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CAPÍTULO UM

ASHLEY

Uma vida atrás, meu marido me amava.

Eu vivia para as pequenas coisas: o jeito como ele me surpreendia com um buquê das minhas lírios favoritos, as risadas que compartilhávamos nos jantares que sempre pareciam curtos demais, e o jeito suave como seus lábios roçavam minha testa quando ele passava pela porta, como se eu fosse todo o seu mundo.

Mas isso foi uma vida atrás. Agora, enquanto eu olhava para o meu celular, vendo a chamada que eu fiz para ele ir direto para a caixa postal pela enésima vez, senti uma pontada de resignação. Hoje era nosso aniversário de casamento—um ano de casamento—e eu não podia acreditar que ele tinha esquecido.

Eu já sabia como esta noite terminaria—como tantas outras, com Kyle perdido em seu mundo de prazos e negócios. Suas prioridades eram claras: trabalho, riqueza e sucesso. Amor? Isso não parecia mais fazer parte da equação, nem nosso aniversário de um ano.

Eu pisquei os olhos esperando que um ano passasse, para deixar a frustração escorrer, mas nada veio. Talvez eu já tivesse me resignado a isso—ser o pensamento secundário na vida ocupada dele. Ainda assim, eu esperava que esta noite pudesse ser diferente.

Tínhamos planejado voltar ao FutChic—o restaurante onde tudo começou, onde ele me pediu em casamento em uma noite chuvosa que parecia um conto de fadas. As regras eram simples: sem telefones, sem trabalho—só nós dois. Era para ser uma chance de nos reconectar, de encontrar um pedaço do que havíamos perdido enquanto nosso relacionamento se desgastava mais a cada dia que passava. Eu tinha imaginado nós rindo, relembrando, talvez até nos apaixonando novamente. Mas isso era apenas mais uma fantasia, como tantas outras que eu criei para preencher o vazio.

Kyle não era mais o homem por quem me apaixonei no colégio—o garoto que movia montanhas só para me ver sorrir. O garoto que uma vez largou tudo para atravessar o país e ficar ao meu lado. E eu também não era a mesma garota. Em algum momento, eu parei de flutuar pela vida com estrelas nos olhos e comecei a me preparar para a decepção.

Olhei para a confirmação da reserva no meu celular, as palavras me provocando. Deveria cancelar? Esperar um pouco mais? Ou talvez eu devesse ir até o escritório dele?

Ri secamente com esse último pensamento. Eu estava cansada de aparecer lá, fingindo que não era humilhante esperar por horas só para roubar um momento do poderoso Kyle Blackwood.

O Kyle Blackwood com quem me casei não me faria sentir assim. Mas, por outro lado, talvez aquele Kyle fosse apenas uma memória—uma versão fugaz dele que eu me apeguei por tempo demais.

Um líquido quente escorreu pela minha bochecha enquanto eu finalmente me permiti chorar. Levantei-me da cama e caminhei até o banheiro, trancando a porta atrás de mim. Meu reflexo no espelho parecia zombar de mim—meu cabelo ruivo perfeitamente estilizado, minha maquiagem meticulosamente feita, o vestido azul que eu usava—todos riam de mim, me lembrando da minha própria miséria.

Eu parecia a mesma de sempre, mas meus olhos... meus olhos contavam uma história diferente. Castanhos e opacos, eles zombavam de mim, me lembrando da garota que eu costumava ser. A garota que vivia com alegria desinibida e otimismo desenfreado. A garota que não esperava por um homem que não se importava.

Essa garota se foi. Agora, em seu lugar, estava uma mulher olhando para o espelho, esperando por um marido que nunca viria. Uma mulher tentando reunir coragem para dar a notícia que ela guardava há três dias.

Eu estava grávida—seis semanas grávida.

Eu tinha imaginado contar para ele esta noite no jantar, visualizando seu rosto iluminado de excitação com a perspectiva do nosso futuro. Ele estava ocupado demais há dias, enterrado em reuniões, telefonemas e contratos. Foi por isso que eu ainda não tinha contado para ele, por isso planejei contar hoje, mas ele não estava aqui.

Saí do banheiro e meu olhar se fixou no relógio. 21:00. A FutChic ligou para confirmar se eu iria, e eu cancelei relutantemente. O peso da decepção era sufocante, mas uma faísca de determinação brilhou dentro de mim. Eu não podia deixar que isso terminasse como todas as outras noites, com eu sentada aqui, afundando na minha própria tristeza.

Peguei meu casaco e as chaves. Se ele não podia vir até mim, eu iria até ele. Só mais uma vez. Eu o veria, enfrentaria e diria o que eu estava carregando sozinha. E se ele não pudesse fazer espaço para mim—para nós—essa seria a última vez que eu imploraria por sua atenção.

A viagem até o escritório dele parecia mais longa do que nunca. Minha mente fervilhava com uma mistura de esperança e resignação. Talvez ele estivesse ocupado com algo importante. Talvez ele me visse entrar e percebesse o que havia esquecido, pedisse desculpas e me abraçasse como costumava fazer.

Mas então balancei a cabeça. Não, eu não podia continuar inventando desculpas para ele—não podia continuar fingindo que tudo estava bem quando não estava. Eu vinha fazendo isso há muito tempo, e isso só me deixou aqui, dirigindo sozinha para salvar um amor que parecia escorregar pelos meus dedos.

Logo, a silhueta imponente do prédio do escritório dele apareceu à vista, as palavras Blackwood Enterprises brilhando contra o céu noturno. Era uma das empresas mais prestigiadas de Nova York, a joia da coroa do império de Kyle. E, claro, pertencia ao meu marido.

Saí do carro, puxando o casaco mais apertado enquanto o ar frio mordia minha pele. As portas de vidro se abriram quando me aproximei, e fui recebida pelo zumbido familiar do saguão.

“Boa noite, Sra. Blackwood,” disse a recepcionista, sua voz alegre e polida.

Acenei para ela, forçando um pequeno sorriso, mas o calor não chegou aos meus olhos. O segurança me deu um aceno respeitoso enquanto eu passava, e o operador do elevador segurou a porta para mim, oferecendo um educado, “Senhora.”

Murmurei um obrigado, entrando no elevador. A subida parecia agonizantemente lenta, o zumbido silencioso da maquinaria fazendo pouco para abafar o martelar do meu coração.

Quando as portas do elevador se abriram no andar executivo, saí, meus saltos clicando suavemente contra os azulejos de mármore. Passei por rostos familiares, cada um me cumprimentando com um sorriso ou um aceno educado. Eu acenei de volta, minhas respostas automáticas, distantes.

Mas, à medida que me aproximava do escritório de Kyle, meus passos começaram a vacilar. Eu podia sentir um nó subindo na minha garganta, ameaçando me sufocar. Mas engoli em seco, forçando-me a continuar. Entre. Confronte-o. Diga o que precisa dizer e saia de cabeça erguida, eu me dizia.

No entanto, no momento em que cheguei à porta dele, congelei. Minha respiração ficou presa, perdida entre pânico e descrença.

Murmúrios fracos vinham de dentro. Uma das vozes era inconfundivelmente dele—suave, controlada e familiar de um jeito que fez meu estômago revirar. Mas então havia outra voz.

A voz de uma mulher.

Minha mente disparou, mil pensamentos colidindo ao mesmo tempo. Não. Não pode ser. Ele não faria isso comigo. Ele pode estar ocupado, atolado em trabalho, mas não isso. Ele não cruzaria essa linha.

Cerrei os punhos, repetindo as palavras na minha cabeça como um mantra, tentando me convencer a acreditar nelas. Mas a dúvida já estava se infiltrando, corroendo minha determinação.

Antes que eu pudesse me questionar, empurrei a porta.

A cena diante de mim tirou o fôlego dos meus pulmões.

Por um momento, não fez sentido—minha mente se recusava a processar o que meus olhos estavam vendo. Mas então a realidade me atingiu como um trem de carga.

Lá estava ele, Kyle, sentado em sua cadeira de couro. E ele não estava sozinho.

Ela estava lá também—suas longas pernas estendidas sobre o colo dele, a cabeça jogada para trás enquanto gemidos suaves escapavam de seus lábios. Eles não estavam apenas sentados próximos ou compartilhando um momento de intimidade silenciosa. Não, eles estavam entrelaçados, total e completamente, de uma maneira que não deixava espaço para interpretações erradas.

Eles estavam transando!!

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