Volume 2 - Capítulo 4
Obviamente, eu tinha que passar pela cabine do meu chefe. No caminho, eu dei uma espiada. Vi ele fazendo algo no laptop. Suspirei aliviada, pois ele não me viu. Não sei por que, mas me sentia muito desconfortável na frente desse homem. Não, eu não estava com medo. Por que estaria? Ele não pode me engolir e, mesmo se pudesse, eu me envenenaria para que, quando eu morresse, ele morresse também.
Coloquei minha bolsa na mesa de forma sistemática e abri o arquivo que definia as cláusulas do meu contrato. Li cada uma, uma por uma. Elas estavam escritas em uma linguagem precisa, porém simples, e eram altamente técnicas.
Cláusula Nº 1 - Uma vez admitido, o contratado não tem escolha senão servir à empresa por 6 meses completos. O poder de demissão só seria acessível após 6 meses de serviço à empresa ou a critério do empregador. Se o empregado desejar não continuar antes do período estipulado de 6 meses, ele/ela seria obrigado(a) a pagar uma soma não menor que 3x seu salário mensal para ter o contrato rescindido.
Cláusula Nº 2 - O contratado deve estar presente sempre que a empresa precisar dele/dela. Ele/Ela não pode apresentar desculpas de última hora. Se a condição for tão crítica quanto doença ou luto, o contratado teria o poder de descansar, mas os documentos comprobatórios precisariam ser submetidos assim que a normalidade operacional fosse retomada. A empresa pode exigir o contratado a qualquer momento, ele/ela deve obedecer e concordar com as exigências da empresa.
Cláusula Nº 3 – Ele/Ela deve colocar os interesses da empresa acima dos interesses individuais.
Cláusula Nº 4 - Emendas em qualquer cláusula ou a quebra dela seriam sujeitas a penalidade.
Li então todas as 20 cláusulas, uma por uma. Fechei o arquivo com força e exclamei: "Besteira, tudo besteira".
Eu tinha um pequeno plano de fazer esse trabalho, ficar financeiramente estável e começar algo em pequena escala por conta própria. Eu poderia ao menos suportar o Sr. Reynolds por 6 meses, era isso que eu sentia.
Peguei o papel e assinei na coluna "ASSINATURA DO CONTRATADO". Virei as páginas uma por uma e assinei cada uma delas. Depois disso, verifiquei novamente para garantir que não tinha deixado nenhuma página de fora.
Peguei os papéis do contrato e fui ao escritório do Sr. Reynolds para entregá-los. Primeiro, ajeitei minha camiseta e cuidadosamente coloquei todas as pequenas mechas de cabelo atrás das orelhas para parecer apresentável.
Bati na porta apenas uma vez. Após um momento, ouvi a voz baixa: "Entre".
Abri a porta e caminhei cuidadosamente sobre o piso de mármore, pois sabia que era desajeitada. Sempre andava na rua como se estivesse bêbada há dias, apoiando-me na Gina ou no Francis. O mínimo que eu queria era fazer papel de boba.
"Aqui estão os papéis do contrato, li cada cláusula e tentarei ao máximo fazer jus a elas", quebrei o silêncio.
"A questão da injustiça não se aplica, pois você tem uma penalidade imposta sempre que há uma violação do contrato", o Sr. Reynolds passou a mão pelo cabelo loiro escuro, que tinha um tom de castanho.
Aproximei-me dele para entregar os papéis do contrato. Eu podia sentir o perfume incrível que ele estava usando. Cada passo mais perto era como me render a um vampiro que poderia morder meu pescoço a qualquer momento e me fazer sua escrava.
Eu estava prestes a entregar os papéis em sua mão para que ele pudesse verificar quando, de repente, minha perna escorregou por causa do piso extra escorregadio. Não pude evitar e caí nos braços gigantescos do gigante. Meu rosto colidiu com seu peito, eu podia ouvir seu coração batendo em ritmo normal, criando uma melodia nos meus ouvidos. Tentei aliviar a situação evitando contato visual com ele.
Então, usei as mãos para apoiar-me em seus ombros e me afastar, mas acho que o destino tinha um plano diferente, um plano no qual eu poderia ser assassinada porque meu cabelo estava entrelaçado no botão da camisa dele. Tentei soltar com meu sexto sentido, já que não tinha uma visão clara da situação.
Tudo o que eu conseguia ver era sua camisa preta e, estreitando os olhos, consegui vislumbrar também seu casaco por cima. Movendo-me mesmo um centímetro para longe de seu peito me doía demais. Eu não podia realmente sacrificar todo o meu cabelo por causa da raiva do senhor Ricaço. Ricaço? Sim, Ricaço.
"Deixe-me pegar uma tesoura", ele finalmente falou, interrompendo o silêncio.
"Tesoura? De jeito nenhum! Você não pode cortar meu cabelo. Não há nada sobre cortar o cabelo do contratante na cláusula. Eu li duas vezes e tenho certeza disso", eu me sentia tão impotente.
Ele manteve um aperto firme em mim pelas costas. Eu me recusei a me mover, mas ele me empurrou de qualquer forma. Ele não se importava nem um pouco que suas ações estavam me machucando. Ele começou a andar para trás e eu tive que, obviamente, me mover em sincronia com ele.
Então, ele abriu a gaveta e tirou uma grande e feia tesoura.
"Por favor, não faça isso, senhor! Eu sinto muito por tudo. Eu sinto muito por ter te criticado, por ter feito uma reclamação contra você. Eu sinto muito por hoje e por amanhã.
Sem dúvida, eu estava amaldiçoando o senhor Ricaço por dentro com todas as palavras ruins e abusivas que já aprendi ou ouvi desde o jardim de infância.
Ele segurou a tesoura firmemente com a mão direita e a aproximou de mim. Meus olhos começaram a lacrimejar, pois eu já havia abandonado a opção de deixar a empresa, já que concordei com o contrato.
E de repente ouvi um "tuck". Um "tuck" é um tipo de ruído que ocorre quando você trabalha com uma tesoura. Eu sabia que ele havia invadido com sucesso a missão de cortar a parte do meio do meu cabelo, me transformando em uma santa.
Eu me recusei a olhar para meu cabelo, que provavelmente estava no chão agora. Meus olhos estavam fechados e eu estava chorando continuamente. Então, com toda minha força de vontade, abri os olhos e olhei bem para baixo. Não havia cabelo, nem mesmo um fio.
O senhor Ricaço tinha um botão na mão, que ele jogou na lixeira. Eu agora entendia toda a situação irônica. Ele não cortou meu cabelo, mas sim o botão dele.
Nessa situação, mal ouvi sua voz. Acho que o monstro fala pouco. Muito pouco.
"Obrigado por não me transformar em uma santa", eu enxuguei minhas lágrimas com as mãos.
Coloquei o arquivo do contrato cuidadosamente na mesa. Eu odiava minha desorganização mais do que qualquer coisa neste mundo. Eu não conseguia fazer contato visual com o senhor Ricaço porque, obviamente, estava envergonhada.
"Estou extremamente arrependida", pedi desculpas sem esperar uma resposta.
"Hoje nossa empresa completa 25 anos. Há uma grande cerimônia no salão de festas lá embaixo. Você receberá um e-mail com a lista de convidados que devem ser convidados. O convite deve ser muito impecável e simples. Certifique-se de que eles venham, pois todos são benéficos para nossa empresa de alguma forma", ele me explicou meu trabalho para hoje.
"Vista-se decentemente e esteja na hora. A função começa às 21h em ponto. Esteja presente aqui até 20h30", ele continuou.
"Ok, senhor. Eu não vou te desapontar."
"Você pode ir agora, Srta. Waters."
Saí da cabine e ainda estava envergonhada. Minha mente não conseguia deixar de reproduzir toda a situação repetidamente.
Fui para minha cabine e verifiquei meus e-mails primeiro. De repente, apareceu uma notificação de "nova mensagem de e-mail", eu atualizei a página e verifiquei a lista de convidados. Havia cerca de 500 deles.
Antes de começar meu trabalho, verifiquei meu telefone e vi 112 mensagens não lidas no grupo (FAG). Li uma por uma. Eles estavam discutindo continuamente a festa de recepção de hoje à noite.
Ah, droga, eu totalmente esqueci que tinha uma festa de recepção hoje à noite também, que começará às 19h e continuará a noite toda. Como eu não pensei nisso quando o senhor Ricaço estava me explicando sobre a função. Eu havia dado minha palavra de estar presente às 20h30 em ponto para o senhor Ricaço e também prometi à Gina.
Eu estava em um dilema. Eu tinha que cancelar um plano. Mas talvez eu pudesse organizar meu tempo, estabelecer um limite e participar de ambos os eventos. Mas, eu estava com medo das consequências.
"NÃO, não, não Ammie querida. Seja positiva, mantenha-se positiva e pense positivo." Eu me consolei.