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CAPÍTULO TRÊS

ASHLEY

"Fizemos tudo o que podíamos, Sra. Blackwood, mas não conseguimos salvar o bebê."

As palavras do médico ecoavam na minha mente. Aquele momento me despedaçou, deixando para trás apenas fragmentos que eu não sabia como juntar novamente. Foi o momento em que meu mundo desabou, quando finalmente me permiti afundar nas ondas do desespero.

Já se passaram duas semanas desde que acordei na cama do hospital, duas semanas desde que aquelas palavras se gravaram na minha alma. No entanto, elas ainda persistem.

Lágrimas ardiam nos cantos dos meus olhos enquanto eu me dirigia ao banheiro, na esperança de que o vapor e o calor do chuveiro oferecessem algum alívio, alguma fuga do peso do meu luto.

Pressionei minha testa contra o azulejo frio do chuveiro, deixando a água se misturar com as lágrimas que escorriam pelo meu rosto.

Fiquei debaixo da água por muito mais tempo do que deveria, deixando-a escaldar minha pele como se pudesse queimar a dor. Mas nenhum calor poderia apagar o vazio frio no meu peito.

Quando finalmente me deitei na cama, o cansaço se envolveu em mim como um cobertor pesado.

Eu não tinha planejado assim. Não sabia o quão rápido a decisão viria até mim, mas uma vez que veio, não havia como voltar atrás.

Na semana passada, assinei os papéis do divórcio. Na semana passada, deixei de ser Ashley Blackwood.

Kyle também assinou, sem protestar. Era como se ele nem se importasse o suficiente para lutar por nós. Ele não me implorou para reconsiderar ou prometeu mudar. Não, era como se ele já estivesse se preparando para isso, para o fim do que quer que tivéssemos compartilhado.

O som estridente do meu telefone me sacudiu, fazendo meu coração pular mais uma batida. A tela iluminou-se com o nome de Violet.

"Jesus, Violet! Está tão cedo," murmurei.

"Ei, já passou das 8. Você ainda está dormindo?" Ela perguntou do outro lado.

Gentilmente enxuguei as lágrimas que já escorriam pelo meu rosto, um hábito que adquiri na última semana.

"Não, acabei de tomar banho," respondi, minha voz soando mais cansada do que eu pretendia.

"Ashley?" A preocupação permeava sua voz ao chamar meu nome. Violet era minha melhor amiga desde o colégio, tão próxima que nossas vidas se entrelaçaram de maneiras quase inseparáveis. Nós até nos casamos com amigos que eram amigos entre si, um vínculo profundo.

Não, eu já me divorciei de Kyle.

"Estou bem... realmente. É só... avassalador." Finalmente admiti.

"Eu sei, Ash. Eu sei," ela disse suavemente.

"Você quer conversar sobre isso durante o café da manhã?" Ela perguntou.

"Não! Vou voltar a dormir, é fim de semana mesmo," eu disse.

"Café da manhã na cama então, eu trouxe McChic," ela suspirou e a campainha tocou.

"Você está realmente aqui agora?" Perguntei surpresa.

"Sim!!" Ela enfatizou o 'p'.

"E estou entrando, já que você não consegue sair da cama," ela disse e eu ouvi a porta da frente se abrir.

Saí do quarto para ver Violet com duas sacolas de hambúrgueres do McChic nas mãos.

"Estou começando a me arrepender de ter te dado minha chave reserva," ri.

"Bom te ver também, querida," ela revirou os olhos.

À medida que ela se aproximava, o aroma do hambúrguer atingiu minhas narinas e meu estômago roncou.

Seu sorriso provocador suavizou enquanto ela me entregava uma das sacolas, o cheiro quente e reconfortante preenchendo o espaço entre nós.

"Você sabe que é a melhor," murmurei, pegando a sacola dela.

"Eu sei," ela sorriu, seus olhos brilhando com aquele brilho travesso que eu já esperava dela.

Ela se jogou no sofá, pegando um hambúrguer da sacola. "Então... suponho que você já tenha comido, né? Pelo pedido do McChic, você claramente conhece o esquema."

Eu ri, o som trêmulo enquanto me sentava ao lado dela. "Eu não sou tão previsível assim."

"Você é totalmente previsível, Ash," ela disse com um sorriso. "Agora, chega dessa conversa triste e deprimente. Me diga o que está realmente acontecendo. Eu sei que você está tentando evitar falar sobre isso, mas nós duas sabemos que isso está te consumindo."

Hesitei, o nó na minha garganta crescendo enquanto o peso de tudo pressionava sobre mim mais uma vez. Kyle se foi, e por mais vezes que eu dissesse a mim mesma que estava melhor assim, a verdade era que eu não tinha certeza se reconhecia a mulher que me tornei.

Mas Violet estava certa. Eu precisava falar.

"Talvez... Talvez eu simplesmente não saiba mais quem eu sou, Vi," sussurrei, minha voz quase inaudível.

A expressão de Violet suavizou, e ela estendeu a mão para colocar uma mão reconfortante no meu joelho. "Ashley, está tudo bem sentir-se assim. Você passou por tanta coisa, e ninguém espera que você tenha tudo resolvido agora. Você é mais forte do que pensa."

Suas palavras me aqueceram, mas não foram suficientes para acalmar a tempestade que rugia no meu peito. Hesitei por um momento, olhando para minhas mãos enquanto torcia o anel que eu não usava mais.

"Eu não aguento mais, Violet," eu disse, minha voz trêmula, mas resoluta.

Ela inclinou a cabeça, a preocupação estampada em suas feições. "O que você quer dizer? O que você não aguenta mais?"

Respirei fundo, forçando as palavras a saírem antes que eu pudesse duvidar de mim mesma. "Estou indo embora."

Violet piscou para mim, o choque evidente em seu rosto. "Indo embora? Do que você está falando?"

"Estou indo embora de Nova York," eu disse, minha voz firme agora, como se dizer isso em voz alta solidificasse a decisão na minha mente. "Tenho pensado nisso há um tempo, e eu só... preciso de um novo começo. Vou para a Alemanha, para meus pais. Vou recomeçar lá."

"A Alemanha?" ela repetiu, seu tom cheio de descrença. "Ashley, você está falando sério? Você vai simplesmente arrumar as malas e deixar tudo para trás?"

"Sim," eu sussurrei, a palavra parecia mais pesada do que eu esperava. "Eu preciso sair daqui, Vi. Este lugar, essas memórias... estão me sufocando. Cada esquina, cada café—tudo está contaminado. Eu não posso continuar vivendo à sombra do que minha vida costumava ser."

Violet me encarou, seus lábios comprimidos como se estivesse tentando encontrar as palavras certas. Finalmente, ela suspirou. "Ash, eu entendo. Eu entendo mesmo."

"Estou recomeçando. Eu não sei mais quem sou aqui, e preciso de espaço para descobrir isso. A Alemanha pode não ter todas as respostas, mas é um passo. Uma chance de respirar."

Violet se recostou na cama, suas sobrancelhas franzidas enquanto processava minhas palavras. "Quando você vai embora?" ela perguntou após um longo silêncio.

"Semana que vem," eu admiti. "Já comprei minha passagem."

Seus olhos se arregalaram. "Semana que vem? Ashley, você nem ia me contar até agora?"

Eu dei de ombros, impotente. "Eu não sabia como dizer. Você tem sido meu apoio em tudo, e eu não queria te chatear. Mas eu tomei minha decisão, Vi. Isso é algo que eu preciso fazer por mim mesma."

Ela balançou a cabeça, sua expressão uma mistura de frustração e tristeza. "Eu não quero que você vá, mas eu entendo. Se isso é o que você precisa, então... eu vou te apoiar. Sempre."

Lágrimas arderam nos meus olhos, e eu me inclinei para abraçá-la apertado. "Obrigada," eu sussurrei. "Por entender, por estar aqui... por tudo."

Ela me segurou por um tempo antes de se afastar, seus próprios olhos brilhando. "Você tem que me ligar todos os dias, ouviu? E quando estiver pronta para voltar, eu estarei bem aqui."

Eu assenti, um pequeno sorriso surgindo nos meus lábios. "Eu prometo."

Os olhos de Violet buscaram os meus, sua expressão suavizando novamente. "Você sabe que sempre estarei aqui para você, Ash. Mas... tem certeza de que não há mais nada? Nada que você não esteja me contando?"

Minha respiração falhou, mas me forcei a manter a expressão firme. O peso do que eu não havia compartilhado estava pesado no meu peito, mas eu não conseguia me forçar a dizer. Não agora. Não quando as feridas ainda estavam tão frescas.

"Não há nada, Vi," eu menti, estampando um sorriso fraco. "Você já sabe de tudo."

Ela inclinou a cabeça, me estudando do jeito que só alguém que te conhece há muito tempo pode. "Se você diz," ela murmurou, seu tom carregado de ceticismo silencioso.

Me virei, fingindo pegar meu hambúrguer, mas na verdade, era apenas para evitar seu olhar penetrante. Se ela soubesse—se eu contasse sobre a gravidez e o aborto espontâneo—ela só se sentiria culpada por não ter percebido, por não poder ajudar. E eu não poderia lidar com ver essa pena em seus olhos.

Em vez disso, mordi o hambúrguer, deixando os sabores salgados preencherem minha boca, mascarando a amargura que ameaçava subir na minha garganta.

"Você não está comendo," eu disse, mudando de assunto enquanto gesticulava em direção à comida intocada dela.

Violet suspirou, mas não insistiu, pegando seu hambúrguer com um leve balançar de cabeça. "Tudo bem. Mas você não está livre. Nem de longe."

Suas palavras eram leves, mas ainda assim cortaram fundo. Ela sempre foi capaz de perceber quando eu estava escondendo algo, mas desta vez, eu rezei para que ela não cavasse muito fundo. Alguns segredos eram meus para carregar sozinha.

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