




A reivindicação
Meus lábios se moveram contra os de Kaius, hesitantes no início, depois com uma urgência crescente. O mundo ao nosso redor parecia desaparecer enquanto um calor desconhecido se espalhava pelas minhas veias.
"Finja," Kaius sussurrou no meu ouvido, seus lábios roçando minha pele.
"Por que eu—" comecei sem fôlego, mas fui interrompida pela sensação que me inundava. Isso não era nada como os beijos fracos de Dorian. Esse me deixou molhada instantaneamente.
Não tive tempo de entender. Dorian atravessou a multidão, seu rosto contorcido de raiva. "Ela não é sua companheira. Solte-a imediatamente."
Kaius se virou lentamente, mantendo seu braço possessivamente ao redor da minha cintura. "E por que você diz isso?"
"Olhe para ela," Dorian zombou, gesticulando para mim com desdém. "Ela é de baixa posição aqui, mal acima de uma ômega. Um Alfa como você nunca poderia estar ligado a uma sujeira como ela."
Algo brilhou nos olhos de Kaius—algo perigoso. "Por que isso deveria te incomodar? A menos que... ela signifique algo para você?"
Observei o rosto de Dorian enquanto ele percebia a armadilha em que havia caído. Seus olhos se voltaram para Selene, que o encarava com suspeita.
"Ela não seria boa o suficiente para uma aliança," Dorian recuou rapidamente. "Ela não é nada. Sem valor. Estou apenas protegendo a honra da sua linhagem."
O rosnado que emanou do peito de Kaius sacudiu o próprio ar, fazendo o lustre de cristal acima tremer. "Cuidado. Com. Sua. Língua."
O suspiro coletivo da matilha foi audível. Vários membros caíram de joelhos instintivamente, curvando-se diante de um poder que reconheciam como muito superior ao de seu próprio Alfa.
O rosto de Dorian empalideceu. "Eu... peço desculpas, Alfa."
Frost sorriu por trás de Kaius. "O poderoso Alfa de Mistwood, se curvando como um filhote."
"Acredito que a fêmea ao seu lado seja sua companheira e Luna, correto?" Kaius perguntou, sua voz carregada de condescendência. "Aquela que você tem exibido a noite toda?"
Dorian estava preso em sua própria mentira. Ele olhou para Selene, cujo rosto se tornava cada vez mais suspeito. "Sim... esta é minha companheira e minha Luna."
"Dorian, o que está acontecendo?" Selene sibilou. "Por que ele se importa com essa rata de matilha de baixo escalão?"
A voz de Kaius caiu para um tom mortalmente suave. "Então eu te avisarei apenas uma vez: nunca mais fale dessa maneira com minha companheira novamente. Caso contrário, eu te lembrarei por que as fronteiras da Matilha Ravenhollow se expandiram três vezes em tantos anos."
Lutei para manter meu rosto neutro, mas por dentro, uma pequena parte de mim brilhava de satisfação. Pela primeira vez, Dorian estava sendo humilhado. Sendo colocado em seu lugar.
"Entendido," Dorian disse, engolindo em seco.
"Venha comigo, companheira," Kaius ordenou, virando-se para mim. "Este lugar está abaixo de você agora."
Enquanto ele me guiava para a saída, os sussurros começaram.
"Como uma sujeira como ela chamou a atenção dele?" uma membra da matilha sussurrou, sem se preocupar em baixar a voz o suficiente.
Outro lobo respondeu em tom baixo, "Você acha que ele sabe o que ela era para nosso Alfa?"
Kaius parou, virando-se para se dirigir a toda a sala. "Minha companheira será chamada de Luna Elowen de Ravenhollow a partir deste momento. Qualquer um que esquecer responderá a mim pessoalmente."
O silêncio que se seguiu foi absoluto. Eu mal conseguia processar o que estava acontecendo. Como Kaius sabia meu nome? Nunca nos havíamos encontrado antes, disso eu tinha certeza. E por que ele me reivindicaria como sua companheira quando o vínculo que compartilhávamos claramente não era real?
Olhei para trás uma vez enquanto deixávamos o salão. Minha mãe estava congelada, seus olhos arregalados de choque e preocupação. Tentei comunicar com meu olhar que eu ficaria bem, embora não tivesse certeza se isso era verdade.
Assim que estávamos do lado de fora, o ar fresco da noite atingiu minha pele ruborizada. Kaius continuou caminhando rapidamente, sua mão ainda firmemente nas minhas costas, me guiando para longe do baile e em direção ao limite do território da alcateia. Frost nos seguia a uma distância discreta.
"Onde você está me levando?" perguntei, minha voz tremendo apesar dos meus esforços para soar corajosa. Meus passos vacilaram enquanto nos aproximávamos da linha das árvores.
"Para onde possamos ficar sozinhos," Kaius respondeu sem diminuir o passo.
Quase tropecei em uma raiz. "A floresta? Você está me levando para a floresta?"
Ele olhou para mim, a luz da lua refletindo em seus olhos. "Você teme a escuridão, lobinha?"
Engoli seco, então soltei uma risada curta e sem humor. "Agora? Prefiro enfrentar o que quer que esteja escondido nestes bosques do que passar mais um minuto naquele salão com todos me encarando."
Frost riu atrás de nós. "Garota esperta."
Chegamos a uma pequena clareira banhada pela luz da lua. Kaius parou e se virou para seu Beta. "Já está longe o suficiente, Frost. Espere na periferia."
"Como desejar." Frost fez uma leve reverência, os olhos brilhando com diversão. "Embora ela pareça que pode fugir, Alpha."
Os lábios de Kaius se curvaram levemente. "Ela não vai."
Quando estávamos sozinhos, meu coração martelava contra minhas costelas. Eu poderia correr, mas qual seria o ponto? Se as histórias fossem verdadeiras, Kaius poderia me pegar antes de eu dar três passos.
"O que você quer de mim?" perguntei, minha voz mal audível.
Kaius me circulou lentamente, seus olhos fixos nos meus. "Conversar."
Não pude evitar a risada amarga que escapou de mim. "Você quer conversar? Você? O mesmo Kaius Valerian cujo nome as mães da alcateia invocam quando as crianças se comportam mal?"
Ele permaneceu indiferente às minhas palavras. "Você ouviu histórias."
"Todo mundo ouviu." Recuai instintivamente. "O Alpha que se banhou no sangue de seus inimigos. O homem que exterminou três alcateias em uma única lua."
"Quatro, na verdade," ele corrigiu casualmente. "Os livros de história perderam uma."
Meu coração batia tão alto que eu tinha certeza de que ele podia ouvir. "Então é por isso que estou aqui? Para ser a vítima número cinco? Mais uma mensagem para o mundo dos lobisomens?"
Ele inclinou a cabeça, me estudando com uma intensidade perturbadora. "Você está com medo, mas ainda assim fala comigo dessa maneira. Interessante."
Algo dentro de mim se rompeu. Se eu ia morrer, poderia muito bem enfrentar isso diretamente. "Você quer me matar, Alpha Kaius? É por isso que fez aquela alegação absurda de companheiro?"
Ele se aproximou, seus dedos surpreendentemente gentis ao roçarem minha bochecha. "Se eu quisesse sua morte, lobinha, teria tirado sua vida naquele salão. Seu sangue ainda estaria quente no chão de mármore."
Estremeci com suas palavras, vívidas e terríveis. "Então o que—"
"A morte é simples," ele me interrompeu, sua voz caindo para uma suavidade perigosa. "O que eu quero de você é muito mais... complexo."
Encontrei seu olhar, surpreendendo-me com minha própria firmeza. Eu já estava quebrada—o que mais ele poderia tomar?
O que este infame Alpha poderia fazer comigo que o destino já não tivesse realizado?
Tirar meu filho? Tarde demais. Meu companheiro? Dorian já tinha me descartado como lixo de ontem. Minha dignidade? Por favor—eu tinha sido uma ômega na Alcateia Mistwood.
"Não me importo com os jogos que você está jogando," disse, minha voz endurecendo com uma resolução repentina. "Esta é a última vez que vou perguntar—o que você quer de mim? Responda agora ou termine com essa charada."