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Capítulo 2

— Paulo, você ama aquela bastarda mais do que seus próprios filhos. — A mãe de Isabella gritou euforicamente.

— Laura, você precisa parar com essas insanidades. Eu amo todos os meus filhos legitimamente e igualmente. — O pai de Isabella tentou acalmar a mulher que estava ficando cada vez mais descontrolada.

— Quem sabe se essa menina não é sua filha legítima com aquela vadia? Eu não duvidaria, com tanto amor que você oferece a ela. — Laura questionou.

— Mulher, olha o que você está dizendo. É um absurdo. Não posso ficar aqui ouvindo suas baboseiras por mais tempo.

— Vá para a rua, seu canalha, é o que você faz de melhor, fugir dos assuntos importantes da família. MALDITO SEJA!

A mulher pegou a primeira coisa que estava na sua frente e atirou em Paulo, acertando a parede e fazendo um barulho estridente de vidro quebrado.

— É isso? Eu sou louca? Agora você vai ver quem é louca.

Enquanto Laura e Paulo trocavam farpas na sala, e na cozinha, Isa se dirigiu ao seu quarto, pressionando os ouvidos entre dois travesseiros tentando abafar o som da desordem que frequentemente ocorria em sua casa.

Isabella, desde muito jovem, sonhava com um refúgio, um lugar onde pudesse escapar da dor que sentia em casa. Ela buscava alívio temporário na escola, dedicando-se aos estudos e refugiando-se nas histórias que encontrava nos livros. No entanto, a escola não era suficiente para tirá-la do caos que a cercava. Prestar atenção nas aulas, com a confusão mental que residia na cabeça da pequena menina adotada, parecia uma tarefa impossível.

Os professores estavam em constante conflito com os pais de Isabella, chamando-os para comparecer à escola e prestar atenção ao desenvolvimento decrescente da filha. No entanto, a mãe de Isa sempre prometia melhorar, mas assim que saía da escola, empurrava a menina na sua frente e imediatamente começava a repreendê-la.

— Você vê como você arruína a vida da nossa família? Bastarda. — Laura segurava a menina pelos cabelos. — Anda logo, está morrendo? Antes de você, tínhamos paz; só recebíamos elogios da escola. Agora você causa problemas e me faz ir à escola frequentemente. MALDITA, BASTARDA. — Laura terminava com um resmungo amaldiçoado.

A menina não tinha voz para falar, reclamar ou mesmo chorar. Ela simplesmente abaixava os olhos, fixava o olhar nas pontas dos dedos que espiavam pela frente desgastada de seus tênis esfarrapados, e deixava as lágrimas escorrerem sem fazer barulho.

“Será que viver com minha mãe me daria amor, paz e um novo par de sapatos?" eram perguntas que frequentemente cruzavam os pensamentos de Isabella. Ela não sabia por que sua mãe biológica a havia abandonado assim que nasceu.

À medida que crescia, Isabella experimentava fugas desesperadas de seu lar adotivo. Ela corria para as ruas escuras da cidade, onde encontrava outros jovens igualmente abandonados. Lá, ela começou a aprender lições de sobrevivência que não faziam parte dos livros que lia. Ela se envolveu com uma gangue local, que lhe proporcionava um senso de pertencimento que nunca havia sentido antes.

— Bam! — Isa começou uma reflexão ao lado de sua melhor e maior companheira nas ruas, Paloma. — Eu juro para você, um dia vou me casar com um homem rico, ter filhos lindos e felizes. Seremos uma família com paz, união e amor; eu prometo.

— Amiga, para de sonhar acordada. — Paloma respondeu com um choque de realidade. — Nas nossas condições? A única coisa que podemos conseguir é um sugar daddy ou virar garota de programa de luxo.

— Ugh... nem pra você me dar um incentivo, sua danada. — Isabella respondeu e deu um empurrão na amiga. As duas caíram na risada com essas conversas. Com o tempo, Isa se sentia confortável com as pessoas que conhecia e as coisas que faziam, mesmo sabendo que era errado. Ela tinha um imenso senso de justiça, como se estivesse descontando todo o sofrimento que havia suportado em qualquer um que cruzasse seu caminho.

Aos 13 anos, Isa começou suas atividades. Foi uma vingança contra um homem de quase 50 anos. Isa e seu grupo voltaram no mesmo dia, no período sombrio da noite que precedia, e levaram tudo o que o velho tinha no caixa. O velho tentou chamar ajuda, mas Isabella usou sua inteligência e sedução para ameaçá-lo.

— Chama a polícia, seu velho nojento, eles vão adorar saber que você assediou uma menina de treze anos pedindo para ir pra cama com você em troca de pagamento. Vai, chama a polícia. — Isabella, aos treze anos, já era imponente e tempestuosa.

O velho abaixou a cabeça e manteve as mãos na nuca, Isabella sentiu algo que nunca havia sentido antes. A adrenalina corria pelo seu corpo, seus pulmões liberavam o ar que parecia preso há muito tempo, era como se as correntes que a seguravam tivessem caído no chão. Isabella se sentiu completamente livre e realizada.

O mundo nas ruas se tornou o refúgio de Isabella, onde ela podia esconder a dor do abandono de sua mãe biológica e a agressão e desprezo de sua mãe adotiva. Ela se imergiu em atividades ilegais, buscando a adrenalina e o senso de poder que o mundo do crime proporcionava.

À medida que Isabella se aprofundava nesse mundo sombrio, sua vida se tornava cada vez mais perigosa. Ela sabia que precisava se encontrar, mas sentia que não tinha outra escolha. Era a única maneira que havia encontrado para lidar com sua dor e desespero.

No entanto, por trás da fachada dura que havia construído, Isabella continuava sendo a mesma menina ferida ansiando por amor e aceitação. Ela estava presa em um ciclo de autodestruição, buscando desesperadamente uma fuga do pesadelo que sua vida havia se tornado.

Aos 15 anos, o pai de Isabella a encontrou em um beco, caída como um cachorro de rua. Isabella estava tão fora de si que não reconheceu o pai e o atacou.

Paulo levou a filha para uma clínica de reabilitação, onde ela não ficou por muito tempo. Isabella era astuta e não deixava ninguém segurá-la onde não queria estar. Usou seu poder de sedução, encantou o porteiro da clínica e pegou a chave sem que ele percebesse. No dia seguinte, o rapaz ficou se perguntando como uma menina de quinze anos o havia enganado e fugido, então inventou uma história de que havia perdido a chave enquanto usava o banheiro. Desde então, Isabella vivia nas ruas.

Nas sombras impenetráveis das ruas, onde as fachadas brilhantes da cidade davam lugar a becos escuros e sinistros, a vida continuava seu curso implacável. Na cidade de Palhoça, em meio aos seus contrastes extremos, onde o brilho do sucesso rivalizava com a escuridão do mal, a história de Isabella começou a se desenrolar.

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