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Capítulo 1: O convite sinistro

O barulho na porta da frente me acordou de repente. Sentei-me na cama, com o coração disparado. Quem poderia estar batendo na nossa porta a essa hora? Olhei para minha irmãzinha Amy, ainda dormindo profundamente apesar do barulho. Minha outra irmã, Sarah, não estava na cama que compartilhávamos. Ela já devia estar acordada.

Saí da cama e encostei o ouvido na porta do quarto. Vozes abafadas vinham do andar de baixo. Não consegui entender o que diziam, mas o tom parecia urgente.

Respirei fundo, girei a maçaneta e entrei no corredor. O piso de madeira velha rangia sob meus pés descalços enquanto eu me dirigia ao topo da escada. Abaixando-me, espreitei entre os balaústres.

Dois homens estavam na nossa entrada, vestidos com ternos sob medida. Sarah falava com eles em tons baixos enquanto nossos pais observavam nervosamente da sala de estar. Esforcei-me para ouvir a conversa.

"...não sabia, eu juro!" Sarah insistia, torcendo as mãos. "Não temos notícias dela há semanas."

Um dos homens, alto, com cabelo preto e liso, balançou a cabeça. "O Sr. Bianchi não acredita em coincidências. Ele nos enviou aqui para obter respostas."

Sr. Bianchi. O nome era infame nesta cidade. Ele era o líder implacável da família mafiosa mais perigosa da região. O que ele poderia querer conosco?

Os olhos de Sarah estavam arregalados, seu rosto pálido. "Certamente deve haver algum engano—"

O homem a interrompeu. "O Sr. Bianchi não costuma cometer erros." Ele estendeu um envelope selado com um emblema de cera—um ramo de beladona. "Isto é para você. Voltaremos amanhã para sua...resposta."

Com isso, os homens se viraram e saíram da casa, deixando a porta da frente bater atrás deles. Sarah ficou paralisada, com o envelope na mão, enquanto mamãe e papai corriam até ela.

"O que é, querida? O que eles queriam?" Mamãe perguntou, ofegante.

Com as mãos trêmulas, Sarah quebrou o selo e desdobrou a carta dentro. Os três se agruparam para lê-la, seus olhos se arregalando a cada linha.

Eu já tinha visto o suficiente. Movendo-me o mais silenciosamente possível, corri de volta para o quarto que compartilhava com Amy. Minha irmãzinha estava começando a se mexer.

"Lily? O que está acontecendo?" ela murmurou sonolenta.

"Shh," sussurrei, pressionando um dedo contra meus lábios. Balancei a cabeça, não querendo assustá-la. "Volte a dormir. Está tudo bem."

Mas não estava. Nada estava 'bem' desde que perdemos Rose há seis meses. A melhor amiga e confidente mais próxima de Sarah, morta em um trágico acidente. Sarah ficou inconsolável por semanas. Ela ainda chorava à noite quando achava que ninguém podia ouvir.

E agora essa visita dos Bianchis ao amanhecer, exigindo respostas que aparentemente não tínhamos. A reputação do Sr. Bianchi o precedia. O que quer que ele quisesse, recusar não era uma opção.

Sentei na beira da cama, ouvindo as vozes abafadas do andar de baixo. O tom ficou mais acalorado à medida que a voz de Sarah se elevava a um tom histérico. Depois do que pareceu uma eternidade, passos pesados soaram na escada. A porta do meu quarto se abriu com força, e Sarah entrou com raiva nos olhos.

"Você!" ela sibilou, apontando para mim. "Isso é tudo culpa sua!"

Recuei, atordoada com seu veneno. "Do que você está falando?"

"Não se faça de boba. Eu sempre soube que você tinha inveja da minha amizade com Rose. E agora você arruinou tudo!"

"Sarah, acalme-se. Eu não faço ideia do que você está falando." Tentei argumentar com ela, mas ela estava além de ouvir.

Mamãe e papai apareceram na porta, com expressões sombrias. Papai continuava torcendo as mãos enquanto mamãe tentava acalmar Sarah.

"Por favor, querida, ainda não sabemos de nada com certeza. Talvez a carta tenha sido um engano. Podemos resolver isso."

Mas Sarah estava inconsolável, chorando no ombro de mamãe. Olhei entre eles, desamparada, completamente perdida. O que havia naquela carta?

Finalmente, papai deu um passo à frente, pigarreando. "Meninas, há algo...algo que sua mãe e eu precisamos discutir com vocês duas." Sua voz era grave.

Amy se sentou na cama, olhando ao redor confusa. "Papai, você está me assustando. O que está acontecendo?"

"Shh. Venha aqui, querida." Ele abriu os braços e Amy correu para abraçá-lo apertado. Sarah continuava a chorar.

Quando todos nos reunimos, papai se abaixou na cadeira de balanço perto da janela. A luz crescente da manhã iluminava as linhas de preocupação em seu rosto. Percebi pela primeira vez como ele parecia velho e frágil.

"Meninas, o que tenho para lhes contar será um choque," ele começou pesadamente. "Receio que estivemos escondendo algo de vocês. Algo sobre...sobre Rose."

A cabeça de Sarah se ergueu, com rímel escorrendo pelo rosto. "O que sobre ela?" ela exigiu.

Papai voltou seu olhar para a janela. "Rose...Rose não era quem vocês pensavam que ela era. O nome verdadeiro dela era Rosa Bianchi. Filha do Sr. Bianchi."

O quarto ficou em silêncio absoluto enquanto as palavras dele afundavam. Filha do Bianchi? Rose? Não parecia possível. Rose tinha sido a melhor amiga de Sarah por anos. Certamente ela teria contado a verdade.

Amy foi a primeira a falar, com a voz pequena. "Eu não entendo. Por que ela mentiria sobre quem era?"

"Para proteção, imagino," disse mamãe, baixinho. "Você consegue imaginar o perigo que ela estaria se sua verdadeira identidade fosse conhecida?" Ela olhou diretamente para Sarah. "Suspeito que ela manteve isso em segredo para proteger você tanto quanto a si mesma."

"Não. Não, eu não posso acreditar!" Sarah chorou. "Ela não teria mentido para mim! Ela confiava em mim!"

Meu coração se partiu por minha irmã. Ela e Rose eram tão próximas, como irmãs. Descobrir que tudo tinha sido uma farsa era um golpe devastador.

Fui até ela e coloquei uma mão reconfortante em seu ombro. Para minha surpresa, ela se afastou do meu toque.

"Não toque em mim!" ela sibilou. "Isso é culpa sua! Se você não tivesse matado Rose, nada disso estaria acontecendo!"

Eu recuei, chocada com a acusação. "Matado ela? Você está louca?"

Os olhos de Amy estavam arregalados. "Você acha que Lily teve algo a ver com o acidente de Rose?"

"Não foi um acidente!" Sarah gritou. "Eu sei que você sempre a odiou, Lily. Você tinha inveja do que tínhamos! E agora... agora..." Ela se dissolveu em lágrimas novamente.

Meu coração disparou. Será que ela realmente acreditava nisso? Que eu tinha assassinado sua melhor amiga por ciúmes mesquinhos?

"Chega!" disse papai firmemente. "Ninguém matou Rose. Foi um acidente trágico, nada mais. Agora, precisamos nos concentrar na situação atual."

Ele ergueu a carta que havia desencadeado toda essa confusão. Seu rosto estava sombrio.

"Os homens do Sr. Bianchi voltarão amanhã para nossa resposta. A morte de Rose criou uma situação complicada. Com a única filha do Sr. Bianchi morta, isso deixa uma... uma vaga que precisa ser preenchida."

Um frio gelado me percorreu. Não. Eles não poderiam esperar...

Os ombros de papai caíram em derrota. "Receio que uma de vocês meninas terá que ocupar o lugar de Rose na família Bianchi."

Amy engasgou. Sarah soltou um soluço estrangulado. Eu fiquei paralisada, minha mente correndo.

Entrar para a máfia mais perigosa da cidade? Eu, Amy ou Sarah? Era impossível. Suicida.

Mamãe envolveu Sarah e Amy em seus braços. "Certamente deve haver outra maneira," ela implorou a papai. "Nossas meninas não podem ser obrigadas a pagar esse preço pela morte de Rose."

O rosto de papai estava sombrio. "Receio que recusar não é uma opção. Se negarmos a exigência do Sr. Bianchi..." Ele engoliu em seco. "Bem, temo o que aconteceria com esta família."

Um silêncio pesado encheu o quarto. Eu vacilei, instável nos pés. Isso tinha que ser um pesadelo do qual eu acordaria.

Finalmente, Sarah levantou a cabeça. Seus olhos perfuraram os meus, frios como gelo.

"Lily fará isso," ela declarou. "É o certo."

Todos os olhos se voltaram para mim. Balancei a cabeça em silêncio, incapaz de formar palavras. Certamente ela não queria dizer...

Papai piscou rapidamente, o sofrimento claro em seu rosto. "Sarah, você não pode pedir que sua irmã se sacrifique. Não quando foi sua amiga..."

Sarah o interrompeu bruscamente. "Já está decidido. Lily ocupará o lugar de Rose." Seu lábio se curvou em desgosto enquanto olhava para mim. "Uma vida por uma vida."

Não. Isso não podia ser real. Eles não podiam esperar que eu entrasse no ninho de víboras da máfia. Mas ao olhar para os rostos da minha família, não vi nenhuma trégua. Amy parecia confusa e chateada com o decreto de Sarah. Mamãe apenas parecia resignada, com os olhos baixos. E papai... papai parecia desmoronar diante dos meus olhos, o peso do desespero o deixando incapaz de argumentar.

Eu queria gritar, chorar, lutar contra a injustiça de tudo isso. Mas sabia que era inútil. Uma vez que Sarah tomava uma decisão, não havia como demovê-la. E com a ameaça dos Bianchis pairando, ela tinha toda a alavancagem necessária para me forçar a esse pesadelo.

Enquanto eu estava ali, olhando para minha irmã que claramente me desprezava, uma coisa ficou cristalina. Se eu tivesse alguma chance de sobreviver a essa provação, seria por conta própria. Não poderia esperar misericórdia ou proteção de Sarah. Ela me entregaria de bom grado aos lobos para absolver sua própria culpa pela morte de Rose.

Não sei como, mas naquele momento algo endureceu dentro de mim. Se esse fosse meu destino, que assim fosse. Mas eu não iria sem lutar. O Sr. Bianchi e seus comparsas podem pensar que sou apenas um peão a ser manipulado, mas eles não faziam ideia de com quem estavam lidando.

Deixem que me subestimem. Jurei naquele momento fazer o que fosse necessário para suportar essa prova e emergir do outro lado, onde quer que isso me levasse. Mesmo que significasse entrar sozinha na cova dos leões.

Então, fiquei ereta, levantei o queixo e encarei o olhar acusador de Sarah. "Como você quiser, irmã," disse com uma resolução tranquila. "Eu tomarei o lugar de Rose."

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