




Capítulo 3: Apenas faça com que pareça bom
Irene se movia entre a área lotada de retirada de bagagens, seu elegante vestido azul-marinho em nítido contraste com os passageiros cansados ao seu redor. Cinco anos a haviam mudado - a jovem assustada que fugira de Silver City havia desaparecido. Agora sua atenção estava totalmente voltada para seus filhos.
"Lembrem-se de ficar perto," disse ela, verificando o número da retirada de bagagens no celular. "Este lugar fica uma loucura nas horas de pico."
Os trigêmeos estavam perfeitamente alinhados ao lado da mãe, atraindo olhares admirados dos transeuntes. Alex segurava seu amado tablet enquanto mantinha uma vigilância protetora sobre seus irmãos. Lucas endireitava sua gravata borboleta de seda - sua própria ideia de traje adequado para viagens. Lily, em seu vestido azul combinando, cantarolava baixinho enquanto balançava ao ritmo de uma melodia que só ela podia ouvir.
"Oh, veja só essas crianças adoráveis!" Uma senhora idosa cutucou o marido, sorrindo para as crianças. "Que bons modos, e essas roupas combinando!"
"Parecem bonequinhos," outra passageira sussurrou para sua amiga. "E tão bem-comportados para a idade!"
Uma comissária de bordo que passava não pôde deixar de sorrir. "Eles estavam no meu voo - verdadeiros anjinhos. A pequena até ajudou a confortar uma criança assustada durante a turbulência."
"Esteira quatro," Alex anunciou, seu tablet já exibindo o sistema de rastreamento de bagagens do aeroporto, embora Irene fingisse não notar a habilidade casual de seu filho mais velho em hackear. Algumas batalhas não valiam a pena.
Eles haviam acabado de avistar sua primeira mala quando Lily começou a fazer sua dança característica.
"Mamãe, eu preciso ir..." Ela tentou sussurrar, mas sua urgência era evidente.
Irene suspirou. "Por que não disse algo no avião, querida?"
"Eu não precisava ir naquela hora!" Lily protestou, se mexendo de um pé para o outro.
"E vocês dois?" Irene se virou para os meninos. "Última chance antes de irmos para o hotel."
Alex não levantou os olhos do tablet. "Não, estamos bem. Vamos ficar de olho nas coisas."
"Sim, mãe, nós cuidamos disso!" Lucas acrescentou com um sorriso brilhante que teria deixado Irene desconfiada se ela não estivesse distraída com o crescente desespero de Lily.
"Certo, mas fiquem bem aqui. Vamos ser rápidas." Ela pegou a mão de Lily, já mapeando mentalmente a rota mais rápida para o banheiro mais próximo.
Assim que a mãe e a irmã desapareceram na multidão, as expressões inocentes dos meninos se transformaram em algo muito mais focado. Alex se empoleirou na maior mala, dedos voando pelo tablet enquanto puxava os feeds de segurança do aeroporto. Lucas, por sua vez, começou uma cuidadosa observação ao redor, sua energia de cinco anos canalizada em uma aguda vigilância.
"Alguma coisa?" Alex murmurou, olhos alternando entre as telas.
"Ainda não, mas—" Lucas interrompeu abruptamente. Seus olhos se arregalaram de excitação. "Olha, Alex!" ele sussurrou, quase pulando de entusiasmo. "Aquele é a pessoa que estávamos procurando - Sr. Haven! Será que ele é mesmo nosso... você sabe..."
Através da multidão em movimento, eles podiam vê-lo claramente. Adam atraía atenção mesmo de sua cadeira de rodas, sua expressão severa enquanto conversava com seu assistente. Mesmo à distância, sua irritação era evidente.
"Outro especialista deve ter recusado," Alex murmurou, lembrando-se dos pedidos de consulta médica criptografados que eles estavam rastreando.
Então ele notou algo que fez seus olhos se arregalarem. "Espera..." Ele cutucou o irmão. "Olha a mala dele. É exatamente como a da mamãe!"
Lucas apertou os olhos. "A preta de negócios? Elas parecem idênticas..."
"Mesmo modelo, mesma cor..." A voz de Alex baixou ainda mais. "Até o mesmo arranhão no canto."
Um sorriso se espalhou pelo seu rosto - do tipo que geralmente precedia um sucesso brilhante ou um problema espetacular. "Entendi! Você está pensando o que eu estou pensando?"
"Ah... sobre as malas?"
"Bingo! E você é muito melhor em interpretar o garoto hiperativo..."
Lucas entendeu imediatamente, um sorriso iluminando seu rosto. "Quer que eu trombe nele?"
"Só faça parecer real!"
Os próximos minutos foram uma aula de caos controlado. Lucas, canalizando cada gota de sua considerável energia de cinco anos, posicionou-se sobre a mala de rodinhas como se fosse um patinete. Alex fez um show de ser o irmão mais velho responsável, gritando avisos apropriados enquanto calculava as trajetórias.
A colisão, quando aconteceu, foi perfeitamente cronometrada. Lucas conseguiu esbarrar na mala idêntica de Adam enquanto evitava por pouco a cadeira de rodas, fazendo a bagagem girar e criando confusão suficiente para Alex se aproximar.
"Ow ow ow!" A atuação de Lucas era digna de um Oscar, completa com uma queda dramática.
"Lucas! Você está bem, amigo?" Alex correu, usando o movimento para reposicionar suavemente as malas.
"Ops!" Lucas sentou-se, esfregando o cotovelo. "O carrinho ficou maluco!"
"Pedimos desculpas, senhor!" Alex virou-se para Adam com perfeita contrição. "Meu irmão às vezes fica um pouco empolgado..."
A expressão severa de Adam vacilou, apenas um pouco, enquanto olhava para os meninos. A semelhança que assombrava os sonhos de Irene era ainda mais marcante de perto, embora nem o pai nem os filhos estivessem cientes disso. Sua irritação inicial—amplificada por outra tentativa fracassada de encontrar o especialista que precisava—suavizou quase imperceptivelmente.
"O aeroporto está lotado," disse ele, sua voz profunda carregando aquela nota de autoridade que intimidava veteranos de sala de reunião. "Correr assim pode ser perigoso."
"O senhor está certo," acrescentou seu assistente, falando baixinho com as crianças. "E ele não está de bom humor depois que aquele especialista recusou..."
"Realmente sentimos muito," Alex repetiu, ajudando Lucas a se levantar enquanto habilmente empurrava a mala recém-adquirida para junto das outras. A mala idêntica que haviam trocado agora estava entre a bagagem de Adam.
Eles escaparam com um timing perfeito, justo quando Irene e Lily voltaram do banheiro. A mãe não sabia nada sobre o encontro, embora tenha levantado uma sobrancelha ao ver o estado um pouco desalinhado de Lucas.
"Tudo bem por aqui?"
"Perfeito!" os dois meninos responderam com sorrisos angelicais.
Só quando estavam ajudando a carregar as malas no carro esperando, Lucas finalmente falou o que estava em sua mente.
"Se ele realmente é nosso pai," Lucas sussurrou, seu lábio inferior tremendo ligeiramente, "ele parece tão... frio."
"Claro que parece," Alex respondeu suavemente, colocando cuidadosamente a aquisição especial no porta-malas. "Ele ainda não sabe sobre nós. O que você esperava?"
"Mesmo assim..." Lucas observou a forma elegante do carro particular de Adam se afastando da calçada. "Ele poderia pelo menos ter sorrido ou algo assim..."
Alex apenas deu de ombros, mas sua mão acariciou a mala que haviam trocado. Quaisquer que fossem os segredos que seu pai estava guardando, eles estavam um passo mais perto de descobri-los. Além disso, ele não pôde deixar de notar que, apesar da postura severa de Adam, ele não havia realmente repreendido-os—e Alex viu aquele olhar de algo mais suave quando Adam realmente olhou para Lucas.
"Coloquem os cintos, queridos!" Irene chamou do banco da frente, completamente alheia ao que seus brilhantes, astutos filhos acabavam de iniciar. "Bem-vindos a Silver City."
Os olhos dos meninos se encontraram no espelho retrovisor, sorrisos correspondentes se espalhando por seus rostos. A fase um estava completa. Agora só precisavam esperar que seu pai abrisse aquela mala...