




Capítulo 2: A ameaça revelada
A luz da manhã invadiu Silver Hollow, filtrando-se pelas árvores densas e lançando longas sombras sobre a vila. Callan caminhava ao longo da borda da floresta, a mente pesada com a lembrança da canção da mulher forasteira. A voz dela ainda pairava em seus pensamentos, entrelaçando-se com seus sentidos como um sonho do qual ele não conseguia se livrar.
“Você acordou cedo,” a voz de Finn quebrou o silêncio. O Beta estava atrás dele, braços cruzados, o olhar afiado e curioso.
Callan se virou, captando o sorriso conhecedor de Finn. “Posso dizer o mesmo de você.”
Finn deu de ombros, o sorriso se alargando. “Quando o Alfa sai da cama para vagar pela floresta antes do amanhecer, eu fico um pouco curioso.”
Callan suspirou, passando a mão pelo cabelo escuro. “Não é nada. Apenas uma forasteira.”
As sobrancelhas de Finn se ergueram. “Uma forasteira? E você a deixou ficar?”
“Até o amanhecer.” O tom de Callan não deixava espaço para discussão, embora ele conhecesse Finn bem o suficiente para esperar alguma resistência.
“Movimento perigoso,” Finn respondeu, o rosto escurecendo. “Você sabe como a matilha se sente sobre os de fora. Especialmente com tudo o que está acontecendo.”
Callan não respondeu, seu olhar se desviando de volta para as árvores. Os últimos meses tinham sido tensos, cheios de sussurros sobre caçadores humanos espreitando perto de suas fronteiras, rumores de armas de prata forjadas para ferir sua espécie. Permitir uma forasteira em seu território — mesmo por uma noite — era um risco, mas algo em Liana o impedia de expulsá-la.
“Não me diga que você está amolecendo,” Finn brincou, a voz leve, mas os olhos afiados.
Callan lançou-lhe um olhar. “Ela não é uma ameaça. Pelo menos, ainda não.”
Finn suspirou, seguindo o olhar de Callan em direção à floresta. “Nem toda ameaça vem com dentes à mostra, você sabe. Algumas vêm com sorrisos. Ou canções.”
“Anotado,” Callan respondeu, embora não pudesse ignorar a verdade nas palavras de Finn. “Mas eu confio nos meus instintos, e eles estão me dizendo que ela não é nossa inimiga.”
“Instintos são uma coisa,” Finn murmurou, “mas a matilha vai querer respostas.”
“E eles as terão,” Callan garantiu, embora não soubesse que respostas daria.
Nesse momento, o som de folhas se mexendo chamou a atenção deles. Ambos os homens se viraram, músculos tensos, enquanto Liana emergia das sombras, o rosto inexpressivo, mas os olhos afiados e firmes. Ela parou a alguns passos de distância, cruzando os braços com uma quieta desafiadora que parecia natural para ela.
“Você ainda está aqui,” Callan observou, mantendo o tom controlado.
“O amanhecer está apenas começando,” Liana respondeu, um toque de desafio na voz. “Não sou de quebrar promessas.”
“Bom saber,” disse Callan, cruzando os braços. “Você mencionou ontem à noite que já tinha ouvido falar de Silver Hollow. Quer explicar como?”
Liana deu de ombros, embora houvesse tensão em sua postura. “As notícias circulam. Para quem sabe onde ouvir.”
“Interessante.” O olhar de Callan não vacilou. “O que mais você ouviu?”
Um lampejo de hesitação cruzou o rosto dela, mas ela se recuperou rapidamente, encontrando o olhar dele sem vacilar. “Que vocês têm uma matilha forte. Uma que permanece escondida. E que há alguns por aí que não gostam disso.”
A implicação pairou pesada no ar, e o rosto de Finn se contraiu ao lado de Callan. Todos sabiam dos riscos de serem descobertos por aqueles fora do seu mundo—especialmente humanos que os viam como pouco mais que monstros.
“E quanto a você?” Finn interveio, a voz carregada de suspeita. “Qual é o seu interesse em nós?”
Os lábios de Liana se curvaram em um pequeno sorriso sem humor. “Talvez eu estivesse apenas procurando um lugar onde finalmente pudesse parar de fugir.”
O olhar de Callan suavizou, embora ele mantivesse a expressão neutra. Havia um peso nas palavras dela, algo não dito que sugeria uma história que ele ainda não havia descoberto. “Fugindo de quê?”
O olhar dela oscilou entre eles, cauteloso. “Do mesmo que todos nós estamos fugindo—aqueles que acham que estamos melhor acorrentados ou pior.” A voz dela tinha um leve tremor, como se as palavras fossem extraídas de um poço profundo de dor e medo.
Finn abriu a boca para responder, mas Callan levantou a mão, sinalizando para ele parar. Ele podia ver a verdade nos olhos dela, o tipo de cicatrizes que eram profundas demais para serem mencionadas casualmente.
“Fique.” A palavra escapou de sua boca antes que ele pudesse pensar, surpreendendo até a si mesmo.
Os olhos de Liana se arregalaram brevemente, mas ela rapidamente controlou a expressão, levantando uma sobrancelha. “Não esperava por isso,” disse ela, embora a voz traísse um leve alívio.
“Nem eu,” murmurou Finn, embora tivesse o cuidado de manter a voz baixa.
Callan o ignorou, mantendo o olhar firme em Liana. “Você pode ficar. Mas com uma condição.”
Liana cruzou os braços, espelhando a postura dele. “Diga.”
“Você prova que não é uma ameaça. Ajude-nos a proteger este lugar. Se você está séria sobre encontrar um lugar para parar de fugir, então fará o necessário para mantê-lo seguro.”
Um lampejo de algo—talvez gratidão, talvez alívio—cruzou o rosto dela, embora ela rapidamente o mascarasse com sua expressão usualmente cautelosa. “Certo. Posso fazer isso.”
“Então está decidido,” respondeu Callan, sentindo a tensão aliviar de seus ombros, embora um resquício de dúvida ainda permanecesse. “Começamos amanhã.”
Liana assentiu, um leve sorriso rompendo suas defesas. “Estou ansiosa por isso.”
Mas quando ela se virou para sair, Callan percebeu um movimento nas árvores. Uma sombra—silenciosa, observando—antes de desaparecer na floresta.
Alguém estava ouvindo.
Sem dizer uma palavra, o olhar de Callan endureceu. A suspeita da matilha, que já estava fervendo, acabara de se tornar uma ameaça iminente.
Os olhos de Callan se estreitaram, seus sentidos se aguçando enquanto ele examinava as árvores. A sombra havia sumido, mas ele sabia muito bem como rumores podiam infectar uma matilha, como a suspeita podia envenenar a confiança mais rápido do que qualquer inimigo. Ele precisava agir rapidamente, manter o frágil equilíbrio que acabara de oferecer a Liana antes que alguém o destruísse.
Finn captou seu olhar, a boca se apertando em uma linha sombria. “Você acha que eles vão ouvir?”
“Eles terão que ouvir,” respondeu Callan, embora seu tom carregasse uma determinação nascida da experiência, não da esperança. “E se não ouvirem, terão que responder a mim.”
Liana, que estava a meio caminho de volta à clareira, parou e se virou. Ela inclinou a cabeça, os olhos brilhando com uma mistura de curiosidade e cautela. “Está tudo bem?” ela perguntou, embora houvesse um tom de conhecimento em sua voz, como se ela sentisse a tensão crescente ao redor de todos.
Callan hesitou, depois assentiu. “Por enquanto.”
“Por enquanto,” ela repetiu, cruzando os braços. “Acho que isso é o mais próximo de uma recepção que vou conseguir.”
“Você não está aqui para gentilezas,” respondeu Callan, seu olhar firme. “Você disse que ajudaria, então prove. Isso não é um jogo. Você entende isso, certo?”
Ela deu uma risada suave, sem humor, e por um momento, algo vulnerável passou por seu rosto, como uma velha ferida mal escondida sob a armadura. “Se fosse um jogo, eu teria parado de jogar há muito tempo.”
O peso de suas palavras pairou entre eles, carregado de histórias não ditas e cicatrizes. Callan quase quis perguntar, arrancar essas histórias dela e entender o que a trouxe até aqui. Mas ele se conteve. Não podia se dar ao luxo de baixar a guarda, não agora.
“Bom,” disse ele em vez disso. “Então começamos esta noite. Há uma rota de patrulha ao longo da fronteira norte que tem sido... instável.”
As sobrancelhas dela se ergueram, um toque de desafio cintilando em seus olhos. “Você acha que eu posso lidar com isso?”
“Acho que é melhor você conseguir.” Sua resposta foi afiada, mas não sem gentileza. Havia um teste em suas palavras, um convite para ela provar a si mesma. “Ou isso vai ser um problema?”
Ela se endireitou, levantando o queixo. “Eu posso lidar com isso.”
“Bom,” disse ele, um pequeno sorriso brincando em seus lábios, embora seus olhos permanecessem cautelosos. “Encontre-me ao anoitecer na velha torre de vigia.”
Liana assentiu, o olhar intenso, como se estivesse memorizando suas palavras. Então, sem dizer mais nada, ela se virou e seguiu de volta em direção à vila, desaparecendo no caminho sinuoso que levava ao anel externo de chalés. Callan a observou ir, mil perguntas não feitas girando em sua mente.
A floresta voltou a se aquietar, e ele se virou para Finn, que o estudava com aquele olhar familiar e escrutinador.
“Você tem certeza disso?” Finn perguntou, a voz baixa, mas carregada de preocupação.
“Não,” Callan respondeu, a voz tão firme quanto as árvores ao redor deles. “Mas não tenho certeza se temos outra escolha.”
O rosto de Finn suavizou, embora a preocupação permanecesse em seu olhar. “Se a matilha souber disso... se eles sequer suspeitarem que você está deixando uma forasteira entrar em nosso território...”
“Eles não saberão,” Callan interrompeu, seu tom não deixando espaço para discussão. “E se souberem, eu lidarei com isso. Já tivemos estranhos aqui antes.”
“Não como ela,” Finn respondeu, a voz mal mais que um sussurro. “Não em tempos como estes.”
Callan voltou-se para as árvores, um peso se instalando sobre ele enquanto considerava o peso das palavras de Finn. Ele sabia muito bem quão frágil era a paz dentro de Silver Hollow, quão facilmente poderia se despedaçar sob a pressão do medo e da suspeita. Mas algo lhe dizia que a presença de Liana não era o perigo que ele precisava vigiar.
Não, aquela sombra espreitando na floresta—aquele que tinha ouvido e escapado em silêncio—esse era a verdadeira ameaça. E ele pretendia encontrá-la.
“Mantenha os olhos abertos,” disse ele a Finn, a voz baixa e firme. “Qualquer um observando as patrulhas, qualquer um fazendo perguntas, eu quero saber.”
Finn assentiu, a expressão indecifrável, mas resoluta. “Eu vou vigiar. E se houver problemas...”
“Então lidaremos com isso.” O olhar de Callan endureceu, seu tom carregando a autoridade inflexível que mantinha sua matilha unida há anos. “O que for preciso.”
Com um último aceno, Finn se virou e seguiu de volta para o coração da vila, deixando Callan sozinho com o silêncio da floresta. Ele ficou ali por mais um momento, deixando a tensão da noite se assentar em seus ossos, ancorando-o.
Então, com um suspiro silencioso, ele deslizou de volta para as sombras, seguindo o mesmo caminho que Liana havia tomado.