexuais?" Sybilla gritou, de repente encontrando sua voz. "Papai, você não pode deixar isso acontecer! Não comigo!"
Ela se jogou em nosso pai, agarrando seu braço. "Por favor, papai! Eu não posso ir lá! Eu sou sua menina! Sua princesa!"
O "não eu" estava implícito. Eu, ela não se importava. Mas ela mesma? Impensável.
Meu pai acariciou sua cabeça, desajeitadamente. "Querida, eu... eu vou dar um jeito. Eu prometo."
Eu observei essa cena com um estranho distanciamento. Claro que ele tentaria salvar Sybilla. Ele sempre fazia isso. Mas eu? Eu estava por conta própria, como sempre.
Não precisamos dele, Lyra rosnou. Nunca precisamos de nenhum deles.
Eu me virei e caminhei em direção à porta.
"Onde você vai?" meu pai chamou atrás de mim.
"Fazer as malas," respondi sem me virar. "Aparentemente, tenho um novo emprego no Grupo Lua Prateada."
De volta ao meu quarto, sentei na minha cama, olhando para a mala aberta à minha frente. O que você leva quando está sendo vendida para um harém de lobisomens? A pergunta era tão absurda que quase ri.
Uma batida suave na porta interrompeu meus pensamentos. Kieran estava parado na entrada, seu rosto uma máscara de arrependimento.
"Podemos conversar?" ele perguntou.
"Não há nada para dizer," respondi friamente.
Ele entrou mesmo assim, fechando a porta atrás de si. "Isolde, sinto muito. Nunca quis que as coisas acontecessem assim."
"Qual parte? Dormir com minha irmã ou ser pego?"
Ele fez uma careta. "Eu mereço isso. Mas você tem que entender—"
"Eu não tenho que entender nada," interrompi. "Você fez sua escolha. Agora eu estou pagando por isso."
"Isso não é justo," ele protestou. "Essa situação com o Grupo Lua Prateada—não tem nada a ver comigo e Sybilla."
Eu soltei uma risada. "Não tem? Se Sybilla não tivesse mentido sobre você ser o companheiro dela, talvez eu fosse a única a ir. Mas ela não conseguiu se controlar—tinha que te arrastar para a mentira dela. E agora estamos ambos sendo enviados para algum harém corporativo de lobisomens."
Kieran passou a mão pelo cabelo. "Escuta, eu conheço pessoas no Grupo Lua Prateada. Não é tão ruim quanto parece. As garotas lá são bem tratadas. Algumas até encontram companheiros de verdade entre os executivos."
"Isso deveria me fazer sentir melhor?" perguntei incrédula.
"Estou só dizendo... faça o melhor disso. O Grupo Lua Prateada é poderoso. Ser escolhida para o programa deles é... na verdade, é uma honra."
Eu o olhei, vendo-o claramente pela primeira vez. "Saia."
"Isolde—"
"Saia." Deixei um leve rosnado entrar na minha voz, meus olhos brilhando brevemente em amarelo. "Antes que eu te jogue para fora."
Ele recuou em direção à porta. "Eu realmente sinto muito, Isolde. Espero que um dia você—"
"Não prenda a respiração," disse, virando-me para longe dele.
Depois que ele saiu, recomecei a fazer as malas. No meu quarto, finalmente desmoronei. Soluços sacudiam meu corpo enquanto eu agarrava meu travesseiro. Eu não sabia por que as pessoas que eu amava sempre me traíam. Primeiro meu pai, depois meus amigos, agora Kieran.
Meu olhar caiu sobre uma fotografia — eu como uma menina entre meus pais. O sorriso da mamãe era genuíno, o braço do papai ao meu redor com orgulho. Isso foi antes de tudo mudar. Antes de Sybilla e sua mãe chegarem.
Tracei o rosto da minha mãe. "Sinto tanto a sua falta, mamãe," sussurrei.
Será que algum dia a encontraria? As perguntas que me assombravam por anos ressurgiram com nova urgência agora que eu estava indo embora.
O pensamento do Programa da Aliança da Lua fazia meu estômago revirar. Eu perderia minha liberdade para sempre?
Estranhamente, deixar a mansão do meu pai não era totalmente indesejável. Este lugar não parecia um lar há anos. Não desde que papai mudou depois que Sybilla e sua mãe entraram em nossas vidas.
Suspirei profundamente, imaginando o que nos aguardava.