




Capítulo 4: Advertência
Forcei-me a ficar parada, lutando contra a vontade de abraçar a mim mesma. A sala de exames, apesar de seus equipamentos de última geração e superfícies impecáveis, parecia mais uma casa de leilões onde mercadorias eram inspecionadas antes da venda.
"Pressão arterial normal. Sem sinais de lesões ou condições anteriores." O médico falava diretamente com Daisy, como se eu nem estivesse ali. "Condição física excepcional, como esperado de uma atleta."
Eu poderia muito bem ser um cavalo premiado sendo avaliado para reprodução. O pensamento fez a bile subir na minha garganta.
Daisy assentiu. "E os outros requisitos?"
"Tudo certo." O médico entregou a ela um envelope lacrado. "Ela atende a todas as especificações."
Especificações. Como se eu fosse um produto com uma lista de características. Mordi o interior da bochecha até sentir o gosto de sangue, usando a dor aguda para manter minha expressão neutra.
"Excelente." O sorriso de Daisy não chegou aos olhos. "Pode se vestir agora, Jasmine."
Minhas mãos tremiam enquanto eu colocava minhas roupas de volta.
O Bentley deslizava pelas ruas, suas janelas escuras nos separando do mundo exterior. Daisy sentava ao meu lado, mexendo no celular. Eu olhava para meu reflexo na janela, mal me reconhecendo.
"A próxima etapa é a prova do vestido," anunciou Daisy sem levantar os olhos. "A Bergdorf's liberou a suíte nupcial para nós."
Eu queria gritar que não queria os vestidos deles, o dinheiro deles, o luxo falso construído sobre violência. Em vez disso, perguntei baixinho, "Eu tenho alguma escolha no que vou vestir?"
A risada de Daisy. "Oh, querida. Você aprenderá que tudo o que fazemos é para o seu próprio bem. O nome Mitchell carrega certas expectativas."
O resto da viagem passou em silêncio. Voltei a olhar pela janela, vendo meu reflexo no vidro. Mal me reconhecia. Meu cabelo estava penteado, meu rosto maquiado. Pensava em Thomas e nossa última conversa, o que ele pensaria se pudesse me ver agora?
O pessoal da loja nos cercou no momento em que entramos. Vestido após vestido foi trazido.
"Vire-se," comandou Daisy.
Fiz o que me foi dito, girando lentamente enquanto os vendedores me circulavam como abutres, discutindo meu corpo como se eu não estivesse ali.
"Os ombros dela são perfeitos para este corte."
"Com o tom de pele dela, o marfim é melhor que o branco puro."
"O comprimento da cauda é ideal com a altura dela."
Esse era o quinto vestido de noiva que eu experimentava, cada um mais elaborado que o anterior. O peso do corpete bordado parecia correntes, a renda delicada como uma teia me prendendo.
Daisy inclinou a cabeça, me estudando criticamente. "Sim, esse é o certo. Projeta exatamente a imagem que queremos."
Olhei para meu reflexo no espelho triplo. Uma estranha me olhava de volta – uma estranha vestida de seda branca e tule.
De volta à mansão, Daisy parou no saguão. "Amanhã, escolheremos o bolo de casamento. Se você continuar se comportando adequadamente, talvez até tenha alguma opinião na escolha."
Ela falava comigo como se eu fosse uma criança sendo oferecida um doce por bom comportamento.
"Obrigada," forcei a dizer.
"Seu casamento será o evento social da temporada," ela continuou. "A família Mitchell faz tudo com perfeição."
Inclusive comprar adolescentes? Eu queria perguntar. Mas lembrei das ameaças de William e fiquei em silêncio.
No meu quarto, sentei no banco da janela, pressionando a testa contra o vidro frio.
Pensei em Thomas. Quanto eu queria poder falar com ele agora. Ele me conhecia melhor do que ninguém, e mesmo de longe, eu sabia que ele poderia me confortar. Mas eu não podia ser tão egoísta. No sábado, eu pertenceria a este lugar, carregando um nome que nunca quis. Eu não podia machucá-lo mais do que já havia machucado. Ele precisava me esquecer.
Sentada sozinha na cama, uma inquietação tomou conta de mim. Eu precisava fazer algo, qualquer coisa. Não podia querer que eu ficasse trancada no meu quarto o dia todo. O corredor do lado de fora estava silencioso quando saí, seguindo pelo grande corredor até me encontrar em um espaço que parecia ser uma combinação de sala de jantar e sala de estar.
O espaço estava impecavelmente decorado, mas o que chamou minha atenção foram as fotos de família alinhadas em uma parede. Me aproximei, estudando os rostos. No maior retrato, reconheci Daisy e seu marido Richard, posando orgulhosamente com seus filhos - dois filhos bonitos e uma filha linda.
Um movimento chamou minha atenção. Uma empregada estava espanando os quadros, seus movimentos rápidos e eficientes. Ela se virou, e eu vi seu crachá: Ruby.
"Oi," disse suavemente. "Você poderia me dizer qual deles é o Louis?"
Ela apontou para uma foto onde ele estava sozinho, de terno, parecendo excepcionalmente cativante.
Me peguei olhando para a fotografia por mais tempo do que pretendia.
Mesmo em uma foto, Louis Mitchell comandava atenção—suas maçãs do rosto afiadas contrastavam com seu rosto bem barbeado, sua pele com tom de mel e lábios rosados pareciam convidativos, seu nariz reto, e aquele cabelo castanho escuro espesso. Um corte de cabelo simples, mais longo no topo, dando volume. Ele devia ter pelo menos 1,93m, vestindo um terno preto ajustado de algum estilista, combinado com uma gravata cinza-prateada. Seus músculos preenchiam o terno, seus ombros largos.
Não posso negar que ele é bonito, mesmo que eu esteja um pouco nervosa só de olhar para essa foto, e se ele não fosse meu comprador, acho que estaria apaixonada por ele.
"Como ele é?" perguntei antes de conseguir me conter. "O Louis, quero dizer."
O sorriso gentil de Ruby desapareceu instantaneamente. Suas mãos começaram a se mover rapidamente e ansiosamente, me avisando para não fazer tais perguntas. O medo que brilhou em seus olhos fez meu estômago se revirar com um enxame de borboletas.
“Eu só queria—” comecei a explicar, mas Ruby balançou a cabeça rapidamente, pressionando o dedo contra os lábios em um gesto para silêncio. Quando tentou se expressar novamente, suas mãos tremiam.
“Desculpe, não entendo o que você está tentando dizer…” pausei, observando sua boca se abrir.
O medo me enraizou no lugar. No lugar onde sua língua deveria estar, havia apenas um vazio. Por que isso estava acontecendo? Aquele vazio parecia um buraco negro, me engolindo inteira.
“O que aconteceu?” sussurrei, embora não tivesse certeza se queria saber.
As mãos de Ruby tremiam enquanto ela imitava falar, depois fez um gesto de corte na boca. Seus olhos estavam cheios de lágrimas enquanto apontava para sua língua ausente e então gesticulava para a boca novamente. A mensagem era dolorosamente clara—ela havia dito algo que não deveria, e essa foi sua punição; sua língua havia sido cortada.
Meu coração batia tão violentamente que mal conseguia respirar. Este é o verdadeiro rosto da família Mitchell? É isso que eles fazem com aqueles que falam fora de hora?
Se eu fizesse algo que eles considerassem inapropriado, me tratariam da mesma maneira, cortando partes do meu corpo como fizeram com Ruby? Jesus, parecia que eu tinha tropeçado em um inferno!
Eu precisava sair daqui! Ainda tinha meus sonhos; não podia ficar sentada esperando pelo meu destino. Mas como poderia escapar? Cada janela que via tinha câmeras de vigilância, cada porta estava guardada. Eles estavam monitorando cada movimento meu.
Ruby agarrou meu braço com força, seus olhos cheios de aviso, e depois se apressou para sair. Fiquei ali, atordoada, olhando para a foto de Louis na parede. Mesmo seu rosto bonito não podia me oferecer consolo agora. Em menos de uma semana, eu me casaria com ele. Casar com essa família me fazia sentir como se estivesse mergulhando em um poço de gelo.
Eu tinha que encontrar uma maneira de escapar.