




Capítulo 2 Eu quero morrer
POV da Rachel
Mal consegui voltar para o meu quarto antes que passos ecoassem no corredor.
Meu coração disparou enquanto eu me enfiava debaixo das cobertas, fingindo estar dormindo. A porta se abriu com um clique suave.
"Ela ainda está inconsciente," disse uma voz profunda que eu não reconheci. "Quanto tempo mais?"
"O sedativo deve passar em breve," respondeu um dos médicos que eu tinha ouvido. "O Alpha Blackwood quer vê-la assim que ela acordar."
Alpha Blackwood. O nome fez arrepios correrem pela minha espinha.
Depois que eles saíram, eu esperei o que pareceram horas, minha mente girando com fragmentos da conversa deles. Tratamentos hormonais, injeções, as expectativas do Alpha—cada palavra ecoava nos meus pensamentos como uma sentença de morte.
Será que eu não era nada mais do que um rato de laboratório para eles? O pensamento me gelou por dentro, e eu sabia que não podia simplesmente ficar aqui esperando pelo meu destino.
Eu não podia ficar aqui!
O quarto estava quieto, e a luz pálida da lua filtrava pelas cortinas elegantes. Essa era minha chance—talvez a única.
Movendo-me o mais silenciosamente possível, eu saí da cama e fui até a janela. Meus dedos lutaram com a tranca, e meu coração quase parou quando ela fez um clique suave. Mas ninguém veio correndo.
A janela dava para uma varanda no segundo andar. Não era o ideal, mas havia uma árvore perto o suficiente para que eu pudesse alcançá-la.
Você consegue, Rachel. Você precisa.
Subi no parapeito da janela, o ar fresco da noite batendo na minha pele através da fina camisola do hospital. O galho parecia forte o suficiente, mas o espaço entre a varanda e a árvore parecia se alargar na escuridão.
Respirando fundo, eu pulei.
Meus dedos mal agarraram o galho, a casca arranhando minhas palmas enquanto eu lutava por uma melhor aderência. A textura áspera mordia minha pele, mas eu segurei firme, balançando-me mais perto do tronco.
Galho por galho, eu desci, cada músculo do meu corpo gritando pelo esforço. Quando finalmente caí no chão, minhas pernas quase cederam sob mim.
Mas eu estava livre!
A propriedade se estendia diante de mim como algo saído de um conto de fadas—jardins perfeitamente cuidados, caminhos de pedra, e ao longe, o que parecia ser um portão. Se eu conseguisse chegar ao portão...
Corri pelo gramado, meus pés descalços silenciosos na grama úmida de orvalho.
O portão se erguia à frente, alto e imponente com trabalho de ferro ornamentado. Mas conforme me aproximei, meu coração afundou. Estava trancado, e as paredes de cada lado se estendiam altas acima da minha cabeça, encimadas com o que parecia ser arame de segurança.
"Merda," sussurrei, olhando freneticamente ao redor. Tinha que haver outra saída.
Foi então que eu os ouvi—vozes, chamando à distância. Feixes de luz de lanterna cortavam a escuridão, varrendo os terrenos.
Eles descobriram que eu tinha fugido!!!
O pânico inundou meu sistema enquanto eu corria ao longo da parede, procurando desesperadamente por uma fraqueza, um buraco, qualquer coisa.
As vozes estavam se aproximando.
"Espalhem-se! Verifiquem os jardins!"
"Ela não pode ter ido longe!"
Eu me pressionei contra a parede até que a pedra áspera mordesse minhas costas, desejando desaparecer enquanto as lanternas cortavam a escuridão.
Cada feixe de luz parecia o olhar de um predador, caçando, procurando... se aproximando.
Então um feixe de luz me encontrou.
"Lá! Perto da parede leste!"
Eu corri então, abandonando qualquer esperança de furtividade. Meus pés batiam contra o caminho de pedra enquanto passos pesados trovejavam atrás de mim.
Por favor, por favor, por favor...
Mas não havia para onde ir. O jardim era um labirinto, mas ainda era uma jaula. Cada caminho que eu tomava levava a outro beco sem saída, outra parede, outra barreira entre mim e a liberdade.
Mãos fortes agarraram meus braços, me levantando do chão apesar das minhas lutas.
"Me soltem!" eu gritei, chutando e arranhando meus captores. "Por favor, eu só quero ir para casa!"
"Calma aí, pequena," disse uma voz áspera. "Ninguém vai te machucar."
Mas eles estavam mentindo. Eu sabia que estavam mentindo. Eles iam me levar de volta, e então...
"Eu não vou fazer isso!" eu soluçava, ainda lutando mesmo sabendo que era inútil. "Eu não vou ser seu rato de laboratório!"
O homem que me carregava—um guarda, pelo uniforme—trocou um olhar com seu parceiro. "O doutor vai querer sedá-la de novo."
"Não!" A palavra saiu rasgando da minha garganta. "Por favor, sem mais drogas, eu vou ser boazinha, eu—"
Mas mesmo enquanto eu implorava, senti a picada aguda de uma agulha no meu braço. O mundo começou a ficar embaçado nas bordas, minhas lutas se tornando mais fracas e descoordenadas.
"Shh," alguém disse, embora a voz parecesse vir de muito longe. "Apenas durma agora."
A escuridão veio me reivindicar, e eu caí nela como uma pedra.
Eu tinha dezesseis anos novamente, de pé na cozinha da nossa antiga casa.
"Olha o que você fez agora, sua idiota desajeitada," Isabel repreendeu. "Você é estúpida, inútil. Não é à toa que seu pai não suporta te ver—eu estou surpresa que ele ainda não te jogou na rua, onde você pertence."
Eu estava no chão, cabelo ruivo espalhado ao meu redor como sangue, a marca da mão da minha madrasta queimando na minha bochecha.
Os pratos que eu estava lavando estavam quebrados ao meu redor—punição por ter deixado cair um único prato.
"Por favor," eu sussurrei, sentindo o gosto de sal e vergonha. "Desculpe, eu não queria—"
"Você sempre consegue estragar tudo," Daniel zombou da porta. "Deus, você é patética. Não consegue nem lavar pratos sem fazer uma bagunça." Ele tinha dezoito anos, todo músculo e sorrisos cruéis.
A cena mudou, borrada nas bordas como aquarelas na chuva.
Agora eu estava no meu quarto, a fechadura que Daniel havia quebrado meses atrás ainda pendurada inutilmente na porta. Seu peso me prendia ao colchão, sua mão tapando minha boca para abafar meus gritos.
"Cala a boca," ele sibilou no meu ouvido, seu hálito quente e repulsivo. "Você sabe que quer isso, sua provocadora. Pare de fingir que é inocente—nós dois sabemos o que você realmente é."
"Não, por favor—eu não quero isso! Eu não sou—" eu ofeguei, lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
"Sim, você é," Daniel rosnou, apertando mais forte. "Você está pedindo por isso, andando por aí como se fosse dona do lugar. Você não é nada além de uma vadia suja que está implorando por isso."
Eu lutei mais, minha voz quebrando. "Eu não sou! Por favor, pare, Daniel, por favor—"
"Pare de mentir para si mesma," ele rosnou no meu ouvido. "Isso é exatamente o que vadias como você merecem."
Eu lutei, arranhei seu rosto, mas ele era mais forte. Muito mais forte.
Outra mudança, outra memória.
Meu pai estava de pé sobre mim, cinto na mão, seu rosto distorcido de raiva, tristeza e álcool. "Você parece exatamente com ela," ele cuspiu. "Exatamente como Marie. Por que você ainda não morreu?"
O cinto desceu novamente e novamente, cada golpe acompanhado por palavras que cortavam mais fundo do que o couro jamais poderia.
"Inútil."
Golpe.
"Fardo."
Golpe.
"Deveria ter te afogado quando você nasceu."
Eu tentei me encolher em uma bola, tentei me proteger, mas não havia onde se esconder de sua fúria. Não havia onde fugir da dor.
"Desculpe," eu engasguei, minha voz quebrando enquanto soluços sacudiam meu corpo, lágrimas formando poças no chão frio abaixo de mim. "Desculpe, desculpe, desculpe..." eu repetia desesperadamente, cada palavra um pedido fragmentado, meu coração desmoronando sob o peso do desespero.
Acordei com mãos gentis verificando meu pulso e o suave murmúrio de vozes preocupadas.
O quarto foi ganhando foco lentamente—mesmas paredes creme, mesmos móveis elegantes.
Mas agora havia uma mulher com olhos gentis inclinada sobre mim, um estetoscópio ao redor do pescoço.
"Finalmente acordou. Teve um pesadelo?" ela disse suavemente, limpando meu rosto com cuidado. "Eu sou a Dra. Emma Carter. Você nos deixou preocupados por um tempo."
Eu tentei me sentar, mas ela colocou uma mão gentil no meu ombro. "Calma. O sedativo pode te deixar desorientada."
Olhei para baixo e vi vários lenços molhados já na lixeira.
As memórias dos meus sonhos—meus pesadelos—vieram sobre mim em ondas. As mãos de Daniel no meu corpo. As palavras cruéis de Isabel. O cinto do meu pai.
E por baixo de tudo, o peso esmagador de saber que essa era minha realidade agora: presa, usada, descartada.
Assim como antes.
Só que desta vez, não haveria escape. Nenhuma esperança de que as coisas melhorassem.
Minha tentativa de fuga fracassada provou isso. Eles me tinham trancada, e logo começariam seus tratamentos, suas injeções, seu processo de me transformar em nada mais do que um receptáculo.
"Eu quero morrer," eu sussurrei para o teto, lágrimas deslizando silenciosamente pelas minhas bochechas.
O rosto da Dra. Carter se desfez em simpatia, mas ela não tentou oferecer conforto vazio.
Que conforto poderia haver, afinal?