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Capítulo 3: O vínculo começa

A noite caiu sobre Silver Hollow, tingindo o céu de um azul cada vez mais profundo. As sombras se alongavam e se adensavam nas bordas da vila enquanto Callan esperava ao lado da velha torre de vigia, sua postura tensa, mas alerta. Ele podia ouvir os murmúrios distantes da alcateia enquanto seguiam suas rotinas noturnas, alheios aos seus planos para aquela noite. Ele não tinha certeza do que esperava de Liana—ou, mais honestamente, de si mesmo.

A floresta ao seu redor se agitou, e ele captou o cheiro dela antes de vê-la: traços sutis de terra e ervas selvagens, com algo mais afiado misturado, como uma borda oculta. Ela emergiu das árvores, seus movimentos precisos e silenciosos, uma facilidade prática na maneira como se movia.

"Você está no horário," ele comentou, mascarando seu alívio com um tom casual.

Ela deu de ombros, seu olhar firme. "Eu disse que estaria aqui. Eu cumpro minha palavra."

Callan assentiu, silenciosamente satisfeito com sua consistência. "Esta noite, vamos patrulhar a fronteira norte. É a área mais isolada, mais próxima de onde os caçadores podem tentar passar." Ele a olhou fixamente. "Não é a rota mais fácil."

"Ótimo," ela respondeu simplesmente, erguendo o queixo. "Eu não vim aqui para o fácil."

Um lampejo de algo—admiração, talvez—passou por seus olhos, mas ele afastou, gesticulando para que ela o seguisse. Juntos, seguiram por uma trilha estreita que serpenteava por entre densos aglomerados de árvores e moitas. Moviam-se em silêncio, seus passos firmes e rítmicos, um acordo tácito se estabelecendo entre eles. Não era exatamente confiança, mas algo próximo o suficiente por enquanto.

Quando chegaram a uma elevação com vista para o vale, Callan parou, examinando o horizonte. Liana se juntou a ele, sua expressão calma, mas atenta. "É aqui que eles tentariam entrar?" ela perguntou, sua voz mal acima de um sussurro.

"Sim," ele respondeu, acenando com a cabeça em direção à linha escura de árvores à distância. "Os caçadores geralmente ficam nos caminhos mais baixos, mas ultimamente têm sido... mais ousados. Havia rastros frescos há apenas um dia."

"Rastros?" Seus olhos se estreitaram, um lampejo de preocupação nublando seu olhar. "Quão perto?"

"Perto o suficiente," ele disse sombriamente. "Perto demais."

Ela ficou em silêncio, absorvendo isso, seu olhar fixo na paisagem que escurecia. "É só uma questão de tempo, então."

Ele estudou seu perfil, a linha de seu maxilar tensa, sua boca em uma linha dura. "Você já lidou com eles antes," ele observou, as palavras mais uma afirmação do que uma pergunta.

Seu maxilar se contraiu, mas ela assentiu. "Mais do que eu gostaria de lembrar." Ela hesitou, então acrescentou, "Eles são implacáveis. Uma vez que encontram até mesmo um indício de nós, não param. Não até conseguirem o que querem—ou até que algo os pare."

"Então nós vamos pará-los," Callan respondeu, sua voz marcada por uma determinação quieta e inflexível. "Ninguém ameaça minha alcateia e sai impune."

Liana encontrou seu olhar, seus olhos escuros e pensativos. "Sua lealdade é profunda," ela disse suavemente, quase como se testasse as palavras.

"É tudo o que eu sempre conheci." Ele olhou de volta para o vale, sua expressão sombria. "Dever. Lealdade. Proteger aqueles que não podem se proteger. É... é tudo."

Os lábios dela se curvaram em um sorriso tênue, quase nostálgico. "Eu me lembro de como era isso," ela murmurou, mal alto o suficiente para ele ouvir.

Ele se virou para ela, captando a tristeza em seu tom, o lampejo de algo cru e oculto. "O que aconteceu?" ele perguntou, a pergunta escapando antes que pudesse se conter.

Por um momento, ela desviou o olhar, a vulnerabilidade em seu olhar endurecendo em aço. "O que sempre acontece," ela disse, sua voz tensa. "As pessoas traem o que não entendem. E destroem o que não podem controlar."

O peito de Callan apertou, reconhecendo uma dor que espelhava a sua de maneiras que ele não esperava. Ele conhecia a traição, embora raramente falasse sobre isso; ele tinha visto a confiança ser destruída sob o peso do medo e da suspeita, e carregava as cicatrizes em silêncio.

Antes que ele pudesse responder, um estalo repentino de um galho ecoou de baixo, agudo e inconfundível. Ambos congelaram, seus sentidos se concentrando na direção do som.

Os olhos de Callan encontraram os de Liana, uma compreensão silenciosa passando entre eles. Em um instante, eles se posicionaram defensivamente, músculos tensos e prontos.

"O que é?" ela sussurrou, sua voz mal um sopro.

"Alguém está aqui," ele respondeu, sua voz baixa, todos os traços de sua vulnerabilidade anterior desaparecendo diante dessa nova ameaça.

Outro som—um leve farfalhar, muito deliberado para ser um animal. A mão de Callan instintivamente foi para o lado, onde uma lâmina estava escondida. Ele gesticulou para Liana ficar para trás, mas ela balançou a cabeça, a teimosia brilhando em seus olhos.

"Não seja tola," ele murmurou, mas ela apenas sorriu, erguendo o queixo.

"Dois contra um soa melhor do que um sozinho," ela sussurrou, seu tom carregado de uma resolução silenciosa.

Eles se moveram como um só, deslizando silenciosamente pela vegetação rasteira até que avistaram um movimento à frente. Uma figura, encapuzada e agachada, permanecia na borda de seu território, estudando a floresta com um foco intenso que fez os dentes de Callan rangerem.

Os olhos de Liana se estreitaram, seu corpo tenso de antecipação. Ela olhou para Callan, aguardando silenciosamente seu sinal, e ele deu um aceno firme. Juntos, eles se aproximaram, rápidos e silenciosos, seus passos um contraponto perfeito um ao outro.

Quando estavam perto o suficiente, Callan deu um passo à frente, sua voz fria e autoritária. "Você está em terra restrita," ele anunciou, suas palavras cortando o silêncio como uma lâmina. "Diga seu propósito, ou vá embora. Agora."

A figura se virou, surpresa, mas não o suficiente para esconder a raiva que brilhava em seus olhos. Ele murmurou algo entre dentes, então girou nos calcanhares e desapareceu nas sombras, rápido demais para que eles o seguissem.

Liana exalou, a tensão escapando de seus ombros enquanto encontrava o olhar de Callan. "Um aviso, talvez?"

A expressão de Callan endureceu. "Mais como uma promessa."

Eles ficaram em silêncio, a floresta pesada ao redor deles, ambos cientes de que aquilo era apenas o começo.

O ar da noite ficou mais frio enquanto permaneciam na espessa quietude, cada um ouvindo a respiração da floresta ao redor. Callan manteve o olhar fixo no ponto onde o intruso havia desaparecido, seu maxilar cerrado, pensamentos correndo. A mera presença de um estranho tão profundamente em seu território era suficiente para enviar uma mensagem clara: alguém estava testando os limites, ousando ver até onde poderiam ir antes que Silver Hollow retaliasse.

A voz de Liana quebrou o silêncio, seu tom baixo. "Acha que ele vai voltar?"

"Mais do que provável," Callan respondeu, um tom sombrio em sua voz. "Caçadores não desistem facilmente, especialmente não quando são tão ousados."

Ela assentiu, seu olhar se voltando para onde o intruso havia escapado. "Então é um aviso. Ele queria que soubéssemos que estava aqui, para nos abalar."

"Talvez," Callan murmurou, embora algo sobre o encontro o incomodasse. Caçadores eram implacáveis, sim, mas não imprudentes. Isso parecia mais um sinal, uma promessa silenciosa de que havia mais por vir. A questão era quando—e se estariam prontos.

A voz de Liana o tirou de seus pensamentos. "Se ele voltar, quero estar lá."

Ele olhou para ela, surpreso com a intensidade em sua expressão. "Você não deve nada a esta alcateia," ele disse calmamente. "Por que se arriscar?"

Um lampejo de algo—raiva, talvez—cruzou seu rosto, mas ela rapidamente disfarçou. "Talvez eu não deva nada a eles," ela disse, seu tom firme. "Mas não sou do tipo que fica de braços cruzados assistindo a uma luta de fora. Não quando posso fazer a diferença."

Callan a estudou, vendo a determinação gravada em suas feições. Ele sabia que era inútil argumentar com alguém que já tinha decidido. "Tudo bem. Mas você fica perto, segue minha liderança. Sem riscos."

Um sorriso brincou no canto de sua boca. "Você acha que eu preciso de babá?"

Ele deu uma risada baixa e sem humor. "Acho que aprendi que se eu te disser para jogar seguro, você fará o oposto."

"Bom instinto," ela retrucou, seu tom leve, mas seu olhar firme. "Acho que isso significa que me encaixo bem aqui."

Ele sustentou seu olhar, um sorriso relutante surgindo em seus lábios. Havia algo estranhamente reconfortante em sua teimosia, na maneira como ela enfrentava cada desafio de frente. Isso o lembrava de seu próprio eu mais jovem e imprudente—um tempo antes do peso da liderança ter temperado seu fogo com cautela.

"Vamos," ele disse, voltando para a trilha. "Vamos terminar a patrulha. Certificar-nos de que nossas fronteiras estão limpas."

Eles caminharam em silêncio, seus movimentos em sincronia enquanto navegavam pelos caminhos sinuosos da floresta. Callan não podia negar o conforto da presença dela, uma facilidade inesperada que equilibrava sua constante vigilância. O silêncio entre eles não era vazio, mas preenchido com um entendimento tácito, um respeito mútuo que não precisava de palavras.

Quando se aproximaram da borda da vila, um uivo baixo e tenso ecoou da direção da fronteira norte. O corpo inteiro de Callan se enrijeceu, seus sentidos se aguçando com o som.

"É um dos nossos," ele disse, sua voz tensa. Sem outra palavra, ele começou a correr, com Liana seguindo de perto.

Eles chegaram à borda norte do território e encontraram Finn ao lado de dois outros lobos, suas formas meio transformadas, rostos sombrios e olhos alertas. Um dos lobos, um jovem chamado Jarek, virou-se para Callan, seu rosto pálido sob a luz do luar.

"Encontramos algo, Alpha," Jarek disse, sua voz mal firme.

"O que é?" Callan exigiu, examinando o chão ao redor em busca de qualquer sinal de perturbação.

Finn deu um passo à frente, seu olhar carregado de preocupação não dita. "Rastros, frescos. Humanos. Eles vieram do leste, perto do rio."

Callan sentiu uma onda de raiva enquanto estudava as impressões tênues na terra, sua mente correndo. Os rastros eram profundos, pesados—alguém estava observando, espreitando logo além de suas fronteiras. E eles chegaram perto o suficiente para fazer uma declaração, para mostrar que não tinham medo.

Liana se ajoelhou ao lado dele, seus olhos se estreitando enquanto examinava os rastros. "São recentes. E não estão sozinhos."

Callan olhou para ela, captando a mesma determinação sombria em seus olhos que espelhava a sua própria. "Então é hora de deixar claro que este não é o território deles," ele disse, sua voz fria.

Finn assentiu, uma resolução feroz em seu olhar. "Qual é o plano?"

Callan respirou fundo, sua mente se concentrando. "Vamos dobrar as patrulhas ao longo das fronteiras. Ninguém sai ou entra sem ser contabilizado." Seu olhar se voltou para Liana, um toque de respeito em seus olhos. "E vamos precisar de todos os lutadores capazes em alerta máximo."

Liana se levantou, uma força sutil em sua postura. "Então considere-me pronta."

Houve um momento de silêncio, um acordo tácito passando entre todos eles. Callan podia sentir o peso da decisão, os riscos que estavam assumindo ao se engajar, mas sabia que não tinham escolha. Proteger Silver Hollow significava lutar de volta, mostrando a quem quer que estivesse observando que eles não eram fracos nem vulneráveis.

Enquanto se preparavam para retornar à vila, Callan captou um último vislumbre dos rastros, cada um uma promessa do confronto que se aproximava no horizonte.

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