Capítulo 9: Ainda não consigo alcançar a Sra. Parker
Ponto de Vista de Blake
Outra videoconferência transcontinental finalmente terminou. Recostei-me na cadeira de couro, afrouxando a gravata enquanto o horizonte de Nova York brilhava além das janelas do chão ao teto do meu escritório. Era como um dia normal, mas algo parecia errado, como uma coceira que eu não conseguia aliviar.
Levantei-me, olhando para a vista noturna. Do meu escritório no último andar do Parker Group, eu podia ver toda a cidade, e essa vista geralmente me ajudava a pensar. Esta noite, as luzes da cidade pareciam apenas me zombar.
Três dias. Foi o que eu dei a ela na Mayo Clinic. Três dias para acabar com esse jogo ridículo e voltar para a mansão. O prazo havia passado e ainda não havia notícias dela. Nem uma mensagem para dizer que estava viva.
O copo de cristal na minha mão rangeu sob a pressão enquanto eu me lembrava do nosso último encontro no hospital. Seu rosto pálido, aqueles olhos firmes enquanto ela pedia o divórcio. Eu não me atrevi a olhar de perto e só pude sair apressadamente, mal percebendo o grupo de médicos passando por mim.
"Senhor." A voz de Michael interrompeu meus pensamentos. "O Sr. William Parker enviou alguns chocolates artesanais da Suíça para a Sra. Parker."
Não me virei da janela. A pulsação nas minhas têmporas estava piorando. "Mande entregar para ela."
"O Sr. Parker pediu especificamente que você e a Sra. Parker comparecessem à sua festa de 80 anos em três dias." A voz de Michael carregava aquela nota particular de hesitação cuidadosa que eu havia aprendido a reconhecer. "Ele mencionou que sente falta dela."
"Entendi. Apenas envie para ela." As palavras saíram mais cansadas do que eu pretendia. Três dias de silêncio de Audrey estavam me desgastando mais do que eu queria admitir.
"Senhor..." A pausa de Michael era reveladora. "Ainda não conseguimos entrar em contato com a Sra. Parker."
O copo de cristal parou a meio caminho dos meus lábios. "O que você quer dizer com 'não conseguem entrar em contato com ela'?"
"Estamos tentando todos os canais habituais..."
Virei-me bruscamente. "Vocês verificaram a mansão?"
"A Sra. Parker não..." Michael engoliu visivelmente. "Ela não voltou para lá."
"E a Mayo Clinic? Ela não teve alta?"
"O hospital nos informou que... a Sra. Parker teve alta ontem. Eles não sabem para onde ela foi..."
O copo bateu na minha mesa com força suficiente para fazer Michael estremecer.
"Senhor," sugeriu Michael. "Talvez você possa tentar a família da Sra. Parker. Ela provavelmente voltou para... casa?"
Peguei meu telefone, rolando até um número que raramente ligava. Tocou quatro vezes antes de uma voz masculina atender.
"Sr. Sinclair." O nome soava estranho na minha língua. "Aqui é Blake Parker."
"Blake?" A surpresa do pai dela era evidente. "Está tudo bem?"
"Você ouviu falar da Audrey recentemente?"
"Audrey?" Houve uma pausa. "Não ouvimos falar dela há meses." Outra pausa. "Há algo errado entre vocês dois?"
Eu podia ouvir o julgamento se insinuando no tom dele. "Não há nada de errado."
"Você sabe," ele continuou, sua voz assumindo aquele tom particular de falsa preocupação que eu já tinha ouvido em todas as reuniões da família Sinclair, "sempre disse que a criação no campo de Audrey poderia torná-la... difícil de lidar. Talvez se você tivesse escolhido alguém mais adequado ao seu círculo social..."
Fechei os olhos. A tendência dos Sinclair de menosprezar a própria filha sempre me irritou, mesmo quando eu também a desprezava. A hipocrisia desse pensamento não me passou despercebida.
"Isso não será necessário," interrompi friamente. "Boa noite, Sr. Sinclair."
Estava prestes a ligar para outro contato quando meu telefone vibrou com uma chamada recebida. O nome de Alex Rhodes apareceu na tela.
"Blake, The Underground, agora!"
"Não estou com vontade, Alex."
"Não está com vontade?" Sua risada carregava aquele tom particular que me fez parar. "Espere até ver esta foto que estou enviando. Você definitivamente vai estar com vontade então. Venha pra cá!"
A foto carregou um momento depois. Apertei o telefone com tanta força que ouvi a capa rachar.
Algo escuro e possessivo despertou no meu peito. Antes que eu tomasse a decisão conscientemente, já estava caminhando em direção ao elevador. "Michael!" Minha voz cortou o escritório como um chicote. "Me arranje o carro, agora!"
A descida de elevador até a garagem parecia interminável. No meu bolso, o telefone vibrou novamente – provavelmente Laurel, querendo saber por que eu tinha perdido nossos planos de jantar. Ignorei. Agora, tudo que eu conseguia pensar era na foto que Alex tinha enviado: Audrey, em uma multidão no The Underground, vestindo algo que não parecia nada com suas escolhas conservadoras habituais. E ela estava alcançando os músculos abdominais expostos de um dançarino.
O motor do meu carro rugiu, seu ronco combinando com meu humor. Audrey Sinclair, você está completamente maluca!
O The Underground já estava em plena atividade quando cheguei, o baixo vibrando pela calçada enquanto eu me aproximava da entrada. A multidão habitual de aspirantes se abriu como o Mar Vermelho quando passei pela corda de veludo, os seguranças acenando em reconhecimento silencioso.
O baixo do clube me atingiu antes de eu chegar à porta. Lá dentro, a cena da foto estava se desenrolando em tempo real. O dançarino, agora completamente sem camisa, tinha puxado Audrey para o palco. Ela se movia com uma graça que eu nunca tinha visto antes, seu vestido vermelho captando a luz enquanto seguia o ritmo dele.
Eu podia ver o dançarino levantá-la audaciosamente, até colocando a mão dela em seus músculos abdominais. Os aplausos ensurdecedores do lado do palco eram avassaladores, e eu sentia minha raiva prestes a explodir.
"Audrey!" A voz bêbada de uma mulher cortou a música. "Esta é a verdadeira você!"
Reconheci Astrid Wilson, a amiga constante de Audrey, balançando em uma mesa VIP.
"A vida é curta demais para não aproveitá-la!" Astrid levantou seu copo. "Que Blake Parker vá para o inferno!"
"Quem deveria ir para o inferno?"