




Capítulo 5: O último fragmento de dignidade
Por que ele fingia se importar comigo? Foi ele quem me fez ficar na chuva ontem!
Agora, sua preocupação parecia ainda mais falsa, ainda mais nojenta.
Christina se mexeu ao meu lado, seu perfume fazendo meu estômago revirar.
Eu não podia ir ao hospital.
Se eu fosse, minha gravidez seria descoberta.
Parecia bobo, mas eu não queria que ninguém soubesse do bebê — eu precisava manter o pouco de autoestima que me restava.
Especialmente na frente da Christina.
"Isso não é da sua conta." Eu disse friamente e pressionei minha testa contra a janela fria.
"Sean," a voz de Christina era doce como mel com preocupação, "talvez seja por causa da minha presença? Eu poderia sair aqui, e você pode levar a Angela ao hospital? A condição dela parece séria, não devemos demorar."
"Não seja ridícula," Sean retrucou, embora seu tom suavizasse enquanto continuava. "Isso não tem nada a ver com você."
Eu vi o olhar perfeitamente ensaiado de contrição de Christina no reflexo da janela.
"Angela, peço desculpas se eu entendi errado. Achei que você pudesse estar desconfortável por causa do meu relacionamento com o Sean." Christina se fazia de vítima, fingindo estar magoada.
"Está tudo bem." Eu disse friamente.
A mão de Sean se moveu em direção à minha testa, mas eu me afastei antes que ele pudesse fazer contato.
A dor que passou pelo rosto dele desapareceu tão rapidamente.
"Eu conheço uma clínica particular," Christina ofereceu após um momento de silêncio tenso.
"Dr. Thomas Carter – ele é absolutamente brilhante, muito discreto. Sem salas de espera, sem publicidade."
As sobrancelhas de Sean se franziram. "Carter? Quais são as credenciais dele?"
"Harvard Medical, o melhor da turma." O sorriso de Christina era conhecedor, íntimo. "Ele cuida da maioria das situações mais delicadas do Upper East Side. O especialista em coração da Elizabeth até consultou com ele sobre a cirurgia dela."
A menção da avó de Sean trouxe outra onda de culpa em mim. Aqui estava eu, carregando o tão desejado bisneto dela, enquanto planejava me divorciar do neto dela.
A ironia teria me feito rir se eu não estivesse tão focada em não vomitar em um carro que valia mais do que o salário anual da maioria das pessoas.
Sean me estudou por um longo momento antes de acenar com a cabeça.
"Está bem. Peter, mudança de planos. Clínica do Dr. Carter na East 76th."
A clínica ocupava os dois primeiros andares de uma casa impecável, sua discreta placa de latão sendo a única indicação de que não era apenas outra residência multimilionária.
A mão de Christina no meu cotovelo enquanto entrávamos parecia uma marca, sua atenção solícita mais sufocante do que a febre.
Tentei não me encolher quando o médico levantou o termômetro, mas meu corpo me traiu com um passo involuntário para trás.
A mão de Sean apareceu na base das minhas costas, me estabilizando. O gesto parecia dolorosamente familiar - um eco de preocupação genuína de um homem que em breve seria meu ex-marido.
"39 graus," anunciou o Dr. Carter depois de finalmente conseguir medir minha temperatura. "Ainda não é perigoso, mas está indo nessa direção. Gostaria de começar um soro intravenoso para baixar a febre e prevenir a desidratação."
"Não." A palavra saiu afiada, em pânico. Um soro significava exames de sangue. Exames de sangue significavam hormônios de gravidez. Hormônios de gravidez significavam...
"Angela." A voz de Sean tinha um tom de advertência. "Não seja difícil."
"Sem agulhas," insisti, odiando como minha voz soava fraca. "Apenas... o que você puder prescrever por via oral."
Os olhos do Dr. Carter piscavam entre Sean e eu, a máscara profissional firmemente no lugar. "Existem outros métodos de resfriamento que podemos tentar, embora sejam menos eficientes. Christina, você se importaria de ajudar minha enfermeira a preparar os cobertores de resfriamento?"
"Claro." Ela apertou o braço de Sean ao passar - um gesto casual que dizia muito sobre o nível de conforto entre eles.
Fechei os olhos, não querendo ver a reação de Sean. O quarto parecia estar girando lentamente, embora eu não conseguisse dizer se era por causa da febre ou do cansaço emocional.
"Sra. Shaw," a voz do Dr. Carter era cuidadosamente neutra, "você prefere discutir suas opções de tratamento em particular?"
"Não será necessário," consegui responder. "O que você achar melhor, contanto que não envolva agulhas."
Sean fez um som de frustração. "Isso é ridículo. Você nunca teve problemas com procedimentos médicos antes."
Antes de eu estar carregando seu filho, pensei amargamente.
"Os cobertores de resfriamento estão prontos," anunciou Christina, retornando com a mesma pontualidade perfeita que ela sempre parecia ter.
Claro que ela saberia lidar com equipamentos médicos - a futura Dra. Jordan, salvadora de Sean Shaw, tinha que manter sua imagem de competência.
"A febre está baixando," anunciou finalmente o Dr. Carter. "Mas ela precisa de descanso - descanso de verdade, não aquele que envolve checar e-mails na cama."
"Eu vou garantir isso," disse Sean.
"Eu posso ficar com ela," ofereceu Christina. "Minha rotação não começa até a próxima semana, e não seria nenhum problema..."
"Isso não é necessário," Sean a interrompeu. "Eu cuido disso."
A surpresa no rosto de Christina espelhava a minha.
Nunca pensei que Sean iria querer cuidar de mim ele mesmo.
"Vamos te levar para casa," ele disse calmamente, me ajudando a levantar.
O mundo balançou, e eu agarrei seu braço para me equilibrar. Ele me estabilizou sem comentar, sua mão quente através do tecido fino da minha blusa.
Fechei os olhos enquanto Sean me ajudava a entrar no carro.
Pelo menos meu segredo ainda estava seguro.