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Capítulo 3

ARIA

"Empurra, Aria. Vamos, eu sei que você tem mais energia aí." Meu irmão adotivo Lucas gritou com aquele tom de sargento que ele sempre usava durante os treinos.

Determinada a provar que ele estava certo, bati no saco de pancadas com mais força, lançando uma série complicada de chutes e golpes. Quando olhei para trás, peguei o leve aceno de aprovação dele.

"Bem melhor. Descanse cinco minutos." Caminhei até onde estavam os outros jovens guerreiros em treinamento e desabei ao lado deles.

Sexta-feira significava dia de testes com Lucas. Hoje estamos fazendo demonstrações de força, mas às vezes é sparring. Meu irmão adotivo é um ótimo professor—ele foi treinado pelo Gabriel, assim como eu.

Papai Gabriel é um dos melhores lutadores da nossa matilha. Ele acredita que todos—lobo ou humano—precisam se defender neste mundo perigoso. Eu recebo o treinamento dele desde pequena, antes de entrar no programa formal.

Muitos acham que Gabriel deveria ter se tornado o Guerreiro Chefe, mas o Alfa escolheu o amigo dele. Papai nunca reclamou, no entanto. Depois que caçadores mataram meus pais biológicos, Gabriel me resgatou apesar de eu ser humana.

O Alfa Warren apareceu hoje para nos observar treinar. Ultimamente, ele me deixa super desconfortável—sempre me encarando e piscando sugestivamente.

Os rumores da matilha dizem que ele ficou instável desde que perdeu a companheira. Dizem que ele chama jovens fêmeas para seus aposentos, e algumas não sobrevivem. Muitos acham que Dylan deveria assumir, mas o Alfa se recusa, dizendo que ele não está pronto.

Dylan parecia decente. Embora eu não tivesse interagido muito com ele, ele parecia justo e amigável com todos na matilha. Ele já tinha 22 anos, mas ainda não havia encontrado sua verdadeira companheira.

Eu estava ali, perdida em meus pensamentos, quando de repente uma sombra enorme pairou sobre mim. Olhando para cima, encontrei o Alfa Warren me encarando antes de se sentar ao meu lado.

"Você é uma guerreira bem habilidosa, Aria, apesar de ser humana," ele disse, sem fazer esforço para esconder o jeito como seus olhos percorriam meu corpo.

"Obrigada, Alfa," respondi, tentando ao máximo esconder o quanto estava desconfortável, o que não era fácil considerando que eu estava apenas de shorts de treino e top esportivo.

"E também muito bonita." Seus olhos viajaram sobre mim de novo, fazendo minha pele arrepiar e me deixando com vontade de desaparecer.

Antes que eu pudesse responder, Lucas se aproximou, cumprimentou respeitosamente o Alfa e então me disse que o treino estava encerrado por hoje. Pulei de pé, mais do que grata pela rota de fuga, e após uma despedida rápida, saí correndo do campo de treinamento.

Entrei na nossa pequena cabana e fui direto para o meu quarto, tirando as roupas de treino ensopadas de suor antes de ir para o banheiro tomar um banho. Depois de me limpar, vesti uma calça de camurça verde floresta de cintura alta e uma blusa de linho creme ombro a ombro. Raramente usava maquiagem, mas hoje passei um batom rosa popular e um toque de iluminador, completando o visual com argolas douradas e um colar em camadas.

Hoje à noite é a grande celebração para uma garota da nossa matilha que finalmente está atingindo a maioridade. Todos estão animados para ver sua primeira transformação e descobrir se ela encontrará sua verdadeira companheira. Encontrar sua verdadeira companheira é algo enorme para os lobisomens—eles são literalmente a outra metade da sua alma.

Como humana, eu nunca teria um espírito de lobo, nunca teria a habilidade de me transformar, e nunca teria uma verdadeira companheira. Essa era a maior diferença entre mim e a família de lobisomens que me adotou. Às vezes, eu me sentia solitária por causa disso.

Na hora do jantar, desci para comer com Gabriel e Lucas. Mas, ao contrário das nossas conversas agradáveis de costume, a atmosfera de hoje estava quieta e tensa. Não perguntei o motivo, imaginando que Gabriel devia ter tido um dia estressante.

"Aria?"

"Sim, Gabriel?" Olhei para ele.

"Preciso que você faça as malas amanhã. Vamos visitar alguns velhos amigos meus na Matilha Sombra da Lua."

"O que está acontecendo?" perguntei.

"Você vai descobrir mais tarde. Apenas faça isso," disse Gabriel.

"Ok, Gabriel. Vou arrumar as malas amanhã," respondi, e ele me deu um leve sorriso de alívio.

Depois de terminar o jantar, ajudei a tirar os pratos, depois abracei Gabriel antes de me preparar para ir à cerimônia. Lucas me acompanhou, já que sempre havia a chance de que a loba recém-transformada daquela noite pudesse ser sua verdadeira companheira. Ele estava cada vez mais ansioso para encontrá-la o mais rápido possível.

Após uma hora na cerimônia, assistimos a uma garota de dezoito anos encontrar seu verdadeiro companheiro entre os meninos recém-transformados. Suas almas se reconheceram instantaneamente, e eles se abraçaram amorosamente.

Fiquei na beirada, observando o novo casal dançar, completamente perdidos nos olhos um do outro. Uma dor familiar encheu meu peito—não era ciúmes, mas um desejo por algo que eu nunca poderia ter.

Como humana entre lobisomens, aceitei minhas diferenças há muito tempo. Mas em momentos como esses, a realidade da minha situação parecia mais pesada. Eu nunca experimentaria aquele reconhecimento instantâneo, aquela conexão profunda que os lobisomens compartilhavam com seus verdadeiros companheiros.

"Eles parecem felizes, não é?" uma voz profunda disse ao meu lado.

Virei-me para encontrar Dylan parado ali, sua figura alta projetando uma sombra sob a luz da lua. Ao contrário de seu pai, sua presença não me deixava desconfortável—muito pelo contrário. Havia algo calmante nele.

"Sim, parecem," concordei, voltando a olhar para o casal. "Deve ser incrível encontrar sua outra metade assim."

Dylan ficou quieto por um momento antes de falar novamente. "Aria, podemos conversar em um lugar mais privado?"

Curiosa, assenti e o segui para um lugar mais tranquilo perto da beira da clareira, ainda à vista da celebração, mas longe de ouvidos curiosos.

"Queria falar com você há um tempo," ele disse, sua voz mais suave do que eu já tinha ouvido. "Mas o momento nunca parecia certo."

Algo em sua expressão fez meu coração bater mais rápido. "Sobre o quê?"

Dylan respirou fundo. "Sei que isso pode parecer repentino, mas venho observando você em silêncio há meses. A maneira como você treina, como cuida dos outros na matilha apesar de ser humana, sua força..." Ele fez uma pausa, seus olhos encontrando os meus. "Desenvolvi sentimentos por você, Aria. Fortes. Tenho medo de que, se não te contar agora, possa nunca ter outra chance."

Eu o encarei, completamente pega de surpresa. O filho do Alfa tinha sentimentos por mim? Uma humana?

"Sei que não tenho o direito de pedir nada de você," ele continuou quando não respondi. "Especialmente com tudo o que está acontecendo. Mas eu precisava que você soubesse antes de partir."

Minha mente corria, tentando processar suas palavras. Dylan era bonito, gentil e respeitado—tudo o que um lobo poderia querer em um companheiro. Mas era isso. Eu não era uma loba.

"Dylan, eu..." comecei, tentando encontrar as palavras certas. "Estou honrada, de verdade. Mas só consigo te ver como família, como outro irmão. Você merece alguém que possa ser seu verdadeiro companheiro, alguém que possa compartilhar todos os aspectos da vida na matilha com você."

Sua expressão caiu ligeiramente, mas ele assentiu em compreensão. "Respeito sua honestidade. E sua decisão."

"Você sempre foi gentil comigo," acrescentei suavemente. "Qualquer loba teria sorte de tê-lo como companheiro."

Um sorriso triste cruzou seu rosto. "Talvez. Mas encontrar um verdadeiro companheiro não é tão simples quanto escolher alguém adequado."

Ficamos em silêncio por um momento, os sons da celebração continuando atrás de nós. Finalmente, Dylan falou novamente, sua voz assumindo um tom mais urgente.

"Aria, sobre sua viagem para a Matilha Moon Shadow—"

"Você sabe sobre isso?" interrompi, surpresa.

"Sim, e é importante que você vá. Não é seguro para você aqui mais." Seus olhos se moveram ao redor, verificando se alguém estava ouvindo. "Quando chegar lá, não volte. Especialmente você."

"O quê? Por quê?"

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