




O lobo inesperado
O grande salão brilhava com a luz das velas refletindo nos copos de cristal e nas bandejas de prata. Risadas e conversas fluíam como o vinho caro sendo servido. Todos estavam vestidos com suas melhores roupas—seda, veludo e joias exibidas como penas de pavão.
Todos, exceto eu.
Eu vestia o único vestido decente que possuía—um simples azul marinho que um dia havia se ajustado perfeitamente, mas agora estava um pouco folgado no meu corpo. Eu havia perdido peso desde o aborto. Desde a rejeição.
Sentava-me rigidamente à mesa de Dorian, diretamente à frente dele e de Selene. O ponto de vista perfeito para seu espetáculo de afeto. Cada toque, cada palavra sussurrada entre eles era destinada aos meus olhos e ouvidos.
Dorian acariciava a mão de Selene, seus olhos fixos em mim. "Ela não é linda, Elowen? Como uma verdadeira Luna deve ser."
Forcei meus lábios a formarem um semblante de sorriso. "Muito linda, Alpha."
"Você sabia que Selene vem de linhagens puras?" Sua voz alcançava mesas próximas. "Ao contrário de alguns... sangue diluído em nosso bando."
Selene deu uma risadinha, inclinando-se para ele. "Dorian, querido, você vai me fazer corar."
Permaneci em silêncio, meus nós dos dedos brancos enquanto apertava a borda da cadeira. Observava minha mãe se movendo entre as mesas com uma jarra de água, seus olhos baixos, seus movimentos eficientes e praticados. Anos de servidão a ensinaram a ser invisível.
Até que Dorian decidiu torná-la visível.
"Você! Velha!" ele gritou de repente. "Este copo está vazio há trinta segundos. Suas pernas estão falhando assim como seus olhos?"
Minha mãe apressou-se, cabeça baixa. "Não, Alpha. Perdão, Alpha."
Selene observava meu rosto enquanto falava. "Dorian me contou que você um dia pensou que seria Luna. Não é adorável? Como se alguém da sua... posição... pudesse liderar um bando."
Enquanto minha mãe se inclinava para servir, Selene se mexeu repentinamente. O copo inclinou-se, vinho tinto escorrendo pelo uniforme desgastado de minha mãe.
"Oh! Olhe o que você me fez fazer com sua desajeitada!" Selene exclamou, olhos brilhando de malícia.
Ela colocou uma mão sobre a boca em falsa inocência. "Ops! Seu vestido surrado está arruinado. Embora, como alguém poderia notar a diferença?"
Algo se quebrou dentro de mim. Levantei-me da cadeira, punhos cerrados ao lado do corpo. "Você fez isso de propósito, sua bruxa vingativa."
Selene ofegou teatralmente, mão voando para o peito. "Você ouviu o que ela me chamou, Dorian? Sua pequena mascote tem uma boca e tanto."
A voz de Dorian caiu para um tom mortalmente quieto. "Elowen. Lembre-se do seu lugar. Esta é sua Luna, e nunca mais fale com ela dessa maneira se valoriza a posição de sua mãe. Ou seus dedos."
Seus olhos penetraram nos meus, a ameaça inconfundível. "Sente-se. Agora."
Os olhos de minha mãe se encheram de terror. "Por favor, Elowen. Por favor, sente-se."
Afundei de volta na cadeira, observando enquanto minha mãe se ajoelhava para limpar o derramamento.
Dorian virou-se para as mesas ao redor, abrindo os braços. "Não é maravilhoso? Todos se divertindo? Minha Luna perfeita ao meu lado, o bando prosperando sob minha liderança."
Selene inclinou-se para mim, voz baixa o suficiente para que apenas eu pudesse ouvir. "Ele grita meu nome quando estamos sozinhos. Ele já gritou o seu?"
Os primeiros acordes de música começaram a tocar.
Dorian levantou-se e estendeu a mão para Selene. "Você me honraria com esta dança, minha deusa, minha verdadeira companheira, meu tudo?"
Reconheci as palavras—exatamente as mesmas palavras que ele havia sussurrado para mim sob as estrelas na noite de nosso acasalamento.
Selene me lançou um sorriso triunfante. "Sim, meu Alpha."
Enquanto eles caminhavam em direção à pista de dança, Dorian olhou por cima do ombro. "Você poderia se misturar agora, Elowen, mas sejamos honestos—quem iria querer os bens usados do Alpha Dorian?"
Observei-os deslizar pelo salão, ela em seus braços, seus lábios em seu ouvido sussurrando coisas para fazê-la rir. Os mesmos passos de dança, os mesmos sorrisos, os mesmos gestos íntimos que ele uma vez compartilhou comigo.
Levantei-me abruptamente. Não suportava mais um minuto daquele espetáculo. Deslizei entre as mesas, indo em direção à saída mais próxima, piscando para conter as lágrimas que me recusava a derramar.
Eu quase havia chegado às portas quando elas se abriram de repente. A música parou. A conversa morreu.
Um suspiro coletivo percorreu o salão quando dois homens entraram na sala.
"Alpha Kaius..." alguém sussurrou com medo. "O Alpha de Ravenhollow..."
Um lobo mais velho agarrou o braço de um membro mais jovem da alcateia. "Não olhe diretamente para ele. Sua alcateia conquistou três territórios só no inverno passado."
Eu fiquei paralisada, incapaz de me mover ao reconhecer as figuras imponentes.
Alpha Kaius Valerian do território de Ravenhollow estava como um sentinela sombrio, sua figura imponente preenchendo a entrada.
Com mais de um metro e noventa de altura, seus ombros largos eram acentuados pelo terno preto sob medida. Suas feições angulares exibiam uma expressão de superioridade distante. Longos cabelos negros caíam além dos ombros, parcialmente presos para revelar um queixo forte e a dica de uma cicatriz que corria do templo à bochecha. Ao seu lado, igualmente formidável, estava seu Beta, Frost.
Dorian correu para a frente, sua voz alta demais, traindo seu nervosismo. "Bem-vindo, Alpha Kaius! Que honra inesperada! Você não nos informou que nos agraciaria com sua presença na nossa humilde celebração. Teríamos preparado uma recepção adequada para —"
Kaius o interrompeu com silêncio, nem sequer olhando em sua direção.
O sorriso frio de Frost era quase imperceptível. "O Alpha não precisa da sua permissão para entrar em qualquer território, filhote."
"Claro, claro!" Dorian tentou salvar a situação. "Por favor, temos lugares reservados para convidados ilustres—"
Eu tentei me tornar invisível, pressionando-me contra a parede. Mas, para meu horror, Kaius ignorou completamente Dorian e começou a caminhar diretamente em minha direção. A multidão se abriu diante dele como água.
Meu coração batia forte contra minhas costelas. "Por que eu? Deve haver algum engano..."
Kaius parou diante de mim, seu olho âmbar fixo no meu. Quando ele falou, sua voz era como trovão, silenciando toda a sala.
"Companheira."
A palavra pairou no ar entre nós. Eu balancei a cabeça em descrença.
"Não... isso é impossível. Eu já fui—"
Do outro lado da sala, a voz estridente de Selene cortou o silêncio. "Dorian! O que está acontecendo? Faça alguma coisa!"
Dorian deu um passo à frente, tentando reafirmar sua autoridade. "Alpha Kaius, há alguma confusão. Esta garota não é ninguém, apenas uma de baixa classificação—"
Kaius finalmente reconheceu Dorian com um olhar de tal desprezo que Dorian recuou fisicamente.
"Você tocou no que é meu." Cada palavra era uma promessa mortal.
A mão de Frost moveu-se para a arma ao seu lado. "Uma ofensa punível com a morte em nosso território."
O pânico começou a subir dentro de mim enquanto Kaius se aproximava mais. "Por favor, eu não entendo o que está acontecendo—"
"Ela não é nada!" A voz de Dorian rachou com desespero. "Leve-a se quiser! Ela era apenas temporária—"
"Dorian!" Selene sibilou. "Você não pode simplesmente—"
Mas Kaius ignorou todos eles, seu foco inteiramente em mim. "Eu procurei por você. Através de territórios. Por temporadas."
Eu olhei para ele, perplexa. "Mas você nem me conhece."
Ele estendeu a mão para meu rosto com uma gentileza surpreendente. "Eu conheço sua alma, pequena loba."
O suspiro coletivo da alcateia ecoou pelo salão enquanto ele me puxava para perto. Minha mãe assistia do canto, mãos sobre a boca em choque ou oração.
Seus lábios encontraram os meus em um beijo que enviou uma corrente elétrica correndo pelo meu corpo.
"Me beije de volta, Elowen," ele sussurrou contra meus lábios, baixo demais para os outros ouvirem. "Se você deseja sair deste lugar, me beije de volta. Confie no vínculo que sente se formando. Eu não sou como ele. Eu protejo o que é meu."
Algo despertou dentro de mim—um calor onde antes havia apenas frio, uma leveza onde antes havia apenas peso. Eu não entendia o que estava acontecendo, mas naquele momento, com a crueldade de Dorian ainda fresca e este estranho oferecendo uma fuga, eu fiz minha escolha.
Eu o beijei de volta.